NA QUINTA-FEIRA
PASSADA, o Senado
votou por 55 a 22 pelo afastamento da Presidenta Dilma Rousseff para
apreciação de seu impeachment por supostas pedaladas fiscais para fins de
maquiagem da dívida pública, conforme aprovado pela Câmara dos Deputados.
Embora Dilma permaneça no cargo e continue a residir no Palácio da Alvorada, em
Brasília, o Vice-presidente Michel Temer assume o comando do país interinamente
acompanhado de um novo gabinete conservador, repleto de escândalos de corrupção
e formado apenas por homens brancos, todos nomeados pelo presidente em
exercício.
Na terça-feira, conversei
com a Presidenta Dilma no Palácio do Planalto em sua primeira entrevista após
ser suspensa. A entrevista de 22 minutos encontra-se logo abaixo. Em lugar de
se comportar de forma subjugada, conformada ou derrotada, Dilma – presa e
torturada por três anos pela ditadura militar que governou o país com o apoio
dos EUA por 21 anos – está mais firme, combativa e determinada do que nunca.
Interim
President Michel Temer, right, waves with Sen. Aécio Neves, left, at a signing
ceremony for new government ministers at the Planalto presidential palace on
May 12, 2016, in Brasília, Brazil.
Photo: Igo Estrela/Getty
Images
Como se não bastasse,
Temer (que ainda não respondeu à solicitação de entrevista do The
Intercept) provocou
controvérsia internacional ao apontar 23 ministros, sendo
absolutamente todos homens brancos, em um país de extrema
diversidade, sendo que um
terço dos quais se encontram sob suspeita em diversas investigações de
corrupção. O governo do vice – adorado pelos fundos de investimento e por Wall
Street, mas detestado por muitos outros setores – iniciou os
preparativos para um ataque da direita radical à rede de segurança social do
país, tão intenso que nunca receberia o apoio de eleitores em um contexto
democrático. Enquanto isso, à medida que se aproximam os Jogos Olímpicos,
afloram protestos por todo o país, que certamente se tornarão mais acirrados e
intransigentes à tentativa do governo Temer de cortar os programas sociais
implementados pelo partido da presidenta afastada (que venceu consecutivamente
quatro eleições para presidência).
Eu conversei com a
Presidenta Dilma sobre todas essas questões, além de termos abordado o provável
impacto que mudanças de ideologia tão antidemocráticas podem gerar nas relações
internacionais e alinhamento econômico do quinto país mais populoso do mundo e
sétima maior economia.
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(A transcrição foi
editada para adequar o conteúdo e ficar mais clara.)
GLENN GREENWALD: Eu sou Glenn Greenwald, do The Intercept, e
estou no Palácio Presidencial, em Brasília, onde falei com a presidente do
Brasil, Dilma Rousseff, na sua primeira entrevista desde que foi suspensa pelo
senado brasileiro.
GG: Bom dia, senhora presidente, e obrigado pela
entrevista.
DILMA ROUSSEFF: Bom dia, Greenwald.
GG: A última fase do processo do impeachment é o
Supremo Tribunal, que tem onze ministros, oito que foram apontados do PT, cinco
deles pela senhora. Acha que esse tribunal e suas decisões são legítimas?
DR: Olha, eu acho que as decisões do tribunal têm
sido legítimas. O que eu acredito é que o tribunal não vai julgar, não é o
Supremo que julga agora o meu processo de impeachment. O processo de
impeachment é julgado no Senado, no Brasil. Quem preside a sessão é o ministro
presidente do tribunal, o ministro Lewandowski. Então, eu espero que a
presidência do Lewandowski dê um rito mais consistente ao processo.
The final
55-22 Senate vote to suspend Brazilian President Dilma Rousseff and
launch an impeachment trial is pictured on a large screen inside the
Senate in Brasília on May 12, 2016.
Photo:
Evaristo Sa/AFP/Getty Images
GG: Mas se a senhora é impedida no Senado, pode
pedir para o Supremo rejeitar ou definir se cometeu um crime de
responsabilidade, e, também, o Supremo poderia parar o processo, mas até agora
não o fez. É possível que um processo que está sendo conduzido sob a autoridade
de um tribunal legítimo possa ser um golpe?
DR: Veja bem, são duas coisas completamente
diferentes. O processo, pela lei brasileira, transcorre no Senado. Eu posso
recorrer ao Supremo Tribunal, e o farei quando for adequado para minha defesa. Mas,
no ínterim, ele correrá no tribunal. Ele irá transcorrer dentro do Senado, o
Senado é o tribunal correto. A partir daí, o que eu posso fazer é discutir se
os procedimentos foram corretamente levantados, foram corretamente aceitos, nos
deram amplo direito de defesa, não houve nenhuma interrupção no processo. Nós
estamos recorrendo disso.
Nós não conseguimos eliminar, mas as ações estão no Supremo e serão, obviamente, levadas ao pleno do
Supremo. O juiz, individualmente, não aceitou dar a suspensão do processo.
Agora, eles terão de julgar.
GG: Mas vai ter uma oportunidade para pedir para
o Supremo definir se cometeu crime de…
DR: O mérito!
GG: Depois…
DR: Depois.
Brazilian
Supreme Court President Gilmar Mendes on Nov. 18, 2009.
Photo:
Evaristo Sa/AFP/Getty Images
GG: No dia seguinte à votação no Senado, o ministro
Gilmar Mendes suspendeu uma investigação sobre o Aécio Neves, que a senhora
derrotou na última eleição. E tem muitas pessoas que viram isso e pensaram:
“Ah, agora esse tribunal está se comportando como um ator político, e essa
suspensão inicia o processo para enterrar a investigação Lava Jato.” A senhora
concorda com isso? Qual é o significado desta suspensão?
DR: Olha, eu acho que essa suspensão é estranha
porque até agora, pelo que eu saiba, nenhuma ação teria sido suspensa até
então, nenhuma ação de pessoas investigadas pela Lava Jato. Agora, o ministro
Gilmar Mendes não é a única pessoa no Supremo Tribunal. O Supremo Tribunal é
composto por doze integrantes.
Esses doze integrantes,
nem todos têm a mesma posição um tanto quanto efetivamente militante,
visivelmente militante, eu diria, do ministro Gilmar Mendes. Ele está
tomando atitudes que vão ser avaliadas ao longo do tempo por todos os
brasileiros.
GG: Mas acha que tem um perigo …
DR: Acho que no Brasil nós não podemos ter dois
pesos e duas medidas. Quando se investigar, que se investiguem todos. Ninguém
pode ser poupado da investigação.
GG: Acha que tem um perigo agora, depois da sua
saída – se precisar sair – de que eles tentem enterrar a investigação da
Lava Jato?
DR: Olha, eu acho que essa pode ser uma ameaça, mas
eu acredito também que nesse processo da Lava Jato tem muitos atores. Então, eu
não acho que seja algo trivial enterrar a Lava Jato. Eu olho com muita
preocupação quando se fala em voltar à situação anterior, na qual o Ministério
Público não era indicado baseado na lista tríplice e, sim, indicado por razões
políticas, o que levou a muitos engavetamentos, né? Tanto que no Brasil se
chamava o Procurador Geral da República de engavetador geral da república. A
partir do Presidente Lula – e eu dei continuidade a isso – qual foi o
procedimento?
Nós escolhemos, dentro de
uma lista de três, geralmente o primeiro da lista. Por quê? Porque era dar ao
ministério público maior autonomia para investigar, e evitar esses processos de
engavetamento. Eu acredito que hoje você tem uma estrutura, tanto do Ministério
Público quanto da Polícia Federal, quanto de setores, segmentos do judiciário –
por exemplo, o Supremo Tribunal, o Superior Tribunal de Justiça – você tem
esses segmentos com muita disposição de aceitar as investigações. Agora, como
em todas as instituições, nenhuma instituição está acima da situação política
de um país. Todas as instituições sofrem os efeitos da situação política de um
país.
Brazilian
President Dilma Rousseff and Glenn Greenwald on May 17, 2016.
Photo: Erick Dau/The
Intercept
GG: Sobre a acusação contra a senhora,eu sei que
outros presidentes, incluindo o Presidente Cardoso, governadores, usavam
pedaladas fiscais. Eu sei que a senhora insiste que as pedaladas não são um
crime de responsabilidade que poderia justificar um impeachment…
DR: Não são um crime de responsabilidade como não
são um crime contra o orçamento, nem nada. Não são crime.
GG: Mas não admite que é proibido pela Lei de
Responsabilidade Fiscal?
DR: Não, porque não é proibido pela Lei de
Responsabilidade Fiscal. O que que ele chama de pedalada? Chama-se de pedalada
um processo chamado Crédito Suplementar. Esse Crédito Suplementar está previsto
na Lei Orçamentária, ele é autorizado pela Lei Orçamentária. E em que ele
consiste? Consiste no seguinte: se você tiver um excesso de arrecadação
específico numa ação de governo, você tem direito de utilizar esse excesso para
ampliação deste governo.
Ora, eu te pergunto uma
coisa: onde ocorreram esses decretos? Tribunal Superior Eleitoral. O crédito
que eu autorizei foi pedido pela Justiça, pelo Tribunal. E este não é um
excesso de arrecadação global, era um excesso em cada uma daquelas rubricas, é
algo extremamente técnico. Não foi nada feito às escondidas, passou por todos,
é uma análise que o Tribunal sempre fez.
Interim
President Michel Temer, center, held the first cabinet meeting to discuss the
first steps of the government at the Planalto Palace in Brasília, Brazil, on
May 13, 2016.
Photo: Agencia Estado/AP
GG: Quero mudar o nosso foco um pouco. A senhora foi
a primeira mulher Presidente da República do Brasil, e o seu substituto
interino, Michel Temer, na semana passada, revelou o seu gabinete com 23
Ministros, nenhuma mulher, nenhum negro, um terço sob suspeita de corrupção.
Como reagiu quando viu essa equipe dele?
DR: O que está me parecendo é que este governo
interino e ilegítimo, será um governo bastante conservador em todos os seus
aspectos. Um deles é o fato de que ele é um governo de homens brancos, sem
negros, num país que o último senso, o senso de 2010, teve uma declaração que
eu acho muito importante, que foi que mais de 50% se declarou de origem
afrodescendente. Bom, não ter uma mulher e não ter negros no governo, eu acho
que mostra um certo descuidado com que país que você está governando.
GG: A senhora falaria que o Brasil chegou no fim da
democracia?
DR: Não, não diria. Por que eu não diria que chegou
ao fim da democracia? Porque hoje, as instituições, elas podem até ter abalos,
mas elas são mais sólidas do que se imagina. Eu temo hoje, por que o que
acontece com um governo ilegítimo? Um governo ilegítimo, ele tenta recobrir,
sobre o manto de uma pseudo-ordem, o impedimento da manifestação, do direito de
expressão e, sobretudo, mostra, eu acho, um grande apetite por cortar programas
sociais.
GG: Diante de um governo que a senhora classifica
como ilegítimo, acha que é correto que os brasileiros lutem contra esse governo
com desobediência civil, como a senhora fez depois do golpe de 64?
DR: Eu acho que são situações diferentes,
completamente diferentes…
GG: Eu entendo, mas os brasileiros agora devem usar
desobediência civil para lutar contra essa – eu sei que as situações são
diferentes – mas chegamos ao ponto em que é justificado que os brasileiros
lutem contra esse governo, que está classificando como ilegítimo, usando
desobediência civil?
Mug shot of Dilma
Rousseff
DR: Eu acho que o que tem que se fazer aqui no
Brasil é lutar contra, protestar e, inclusive, eu acho, exercer uma pressão
sobre os congressistas, uma pressão sobre todas as áreas sociais.
GG: Com Bolsa Família agora…
DR: Não, eu só estou tentando dar o exemplo, porque
você vai ter de ter lutas concretas. Não é uma desobediência civil genérica.
Você terá lutas concretas. As pessoas vão ter que se mobilizar das mais
variadas formas. Se você chamar de desobediência civil manifestações, eu diria
que sim, seria uma desobediência civil. Agora, depende do que você define como.
GG: Tá bom, mas tem muitas pessoas agora que estão
indo às ruas para protestar em sua defesa, em defesa da democracia, que estão
muito preocupadas que possam ser enquadradas na Lei Antiterrorismo, que a
senhora, há dois meses atrás, aprovou. E quando eu entrevistei o ex-Presidente
Lula, no mês passado, ele disse que é contra essa lei, porque dá poderes para o
governo desnecessários e perigosos e está sujeita a abusos. Agora, esses
poderes estão nas mãos de outro Presidente. Acha que foi errado
aprovar essa lei?
DR: Não, não acho, sabe por quê? Porque todos os
itens que possibilitariam esse uso, eu vetei. Esta lei foi aprovada no
Congresso, ela diz respeito às Olimpíadas…
GG: É pra isso, mas pode ser usada…
DR: Ela não tem dimensão pra movimento social, nem
manifestação política. Ela é exclusivamente para atos terroristas. Todas as
coisas meio obscuras, nós vetamos. Então, sinto muito, aí eu tenho uma pequena
divergência com o presidente Lula. Ele teria toda a razão se ela tivesse sido
sancionada como veio do congresso.
Children
stand outside a small store in Olinda, Brazil, on Jan. 20, 2016.
Photo:
Rafael Fabres/Bloomberg/Getty Images
GG: O governo Temer disse que vai focar o Bolsa
Família apenas nos cinco por cento mais pobres. Qual vai ser o impacto disso, e
como a população vai reagir, na sua opinião?
DR: Eu acredito, viu Greenwald, que a população vai
reagir mal. Por quê? Se focar nos cinco por cento, você calcula, num país de
200 milhões de pessoas, 204 milhões, você teria os cinco por cento, seriam 10
milhões. Hoje o Bolsa Família abrange em torno de 47 milhões de pessoas. Porque
o Bolsa Família, a gente tem que entender pra que ele é feito. Ele não é feito
para o adulto. Ele é feito fundamentalmente para a criança.
Porque toda a
condicionalidade desse programa é: levar criança para a escola, vacinar e
acompanhar a saúde infantil. Com isso, nós reduzimos mortalidade infantil, com
isso nós colocamos na escola crianças que não iam para a escola, porque não tem
como fazer política para as crianças, se não fizer para os adultos, para as
famílias, para as mães. E isso eu acho que mostra claramente o caráter de
retrocesso, de conservadorismo.
GG: Tem um jornalista americano, baseado há muito
tempo no Brasil, Alex Cuadros, que escreveu um
artigo no Washington Post, três semanas atrás, com essa
manchete: “Como o PT perdeu os trabalhadores”, e ele apontou que o PT
transferiu muito dinheiro para os bilionários, para os mais ricos, para as
grandes empresas e, ao mesmo tempo, impôs medidas de austeridade para os mais pobres.
É por causa dessas políticas que grande parte da base do seu partido te
abandonou agora?
DR: Bom, primeiro eu não acho que a base do meu
partido me abandonou….
GG: Mas tem muitos apoiadores que agora não estão te
apoiando…
DR: Bem, eu não tenho visto isso, eu tenho visto
pelo contrário, eu tenho visto um grande apoio pela base do meu partido, pela
base progressista no Brasil. Acho que um dos resultados desse processo foi uma
grande reaglutinação. Veja bem, vamos entender em que conjuntura nós estamos. O
Brasil, como todos os países do mundo, está enfrentando, agora, a partir de
2014, começou a enfrentar a crise econômica.
Obviamente, quando você
tem um processo de crise, você está na fase descendente do ciclo econômico, e
não na crescente, você perde instrumentos para fazer a política anticíclica.
Nós viemos fazendo uma política anticíclica em 2011, 12, 13 e 14. Em 2014 nós
esgotamos a nossa capacidade fiscal de fazer essa política anticíclica.
Brazilian
President Dilma Rousseff and Glenn Greenwald on May 17, 2016.
Image: The Intercept
GG: Eu sei, mas durante essa época ajudou muito os
bilionários, as empresas grandes…
DR: Se você me explicar onde que eu ajudei
bilionário e empresa grande, eu gostaria, por quê? Porque é o seguinte, nós não
fizemos ajuste para cortar programa social. Nós preservamos o Bolsa Família,
preservamos o Prouni, preservamos o Fies, preservamos toda a política para a
pequena agricultura, o programa de aquisição de alimentos, preservamos todo o
financiamento para essa agricultura pequena, preservamos a nossa política pra
mulher, pra quilombola, pra índio, tanto é assim que tão desmontando.
GG: Dizem que o Michel Temer está construindo um
governo muito conservador, e também que ele é o líder desse golpe, ele está
envolvido nesse golpe. E, também, duas semanas atrás, o Eduardo Cunha foi
afastado da presidência da câmara por casos de corrupção. Por que escolheu
essas duas pessoas como aliados tão próximos?
DR: Veja bem, eu estava até olhando isso hoje. No
Brasil, você tem um processo que eu acredito que talvez é um dos mais
distorcidos do mundo. Aumenta o número de partidos sistematicamente, e cada vez
os governos vão precisando de mais partidos para formar a maioria simples e a
maioria de dois terços do parlamento. Você tem de ter uma base de alianças.
Quanto maior a base de alianças, menos política e ideologicamente alinhada.
Então, você passa a ter de construir alianças muito amplas. Este é um processo
extremamente complexo. Além disso, tem outra característica. Esse golpe, ele
tem um líder. O líder não é o presidente interino, o líder é o presidente
da Câmara [Eduardo Cunha], que foi agora afastado. Um pouco atrasado, mas antes
tarde do que nunca, como eu disse. Este líder, eminentemente, representa um
setor conservador, extremamente conservador.
GG: Mas foi seu aliado muito tempo, não?
A supporter
of Brazilian President Dilma Rousseff with a sticker reading “Cunha out,” in
Rio de Janeiro, Brazil, on Dec. 8, 2015.
Photo:
Yasuyoshi Chiba/AFP/Getty Images
DR: Calma, calma. Ele era meu aliado porque era do
partido de centro, o qual, desde 1999, constrói a maioria com os governos. Ele
não é do segmento – esse é um partido complexo. Ele não é do segmento, ele não
é de um partido ideológico. Então, é pra entender o fato de que dentro desse
partido convivem as mais diferentes características. Ele, inexoravelmente,
era, entre aspas, meu aliado.
Nós começamos a ter
atrito desde o primeiro dia do meu governo, do meu segundo governo. Ao longo do
meu primeiro governo, nós tivemos atritos sistemáticos com ele. Então, essa é
uma questão que é muito importante de ser entendida, porque ele age nas trevas.
Ele é muito bom de agir nas trevas.
GG: Na opinião da senhora, a mudança do governo e da
orientação da política externa pode prejudicar a relação do Brasil com os BRICS
e o Mercosul?
DR: Eu espero que não cometam esse absurdo para com
o país. Eu espero. Acho que tanto a Unasul, como o Mercosul e os BRICS são
grandes conquistas para o Brasil. Supor que é possível um país da dimensão do
Brasil não ter uma relação estreita com os países da Unasul e com os países do
Mercosul, e esta grande conquista para o multilateralismo que foi os BRICS, é
uma temeridade. É uma temeridade. Eu acho que seria, no mínimo, uma grande
ignorância. Grande ignorância da situação internacional.
GG: A senhora disse muitas vezes que vai lutar até o
final no processo do impeachment, mas se perder o impeachment, e precisar sair,
o que é melhor? Que o Michel Temer fique no poder sem aprovação eleitoral ou
ter novas eleições?
DR: Você vai me permitir não te responder isso.
GG: Porque está lutando ainda.
DR: Porque eu estou lutando até o fim.
GG: Entendo.
DR: Porque você vai entender que se eu colocar uma
questão dessas para mim, eu estou me desmobilizando.
GG: A senhora é conhecida como uma mulher bem forte
e disse muitas vezes que não tem comparação entre o que sofreu antes e o que
está acontecendo agora, mas essa crise é bem dura para o país e para a senhora
também. Isso está afetando a senhora e também a sua família?
DR: Olha, eu acho que afeta sim, afeta do ponto de
vista pessoal porque eu até disse isso outro dia. No dia que eu saí da condição
de Presidente operacional, porque eu sou a Presidente efetiva do Brasil, e a
legítima. Eu acho que afeta no seguinte sentido: porque é uma injustiça. Talvez
a coisa mais difícil pra uma pessoa suportar além da dor, da doença e da
tortura, seja a injustiça. Por quê? Porque você fica como se estivesse preso
numa armadilha. É claro que eles passaram, durante um tempo – eles falaram que
eu era uma pessoa, uma mulher, eu acho que eles supuseram que eu podia
renunciar.
Por que eles queriam que
eu renunciasse? Porque a minha presença é incômoda. Como eu não tenho conta no
exterior, já me viraram dos lados avessos, eu nunca recebi propina, eu não aceito
conviver com a corrupção. Uma das coisas que dizem que eu sou dura é porque é
muito difícil chegar a mim pra propor qualquer coisa incorreta. A
injustiça desse fato, a injustiça política disso, a injustiça pessoal, afeta a
mim, afeta a minha família, afeta a todos nós. E eu, outro dia, disse que eu
era a vítima, não no sentido da vítima do sacrifício, mas a vítima da
injustiça. Eu sou vítima da injustiça.
GG: Senhora Presidente, muito obrigado pela
entrevista.
DR: Muito obrigada.
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