Documentos revelam programas clandestinos de apoio a forças anti-comunistas na instablidade após o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974.
Os Estados Unidos prepararam um programa de apoio militar clandestino a sectores anti-comunistas do exército e outras forças em Portugal quando este país se encontrava à beira da guerra civil em 1975, na sequência do golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, revelam documentos agora tornados públicos pelo Departamento de Estado americano.
Transcrições de reuniões, memorandos e propostas de acção ao mais alto nível do Governo americano tornam claro que o major Melo Antunes, um dos dirigentes da facção moderada das Forças Armadas portuguesas conhecida então por “Grupo dos Nove”, estava ciente do plano, tendo estabelecido um canal de comunicação “privado” com os Estados Unidos pouco antes de 25 de Novembro de 1975, data em que acções armadas eliminaram forças radicais de esquerda ou ligadas ao Partido Comunista.
Um documento indica que ajuda poderá ter sido fornecida através do ministério do interior português. Contudo, não há qualquer indicação que ajuda militar americana tenha sido canalizada para forças anti-comunistas, embora existisse um plano para tal com apoio da Inglaterra e possívelmente França.
O plano de apoio militar é apenas um dos aspectos de um programa de acção, que envolveu apoios directos ou clandestinos por terceiros a partidos políticos, dirigentes sindicais e jornais, muitas vezes através de paises europeus como a Suécia, França e Alemanha, programa esse considerado de grande importância para quebrar o controlo que o Partido Comunista exercia sobre os sindicatos e meios de informação.
Alguns dos nomes que receberam essas ajudas e quantias gastas continuam razurados nos documentos agora tornados públicos.
Um documento sem data do então assistente do presidente Gerald Ford para questões de segurança Brent Scowcroft tem ainda razuradas todas as menções às quantias gastas em programas clandestinos destinados “a apoiar moderados e resistir aos comunistas” e em que se faz uma referência a quantias entregues para “operações laborais”
Os documentos revelam também intensos debates internos sobre os partidos políticos portugueses e conhecidas personalidades politicas e militares portuguesas de então, como o dirigente do Partido Socialista e futuro presidente Mário Soares - relutante em envolver-se com os Estados Unidos e descrito como “desorganizado”– e o General António de Spínola o primeiro presidente após o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 e que é tido como inepto e sem futuro pelos dirigentes americanos após fugir do país na sequência de uma tentativa de golpe de direita a 11 de Março de 1975.
As atas de reuniões revelam também uma posição moderadora do embaixador americano Frank Carlucci que se mostra particularmente bem informado sobre a situação em Portugal e que tenta corrigir várias vezes as opiniões do secretário de Estado e conselheiro Nacional de Segurança Henry Kissinger, frustrado com a relutância de países europeus em serem mais agressivos com as autoridades portuguesas e que nutre uma antipatia para com Mário Soares que viria a ter um papel preponderante na consolidação da democracia em Portugal
O alarme em Washington