ENTREVISTA DO PRESIDENTE VLADIMIR PUTIN AO CANAL TELEVISIVO CBS E PBS
Setembro 29, 2015
06:00
Novo-Ogaryovo, Moscow Region
Nota da Tradutora: A seguir menciono a fonte da única transcrição fidedigna. Tudo o que é mostrado nos sites americanos está deturpado, tendencioso e, por vezes, é incompreensível. Foi precisamente por encontrar incongruências e ter pedido a ajuda de um colega russo que vive na Ucrânia, para reproduzir o diálogo falado em russo, que cheguei ao site oficial, que o reproduz integralmente, sem manipular o texto a favor de ninguém.
CHARLIE ROSE: Quero agradecer ter-nos convidado para sua casa, numa ocasião que eu teria descrito como uma bela tarde de domingo russo. Vocês chamam-lhe Old Wives Summer (tradução literal =Verão das Esposas Idosas. Em Portugal chamamos Verão de S. Martinho)Faremos a nossa entrevista, que será transmitida no domingo. No dia seguinte, irá falar nas Nações Unidas num discurso muito esperado. Será a primeira vez que vai estar lá depois de alguns anos. O que vai dizer às Nações Unidas, à América e ao mundo?
VLADIMIR PUTIN: Visto que esta entrevista vai ser divulgada antes do meu discurso, penso não ser razoável entrar em muitos detalhes sobre o que vou falar, mas, em geral, irei mencionar certamente, alguns factos da História das Nações Unidas. Posso dizer-lhe que a decisão de criar as Nações Unidas foi tomada no nosso país, na Conferência de Yalta. Foi na União Soviética que esta decisão foi considerada. A União Soviética e a Rússia, na qualidade do Estado que sucedeu à União Soviética, é um estado membro fundador da Organização das Nações Unidas e um membro permanente do Conselho de Segurança.
Claro que vou ter de proferir algumas palavras sobre os dias de hoje, sobre a evolução da situação internacional, sobre o facto de que as Nações Unidas continuam a ser a única organização internacional universal, elaborada para manter a paz global. E, nesse sentido, hoje não há outra alternativa. Também é evidente que deve adaptar-se a um mundo em constante mudança, que discutimos sempre: como deve evoluir e a que cadência, que componentes devem ser submetidos a mudanças qualitativas. Certamente, terei de utilizar ou melhor dizendo, devo utilizar esta plataforma internacional para explicar a visão da Rússia sobre as relações internacionais de hoje, bem como o futuro desta Organização e da comunidade global.
CHARLIE ROSE: Esperamos que fale sobre a ameaça do Estado Islâmico e da vossa presença na Síria, que está relacionada com essa mesma ameaça. Qual é o propósito da vossa presença na Síria e como se relaciona com o desafio do ISIS?
VLADIMIR PUTIN: Creio, tenho quase a certeza de que, praticamente, todos os que discursarem nas Nações Unidas vão falar sobre a luta, sobre a necessidade de combater o terrorismo e também não posso evitar esse problema. É bastante compreensível, porque é uma advertência grave e um desafio para todos nós. Hoje, o terrorismo ameaça um grande número de estados, um grande número de pessoas - centenas de milhares, milhões de pessoas sofrem devido à actividade criminosa do ISIS. E todos enfrentamos a tarefa de unir os nossos esforços na luta contra este mal comum.
Como diz, no que respeita à nossa presença na Síria, a partir de hoje assumiu a forma de fornecimento de armas ao governo sírio, treino de pessoal e ajuda humanitária ao povo sírio. Agimos em harmonia com a Carta das Nações Unidas, ou seja, em conformidade com os princípios fundamentais do Direito Internacional moderno, segundo os quais, este ou aquele tipo de ajuda, incluindo a assistência militar, pode e deve ser fornecida exclusivamente ao governo legítimo de um ou de outro país, mediante o seu consentimento ou pedido e de acordo com a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Neste caso particular, intervimos, baseados no pedido do governo sírio para prestarmos assistência militar e técnica, o que fazemos ao abrigo de contratos internacionais completamente legítimos.
CHARLIE ROSE: O Secretário de Estado John Kerry disse que os Estados Unidos se congratulam com vossa ajuda na luta contra o Estado islâmico. Outros tomaram conhecimento do facto de que são aviões de combate e sistemas MANPAD que estão a ser usados contra o exército convencional e não contra os extremistas.
VLADIMIR PUTIN: Há apenas um exército regular na Síria. É o exército do Presidente sírio al-Assad. E ele está a ser confrontado com o que alguns dos nossos parceiros internacionais interpretam como a existência de uma oposição. Na realidade, o exército de al-Assad está a lutar contra organizações terroristas. Deve saber melhor do que eu sobre as audiências, que acabaram de ter lugar no Senado dos Estados Unidos, onde, se não me engano, os representantes militares e do Pentágono, informaram os senadores sobre o que os Estados Unidos tinham feito para treinar as forças de combate da oposição. O objectivo inicial era treinar entre 5.000 a 6.000 combatentes e, em seguida mais, 12.000. Acontece que apenas 60 destes combatentes foram devidamente treinados e apenas 4 ou 5 pessoas, na verdade, usam as armas, visto que os restantes desertaram, levando o armamento e juntando-se ao ISIS. Esse é o primeiro ponto.
Em segundo lugar, na minha opinião, a prestação de apoio militar a estruturas ilegais é contrária aos princípios do Direito Internacional moderno e à Carta das Nações Unidas. Temos vindo a prestar assistência às únicas entidades governamentais legítimas.
Neste contexto, propusemos aos países da região para cooperarem e estamos a tentar estabelecer algum tipo de estrutura de coordenação. Informei, pessoalmente, o presidente da Turquia, o rei da Jordânia, bem como a Arábia Saudita; informamos também os Estados Unidos e o Snr. Kerry, que você mencionou, teve uma conversa profunda com o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, sobre este assunto; além disso, os nossos militares estiverem em contacto e discutiram este assunto. Gostaríamos de dar as boas vindas a uma plataforma comum para estabelecer uma acção colectiva contra os terroristas.
CHARLIE ROSE: Está pronto para unir forças com os Estados Unidos contra o ISIS e é, por essa razão, que está na Síria? Outros acreditam que pode fazer parte do seu objectivo, que está a tentar salvar a administração do presidente al-Assad, porque têm estado a perder terreno e a guerra não correu bem para eles e você está lá para resgatá-los.
VLADIMIR PUTIN: Está correcto, é assim que é. Como já disse duas vezes durante esta entrevista e posso repetir novamente, prestamos assistência às autoridades sírias legítimas. Além disso, acredito firmemente que, se agíssemos de outra forma, se trabalhássemos para destruir os corpos legítimos do poder, iríamos criar uma situação que estamos hoje a testemunhar noutros países da região ou noutras regiões do mundo, por exemplo, na Líbia, onde todas instituições do Estado estão completamente desintegradas.
Infelizmente, estamos a assistir a uma situação semelhante no Iraque. Não há outra maneira de resolver o conflito sírio, senão reforçar as autoridades governamentais legítimas existentes, apoiá-las na sua luta contra o terrorismo e, claro, ao mesmo tempo incentivá-las a iniciar um diálogo positivo com a parte "saudável" da oposição e iniciar transformações políticas.
CHARLIE ROSE: Como sabe, alguns parceiros de coaligação querem que al-Assad se retire, para que eles possam apoiar o governo.
VLADIMIR PUTIN: Gostaria de aconselhar ou recomendar-lhes para transmitirem essa sugestão não ao próprio al-Assad, mas sim ao povo sírio. Cabe apenas ao povo sírio, que vive na Síria, determinar quem deve governar o seu país, como e de acordo com que princípios. Qualquer conselho externo desse tipo seria absolutamente inadequado, prejudicial e contra a lei internacional.
CHARLIE ROSE: Já discutimos isso antes, mas pensa que o Presidente al-Assad, que você apoia ... Aprova o que ele está a fazer na Síria e o que está a acontecer aos sírios, aos milhões de refugiados, às centenas de milhares de pessoas que foram mortas - pelas suas próprias forças armadas?
VLADIMIR PUTIN: E você pensa que os que apoiam a oposição armada, estão a fazer a coisa certa, principalmente, as organizações terroristas apenas com o intuito de derrubar al-Assad sem pensar no que aguarda o país após a destruição completa das instituições e do Estado?
Já testemunhamos esse reultado antes, já mencionei Líbia. Não foi há muito tempo. Os Estados Unidos contribuíram activamente para a destruição dessas instituições estatais. Se eram boas ou más, isso é outra questão. Mas foram destruídas e os Estados Unidos sofreram graves perdas depois, incluindo a morte do seu embaixador. Compreende a que é que isso leva? É precisamente, por essa razão, que prestamos assistência aos órgãos governamentais legítimos, mas - gostaria de salientar novamente - vamos fazê-lo na esperança de que a Síria dê início às transformações políticas necessárias ao povo sírio.
Continuadamente e com perseverança, à falta de melhor expressão, você menciona a luta do exército sírio contra o seu próprio povo. Mas observe os que controlam 60 por cento do território sírio. Onde é que está a oposição civilizada? 60 (sessenta) por cento da Síria é controlada pelo ISIS, pelo Jabhat al-Nusra ou por outras organizações terroristas, as mesmas que foram reconhecidas como organizações terroristas pelos Estados Unidos, bem como por outros países e pela ONU. São elas e mais ninguém, que tem o controlo de 60 por cento do território sírio.
CHARLIE ROSE: Está preocupado com o que pode acontecer depois de al-Assad. Está preocupado com a anarquia e segue com atenção a ameaça do ISIS. São diferentes? São únicos como organização terrorista?
VLADIMIR PUTIN: Tornou-se única porque está a tornar-se global. Estabeleceram um objectivo, que é o de criar um califado no território que se estende desde Portugal até ao Paquistão. Já estão a reivindicar locais islâmicos sagrados como Meca e Medina. As suas acções e actividades estendem-se muito para além das fronteiras dos territórios sob o seu controlo.
Quanto aos refugiados, a Síria não é o único país onde eles têm origem. Quem está a fugir da Líbia? Quem está a fugir dos países da África Central, onde os islamistas estão no comando hoje em dia? Quem está a fugir do Afeganistão e do Iraque? Será que os refugiados chegam apenas da Síria?
Por que motivo pensa que os refugiados sírios fogem apenas, devido ao resultado das acções do Presidente al-Assad para proteger o seu país? Por que razão não considera que os refugiados fujam das atrocidades dos terroristas, do ISIS, que corta as cabeças às pessoas, que as queima vivas, que as afoga vivas e que destrói monumentos culturais?
As pessoas também fogem deles, sobretudo, fogem deles. E da guerra - isso é claro. Mas não haveria guerra, se esses grupos terroristas não fossem abastecidos de armas e dinheiro a partir do exterior.
Parece-me que alguém quer usar certas unidades do ISIS ou o ISIS em geral, a fim de derrubar al-Assad e só então pensarão sobre a melhor maneira de se livrar do ISIS. Esta tarefa é difícil e, na minha opinião, é praticamente impossível.
CHARLIE ROSE: Receia que eles possam vir para a Rússia? Teme que, se o afluxo de refugiados não parar agora, possam chegar à Rússia, através da Europa ou até mesmo chegar aos Estados Unidos e, por isso, é que tem de avançar, porque ninguém mais está a fazer o que é necessário para travar e derrotar o ISIS?
VLADIMIR PUTIN: Na verdade, poucos participantes tomam medidas sérias para combater esta ameaça. Poucos tomam medidas eficientes e bem ponderadas. Inteiramo-nos da eficiência das acções dos nossos parceiros americanos, através do relatório do Pentágono, no Senado dos EUA. Para dizer a verdade, a sua competência é baixa. Sabe, não vou falar com ironia sobre este assunto ou acusar ninguém. Propomos cooperar, aconselhamos unir esforços.
Temos receio ou não temos? Não temos nada a temer. Estamos no nosso país e estamos a controlar a situação. Mas fomos submetidos a um caminho muito difícil para combater o terrorismo, o terrorismo internacional, no Cáucaso do Norte. Esse é o ponto número um.
Ponto número dois, é que sabemos com certeza que hoje existem pelo menos 2.000 ou mais de 2.000 militantes na Síria que são da Rússia ou de outras repúblicas soviéticas antigas e, claro, há a ameaça do seu regresso à Rússia. Por essa razão, é melhor ajudar al-Assad a acabar com eles lá do que esperar que eles regressem à Rússia.
CHARLIE ROSE: Sim, mas você diz que entrou em cena, porque pensa que o trabalho não estava a ser bem feito e escutou o que está a acontecer no Senado americano, atentou nos resultados e disse que a Rússia devia agir.
VLADIMIR PUTIN: Já estamos a agir e sempre funcionamos dessa forma. Temos cooperado com muitos países e continuamos a colaborar, inclusivé com os Estados Unidos. Estamos constantemente a enviar para os nossos colegas, através dos canais de serviços especiais, a informação que é necessária para as forças especiais americanas, a fim de dar o nosso contributo para garantir a estabilidade e a segurança, incluindo a integridade dos cidadãos americanos, tanto nos Estados Unidos como para além do seu território. Mas penso que hoje, este nível de coordenação é insuficiente; precisamos de trabalhar mais intimamente uns com os outros.
CHARLIE ROSE: De acordo com a sua opinião, qual é a estratégia que está a recomendar, a não ser apoiar o regime de al-Assad?
VLADIMIR PUTIN: Já disse, devemos ajudar o exército do Presidente al-Assad. E não há mais ninguém no terreno a lutar contra o ISIS, a não ser o exército do Presidente al-Assad. Portanto, quero que você e o seu público, percebam finalmente, que ninguém, excepto o exército de al-Assad está a combater o ISIS ou outras organizações terroristas na Síria, ninguém mais está a defrontá-los em território sírio. Os ataques aéreos de menor importância, incluindo os dos aviões dos Estados Unidos, não resolvem o problema na sua essência; na verdade, não o resolvem de maneira nenhuma. O trabalho deve ser realizado no local depois dessas ataques e deve ser rigorosamente coordenado. Precisamos compreender que ataques é que são necessários, onde precisamos atacar e quem irá avançar no terreno após esses ataques. Na Síria, não há nenhuma outra força, senão o exército de al-Assad.
CHARLIE ROSE: Será que a Rússia enviaría as suas tropas de combate para a Síria, se for necessário derrotar o ISIS?
VLADIMIR PUTIN: A Rússia não vai participar em quaisquer operações no terreno, no território da Síria ou noutros estados; pelo menos, não planeamos fazê-lo, por agora. Mas estamos a pensar em intensificar o nosso trabalho, tanto com o presidente al-Assad, como com os nossos parceiros de outros países.
CHARLIE ROSE: O que é que quer dizer com isso?
VLADIMIR PUTIN: Significa que as nossas forças armadas não vão participar directamente nas hostilidades e não vão combater. Vamos apoiar o exército de al-Assad ...
CHARLIE ROSE: Quer significar que vai apoiar com ataques aéreos?
VLADIMIR PUTIN: Quero referir guerra, operações de combate no território, unidades motorizadas e de infantaria.
CHARLIE ROSE: Que mais será necessário? Como voltamos ao problema de muitas pessoas considerarem que al-Assad está a ajudar o ISIS, é uma atitude terrível em relação ao povo sírio, ao uso de bombas de barril e a outras acções que estão a ajudar o ISIS. Se al-Assad for removido, o período de transição poderia ser melhor, até certo ponto, para o objectivo de combater o ISIS.
VLADIMIR PUTIN: Na linguagem dos serviços secretos, posso dizer que essa avaliação é um acto flagrante dos inimigos al-Assad. É propaganda anti-síria, não há nada em comum entre al-Assad e o ISIS, eles lutam uns contra os outros. E repito mais uma vez que o Presidente al-Assad e o seu exército, são a única força que realmente luta contra o ISIS.
CHARLIE ROSE: Mas houve relatos anteriores a dizer que se estava a preparar para lhes dar apoio e que o que queria ver era uma transição política negociada.
VLADIMIR PUTIN: Pensamos que as questões de natureza política devem ser resolvidas em qualquer país, inclusive na Síria, principalmente pelo seu povo - neste caso, pelo próprio povo sírio. Mas estamos prontos para prestar assistência, tanto às autoridades sírias como à oposição saudável, para encontrarem alguns pontos de contacto e chegar a um acordo sobre o futuro político do seu país. É com este objectivo que temos organizado uma série de reuniões entre os representantes da oposição e do governo de al-Assad, em Moscovo. Participámos na Conferência de Genebra, sobre este assunto. Estamos prontos para continuar a trabalhar nesse sentido, pressionando as partes, as autoridades oficiais e os líderes da oposição, para concordarem uns com os outros, exclusivamente através de meios pacíficos.
CHARLIE ROSE: O Washington Post escreveu hoje: "Na ausência da liderança americana, o Presidente russo, Vladimir Putin, avançou e enviou tropas e equipamentos para a Síria, num esforço para forçar o mundo a aceitar a sua solução para a guerra, que é a criação de uma nova coligação para lutar contra o Estado Islâmico que inclua o governo de Assad ". É interessante que eles digam que você avançou devido ao vazio da liderança americana. Isto é o que The Washington Post escreve.
VLADIMIR PUTIN: Não estamos a avançar devido à ausência da liderança americana, estamos a tentar impedir a criação de um vazio de poder na Síria, em geral, porque, logo que são são destruídas as autoridades de um governo, num Estado e num país, instala-se um vazio de poder e esse mesmo vazio é rapidamente preenchido pelos terroristas. Foi o que aconteceu na Líbia e no Iraque; foi este caso que ocorreu noutros países. O mesmo está a acontecer na Somália e verificou-se o mesmo no Afeganistão. E não está em jogo desafiar a liderança americana.
CHARLIE ROSE: Bem, um vazio é um problema. Parece que está um pouco irritado com um ponto: está a dizer que o ADN da Rússia, é um governo forte e centralizado e tem um receio enorme que não haja um governo forte na Síria e noutros países, que haja alguma espécie de anarquia.
VLADIMIR PUTIN: Não estou a dizer que não há um governo forte na Síria. Quero dizer que, se não houver nenhum governo, haverá anarquia e um vazio, e que esse vazio e essa anarquia iriam evoluir rapidamente em terrorismo.
Por exemplo, no Iraque, havia uma pessoa famosa, Saddam Hussein, que era bom ou mau. Foi numa certa fase (que pode ter esquecido, não é verdade?) e os Estados Unidos colaboraramm activamente com Saddam quando ele estava em guerra com o Irão: foram fornecidas armas, apoio diplomático e político, etc. A seguir, por algum motivo os EUA afastaram-se dele e decidiram eliminá-lo. Mas quando Saddam Hussein foi descartado, a soberania do Iraque e milhares de pessoas do antigo partido Baath, também foram excluídas. Milhares de soldados do Iraque, que faziam parte da elite sunita do Estado, viram-se atirados para a rua. Ninguém pensou neles e hoje esses mesmos soldados estão integrados no exército do ISIS. É contra esse facto que nos opomos.
Não somos contra um país que exerce qualquer tipo de liderança, em qualquer parte, somos contra acções impensadas que conduzem a essas situações negativas que são difíceis de corrigir.
CHARLIE ROSE: Como sabe, Soleimani, o Representante Geral do Irão, visitou Moscovo recentemente. Que papel é que ele, bem como as forças curdas desempenham na Síria? E o que precisa ser feito a este respeito?
VLADIMIR PUTIN: Como já disse, penso que todos os países da região devem unir esforços na luta contra uma ameaça comum - o terrorismo em geral e o ISIS em particular. Também diz respeito ao Irão, à Arábia Saudita (embora os dois países não se dêem muito bem, o ISIS ameaça ambos), ao Jordão, à Turquia (apesar de certos problemas relativos à questão curda), e, em minha opinião, todos estão interessados em resolver a situação. A nossa tarefa é organizar esses esforços para lutar contra um inimigo comum.
CHARLIE ROSE: Esta formulação é muito ampla, entre outras coisas. Pode manifestar os novos esforços da Rússia para assumir o papel de liderança no Médio Oriente e pode refectir a sua nova estratégia. É realmente uma táctica nova?
VLADIMIR PUTIN: Não, já mencionamos a razão por que apoiamos o governo de al-Assad e pensamos sobre as perspectivas da situação na região.
Já o referi, você perguntou e eu respondi. Há mais de 2.000 militantes na Síria da antiga União Soviética. Então, em vez de esperamos que eles regressem, devemos ajudar o Presidente al-Assad a combatê-los na Síria. Este é o principal incentivo que nos motiva a ajudar o Presidente al-Assad.
De um modo geral, é obvio que não queremos que a situação se torne semelhante à da região da Somália, não queremos ter novas Somálias lá, porque está tudo nas imediações das nossas fronteiras; queremos desenvolver relações normais com estes países. Temos estado tradicionalmente e quero enfatizar a palavra tradicionalmente, em termos muito amistosos com o Médio Oriente. Esperamos continuar desta forma, no futuro.
CHARLIE ROSE: Está orgulhoso da Rússia, o que significa que deseja que a Rússia desempenhe um papel mais importante no mundo. É apenas um dos exemplos.
VLADIMIR PUTIN: Não é um fim em si mesmo. Estou orgulhoso da Rússia e tenho a certeza que a maioria dos cidadãos russos têm um grande amor e respeito pela sua Pátria. Temos muito do que nos orgulhar: a cultura e a História da Rússia. Temos todas as razões para acreditar no futuro do nosso país. Mas não temos a obsessão de que a Rússia seja uma super potência na comunidade internacional. A única coisa que fazemos é proteger os nossos interesses vitais.
CHARLIE ROSE: Mas é uma grande potência devido às armas nucleares que possui. São uma força a ser reconhecida.
VLADIMIR PUTIN: Espero que sim (risos). Caso contrário, para que são essas armas? Partimos do pressuposto de que as armas nucleares e outras armas, são meios para proteger a nossa soberania e os nossos legítimos interesses. Não são meios para nos comportarmos de forma agressiva ou para cumprir algumas ambições imperiais inexistentes.
CHARLIE ROSE: Quando estiver em Nova York,vai solicitar uma reunião com o presidente Obama?
VLADIMIR PUTIN: A reuniões deste tipo são organizadas com antecedência. Sei que durante estes acontecimentos cada segundo e muito menos os minutos, do dia do presidente Obama estão programados. Há muitas delegações de todo o mundo, por isso ...
CHARLIE ROSE: Pensa que ele não terá um minuto disponível para se reunir com o Presidente da Rússia?
VLADIMIR PUTIN: Bem, ele é que terá de decidir. Estamos sempre abertos a contactos de qualquer tipo: ao mais alto nível, ao nível dos ministérios e dos departamentos governamentais, ao nível dos serviços especiais, se for necessário. Mas ficaria lisonjeado se o presidente Obama tivesse alguns minutos para uma reunião e claro que depois, apreciaria essa reunião. Se por algum motivo, não lhe for possível, não importa. Teremos oportunidade de falar durante a Cimeira do G20, ou noutros eventos.
CHARLIE ROSE: Sabe, se gostasse de ver o Presidente, poderia dizer: "Tenho um plano para a Síria, vamos trabalhar juntos. Vamos ver o que podemos fazer. Não vamos trabalhar juntos apenas sobre a Síria, vamos ver o que podemos fazer sobre outros assuntos."
VLADIMIR PUTIN: De facto são questões difíceis; podem ser finalizadas apenas a nível superior entre os Presidentes, mas antes destes preparativos, há necessidade de haver consultas preliminares entre os Ministros dos Negócios Estrangeiros, os Ministros de Defesa e os serviços especiais. O que significa muito trabalho e se essa tarefa estiver pronta para ser concluída, então faz sentido que nos reunamos e que o completemos. Se os nossos colegas ainda não chegaram à etapa final, o Presidente Obama e eu, podemos reunir-nos, dar um aperto de mão e discutir assuntos actuais, nós - e eu pessoalmente - estamos sempre preparados para tais contactos.
CHARLIE ROSE: Mas estamos a falar de liderança e se vai lá para fazer um grande discurso, deseja que o Presidente dos Estados Unidos esteja totalmente disposto a apoiá-lo, tanto quanto possa. Logo que pegar no telefone, ligar-lhe e disser ... O mesmo que fez depois da nossa conversa em São Petersburgo, em que ligou ao Presidente. Você disse: "Vamos ter a certeza de que nos reunimos e discutimos alguns assuntos. As questões que são muito críticas e dois podem fazer melhor do que, apenas, um de nós ".
VLADIMIR PUTIN: Sim, fiz isso, liguei ao Presidente Obama e o Presidente Obama telefonou-me sobre vários assuntos. Faz parte dos nossos contactos regulares, não há nada de anormal ou de extraordinário nisso. Deixe-me repetir mais uma vez: de um modo geral, as reuniões pessoais são preparadas pelas nossas equipas. Digo-lhe, pela terceira vez que estamos prontos, mas não nos cabe decidir. Se os americanos quiserem reunir-se connosco, fá-lo-emos.
CHARLIE ROSE: A sua necessidade de estar preparado não é nenhuma, porque lida com estas questões todos os dias. Não precisa de nenhuma preparação para ver o Presidente dos Estados Unidos, e ele também não. O que está a sugerir é uma insignificância diplomática. Mas estou a escutá-lo; está preparado para se encontrar com ele.
VLADIMIR PUTIN: Há quanto tempo é jornalista?
CHARLIE ROSE: Há mais anos do que quero recordar.
VLADIMIR PUTIN: É difícil para mim aconselhá-lo sobre o que está preparado ou não está. Por que pensa que me pode aconselhar sobre se estou ou não capacitado, porque este não é o meu primeiro mandato como presidente? Mas este ponto não é o mais importante. O que é mais importante é que a Rússia - o Presidente da Rússia, o seu Governo e todos os meus colegas – estamos todos habilitados para ter estes contactos ao mais alto nível, ao nível dos governos, dos ministérios e dos departamentos governamentais. Estamos qualificados para ir tão longe quanto os nossos parceiros americanos. Secundariamente, a plataforma da ONU foi criada precisamente com esta finalidade, para conseguir um compromisso, para cada país comunicar um com o outro. Portanto, vai ser óptimo, se usarmos esta plataforma.
CHARLIE ROSE: O que pensa do Presidente Obama? Como avalia o seu desempenho?
VLADIMIR PUTIN: Não considero ter o direito de avaliar o Presidente dos Estados Unidos. Isso diz respeito ao povo americano. Temos um bom relacionamento pessoal com o Presidente Obama, as nossas relações são bastante francas, sistemáticas e práticas. E isso é o bastante para fazermos o nosso trabalho.
CHARLIE ROSE: Você presume que as actividades dele em assuntos externos reflectem uma fraqueza?
VLADIMIR PUTIN: Por quê? Não penso assim, de maneira nenhuma. O cerne da questão é que em qualquer país, incluindo nos Estados Unidos - talvez nos Estados Unidos ainda mais do que em qualquer outro país - a política externa é usada para a luta da política interna. Em breve começará nos Estados Unidos uma campanha eleitoral. Eles jogam sempre a cartada russa ou qualquer outra, os opositores políticos levantam acusações contra o actual Chefe de Estado e aqui há muitas frentes de ataque, incluindo acusações de incompetência, fraqueza ou qualquer outra coisa. Não penso assim e não vou imiscuir-me nas disputas políticas internas da América.
CHARLIE ROSE: Deixe fazer-lhe uma pergunta: Pensa que ele o escuta?
VLADIMIR PUTIN: Creio que nos escutamos mutuamente, quando não há contradição das nossas idéias sobre o que devemos ou não devemos fazer. Mas, em qualquer caso, há diálogo e escutamo-nos um ao outro.
CHARLIE ROSE: Você disse que a Rússia não é uma super potência. Supõe que ele considera a Rússia uma nação igual? Que o considera a si um igual? Que essa é a maneira como gostaria de ser tratado?
VLADIMIR PUTIN: (Rindo) Pergunte-lhe, ele é o seu presidente! Como posso saber o que ele pensa? Repito, temos relações interpessoais par-a-par, respeitamo-nos mutuamente e, em qualquer caso, temos contactos de negociações a um nível de trabalho bastante bom. E o que pensa o Presidente norte-americano, o Presidente francês, a Chanceler alemã, o Primeiro Ministro japonês ou o Chefe do Conselho de Estado ou o Presidente chinês, como é que sei?
Não julgamos pelo que nos parece, mas pelo que as pessoas fazem.
CHARLIE ROSE: Claro. Aprecia o seu trabalho, gosta de representar a Rússia e sei que foi um agente dos serviços secretos. Os agentes dos serviços secretos sabem ler as outras pessoas; faz parte do seu trabalho, não é assim?
VLADIMIR PUTIN: Era a minha profissão. Agora tenho uma actividade diferente já há algum tempo.
.
CHARLIE ROSE: Alguém, na Russia, disse-me: “Não existe um antigo agente da KGB. Uma vez que seja um agente da KGB, será sempre um agente da KGB.”
VLADIMIR PUTIN: Sabe, todas as fases da sua vida tem um impacto em você. Tudo o que fazemos, todo o conhecimento e experiência adquirida, ficam connosco e usamo-los de uma forma ou de outra. Nesse sentido, sim, você está correcto.
CHARLIE ROSE: Uma vez, alguém da CIA disse-me que o treino que tem é importante, que também aprende a ser apreciado. Porque você tem de cativar as pessoas, tem de seduzí-las.
VLADIMIR PUTIN: Bem, se a CIA disse isso, então deve ser verdade. Eles são especialistas nesse assunto. (Rindo)
CHARLIE ROSE: Entretanto,pense em voz alta para mim, porque é importante. Como é que os Estados Unidos e a Rússia podem cooperar no interesse de um mundo melhor? Pense em voz alta.
VLADIMIR PUTIN: Estamos sempre a pensar nisso. Hoje, um dos nossos objectivos, uma das áreas da nossa cooperação que é extremamente importante para muitas pessoas, para milhões de pessoas no nosso planeta – é juntar esforços na luta contra o terrorismo e contra outros desafios semelhantes: conter o tráfico de drogas, a proliferação de armamento de destruição maciça, a luta contra a fome, a preservação do meio ambiente e da biodiversidade, fazer esforços para tornar o mundo mais previsível, mais estável. E finalmente, a Rússia...
CHARLIE ROSE: Estável onde?
VLADIMIR PUTIN: Em toda a parte, em todas as regiões do mundo. Pois, como você mesmo disse, a Rússia e os Estados Unidos são as maiores potências nucleares. Isso dá-nos uma responsabilidade acrescida muito especial. A propósito, conseguimos trabalhar juntos em certos campos, particularmente ao resolver o assunto do programa nuclear iraniano. Empenhamo-nos conjuntamente e alcançamos resultados positivos na totalidade.
CHARLIE ROSE: Como é que funcionou? O Presidente Obama agradeceu várias vezes a ajuda que deu para alcançar o acordo final. O que fez? De que modo contribuiram os seus diplomatas? E o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov?
VLADIMIR PUTIN: Bem, por mais estranho que pareça, por vezes, os interesses dos Estados Unidos e da Rússia coincidem. E, neste caso, quando referi que temos uma responsabilidade especial sobre a não-proliferação de armas de destruição maciça nesta área, claro que os nossos interesses coincidem. Por isso, é que, juntamente com os Estados Unidos, trabalhamos dura e intensivamente para resolver este problema. Mas a Rússia foi orientada não só por estas considerações, mas também pelo facto do Irão ser nosso vizinho, nosso parceiro tradicional e queremos que a situação fique normalizada. Acreditamos que este acordo irá melhorar a situação da segurança no Médio Oriente. A este respeito, a nossa avaliação do programa nuclear do Irão coincide, praticamente, com a avaliação feita pelos nossos colegas americanos.
CHARLIE ROSE: Como sabe, provavelmente, os republicanos irão ganhar as eleições. Há um grande debate a respeito do acordo nuclear do Irão. O que lhes diria?
VLADIMIR PUTIN: Já o referi antes. Se quer que o repita, fá-lo-ei. Estou confiante que o acordo que conseguimos vai de encontro aos interesses da segurança internacional e fortalece a situação na região. Coloca sérios entraves à proliferação de armas nucleares, porque a situação está sobre pleno controlo da AIEA e melhora a situação no Médio Oriente em geral, pois permite construir relações de negócios, de parcerias comerciais e políticas normais, com todos os países da região.
CHARLIE ROSE: O índice de popularidade que tem na Rússia fará com que qualquer político do mundo o inveje. Por que é que é tão popular?
VLADIMIR PUTIN: Há algo que une a mim e a todos os cidadãos da Rússia - o amor à nossa Pátria.
CHARLIE ROSE: Foi um momento de emoção, na ocasião do dia da Recordação da Segunda Guerra Mundial devido aos sacrifícios que a Rússia fez. E você estava com uma foto do seu pai e com lágrimas nos olhos.
VLADIMIR PUTIN: Sim, a minha família e todos os meus parentes sofreram graves perdas durante a Segunda Guerra Mundial. É verdade. Na família de meu pai, havia cinco irmãos e quatro deles morreram. Do lado da minha mãe a situação é praticamente a mesma. De um modo geral, a Rússia sofreu grandes perdas. E, sem dúvida, não podemos nem devemos esquecê-los. Não para culpar nínguém, mas para assegurar que algo semelhante não aconteça, de novo, no futuro. De facto, tratamos os veteranos com muito respeito e incluímos os veteranos americanos. Estiveram presentes no Dia da Parada da Vitória, em 9 de Maio deste ano. Recordamos os sacrifícios feitos por outros países aliados como a Grã-Bretanha e a China. Nós recordamo-los. Acredito que é a nossa memória positiva comum. A nossa luta conjunta contra o nazismo será uma boa base para superar os desafios que enfrentamos hoje.
CHARLIE ROSE: É isso o que você deseja reavivar, um sentido de parceria com a América contra inimigos comuns?
VLADIMIR PUTIN: Bem, não contra inimigos comuns, mas com interesses mútuos.
CHARLIE ROSE: Tanto quanto sabemos, você é muito popular, mas desculpe, há muitas pessoas que são muito críticas em relação à Rússia, como sabe. Dizem que é mais autocrática e menos democrática. Dizem que houve opositores políticos e jornalistas que foram mortos e presos na Rússia. Dizem que o seu poder não pode ser contestado e que o poder e o poder absoluto corrompem completamente. O que diria a essas pessoas que se preocupam com o clima político, com a atmosfera política da Rússia?
VLADIMIR PUTIN: Bem, não pode haver democracia sem cumprir a lei. E todos devem cumprí-la. É o princípio mais fundamental e importante que devemos ter em mente.
Quanto a esses acontecimentos trágicos, como perdas de vida, incluindo a vida de journalistas, infelizmente, ocorrem em todos os países do mundo. Mas se acontecer na Rússia, faremos o máximo para encontrar os criminosos, identificá-los e puní-los. Trabalharemos nesses assuntos da mesma maneira. Mas o mais importante é que continuemos a melhorar o nosso sistema político para que as pessoas e todos os cidadãos sintam que podem influenciar a vida do Estado e da sociedade, que podem influenciar as autoridades e que essas mesmas autoridades estejam conscientes das suas responsabilidades perante as pessoas que confiaram nelas durante as campanhas eleitorais.
CHARLIE ROSE: Se você, na qualidade de líder deste país, insistir para que a Lei seja respeitada, para que a justiça seja feita, se devido ao seu poder o fizer, então poderá ser bem sucedido a eliminar essa percepção.
VLADIMIR PUTIN: De facto, muito pode ainda ser feito, mas nem todos alcançam um êxito imediato em tudo.Quanto tempo demorou o processo democrático a desenvolver-se nos Estados Unidos desde que foi fundado? Você crê que, actualmente, tudo está estabelecido nos Estados Unidos? Se fosse assim, não haveria nenhum problema em Ferguson, certo? Não haveria outros problemas de natureza semelhante. Não haveria abuso da parte da polícia. Mas o nosso objectivo é ver todos esses problemas e reagir adequadamente, na ocasião apropriada. O mesmo aplica-se à Rússia – Também temos muitos problemas.
CHARLIE ROSE: Então as pessoas que mataram Nemtsov serão perseguidas ao máximo?
VLADIMIR PUTIN: Eu disse imediatamente que é um capítulo vergonhoso da nossa História Contemporânea e que os criminosos têm de ser encontrados, identificados e punidos. Provavelmente não pode ser feito num segundo. E apesar desta investigação ter demorado muito tempo, finalmente vai ser concluída.
CHARLIE ROSE: Você sabe que eu admiro muito a Rússia, a cultura, a literatura e a música da Rússia. É um país muito extenso, um país enorme. Muitas pessoas, incluindo Stalin, disseram que a Rússia precisa de uma figura de autoridade forte. Eles veneram o que Stalin disse sobre esse tipo de figura. Stalin estava certo?
VLADIMIR PUTIN: Não, não me recordo que ele o tenha dito, por isso não posso confirmar essa citação. A Rússia, como qualquer outro país não precisa de ditadores, mas precisa de princípios equitativos para organizar o Estado e a sociedade: princípios justos, eficientes e flexíveis para responder às mudanças dentro e fora do país – isso é o que a Rússia necessita.
CHARLIE ROSE: Mas neste país, há uma tradição de liderança forte.
VLADIMIR PUTIN: Veja, há uma democracia parlamentar na maioria dos países europeus. Há também uma democracia parlamentar no Japão e noutros países, mas nos Estados Unidos, por alguma razão, o Estado é organizado de maneira diferente. Há uma república presidencial muito rígida. Cada país tem características próprias e especiais, tem tradições que se reflectem hoje e irão reflectir-se no futuro. Também temos essas tradições na Rússia, mas não é uma questão de uma figura forte, embora uma personalidade forte seja necessária na liderança, mas é uma questão de ver o que está implícito nesse termo. É uma coisa, se for uma pessoa com tendências ditatoriais. Mas, é um assunto completamente diferente, se for um líder justo, que aje dentro da lei e nos interesses da vasta maioria da sociedade, que actua com coerência e é guiado por princípios.
CHARLIE ROSE: Como sabe, alguns apelidaram-no de czar.
VLADIMIR PUTIN: Bem, e daí? Você sabe, chamam-me nomes diferentes, sabe o que eles dizem na Rússia...
CHARLIE ROSE: Bem, esse nome ajusta-se a si?
VLADIMIR PUTIN: Não, não se encaixa. Sabe o que dizem na Rússia? ’Palavras abusivas não causam dano físico a ninguém’.
Não é importante o que os seus simpatizantes, amigos ou adversários políticos lhe chamam. O que é importante é o que pensa que deve fazer pelos interesses do país que lhe confiou tal posição, tal cargo como Chefe de Estado russo.
CHARLIE ROSE: Há pessoas na Rússia que têm medo de si?
VLADIMIR PUTIN: Penso que não.
CHARLIE ROSE: Fim da Parte 1 da minha entrevista de duas partes com o presidente Putin, da Rússia.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.