MacArthur foi nomeado Comandante-Chefe das Forças da ONU, no início da Guerra da Coreia. No entanto, discordou abertamente da política oficial dos EUA e, em Abril de 1951, o Presidente Truman afastou-o do comando, provocando uma tempestade de controvérsia.
Por Felicity Arbuthnot
Global Research, 24 de Agosto de 2017
“... na época actual, a guerra é sempre indiscriminada, é uma guerra contra os inocentes, é uma guerra contra as crianças” (Howard Zinn, 1922-2010).
"Toda guerra representa um fracasso da diplomacia" (Tony Benn, MP. 1925-2014.)
"Nenhum país muito pobre, muito pequeno e muito longe, poderá ser considerado uma ameaça para o estilo de vida americano" (William Blum, "Rogue State").
A simples menção de um país pequeno parece atacar a racionalidade e sanidade daqueles que deveriam sabê-lo muito melhor. No domingo, 6 de Agosto, por exemplo, The Guardian colocou no cabeçalho um editorial: "A opinião do ‘The Guardian’ sobre as sanções: uma ferramenta essencial". Claro que, ano após ano, no Iraque, a morte de uma média de cinco mil almas por mês, sendo a maioria crianças, devido a “causas relacionadas com o embargo” - o genocídio em nome da ONU - durante mais de uma década, foi completamente esquecido pelas publicações da esquerda.
Desta vez, o alvo é a Coreia do Norte, a quem o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou, por unanimidade, para ser congelada, estrangulada e ser-lhe negado o essencial da normalidade e da humanidade. Como sempre, nem mesmo houve a mais ligeira consideração sobre uma solução de diplomacia. No entanto, de maneira incrível, The Guardian declarou estas sanções devastadoras, como sendo: “Um triunfo raro da diplomacia ...” (The Guardian, 6 de Agosto de 2017.)
Enquanto o Secretário de Estado, Rex Tillerson, o “diplomata” dos EUA e o seu homólogo norte-coreano, Ri Yong-ho, se dirigiam em 5 de Agosto, para a reunião anual da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Manila, um porta-voz do Departamento de Estado disse de Tillerson:
“O Secretário não tem planos para encontrar-se com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, em Manila, e não espero que tal aconteça”.
É patético. Em Abril, ao aproximar-se o centésimo dia no cargo, Trump referiu a Coreia do Norte, dizendo:
“Gostaríamos de resolver as divergências de forma diplomática, mas é muito difícil”.
Não, não é. Fale e caminhe, imaginando-se na posição do outro. Então, eles estavam no mesmo local, mas é claro que a Administração Trump não vive sozinha numa terra de oportunidades perdidas, mas de oportunidades deliberadamente enterradas num aterro de várias milhas de profundidade. Disse-o, apesar de ter referido na mesma declaração:
"Existe a possibilidade de que, efectivamente, possamos acabar por ter um enorme conflito com a Coreia do Norte.”
Analisemos um pouco em perspectiva: o dia 27 de Julho de 2017, marcou o sexagésimo quarto ano do acordo do armistício, que encerrou a devastação da guerra coreana de três anos. No entanto, nunca houve um tratado de paz, portanto,tecnicamente a guerra da Coreia nunca acabou. Dito isto, juntamente com a propensão dos americanos de varrer do mapa, países com pequenas populações que não representam nenhuma ameaça (pensem mais recentemente, no Afeganistão, no Iraque e na Líbia), não é de estranhar que a Coreia do Norte deseje aparentar que tem algum equipamento pesado de protecção, atrás da porta de entrada, por assim dizer.
A pequena Coreia do Norte tem uma população de apenas 25,37 milhões e uma massa terrestre de 120,540 km² (quilómetros quadrados). Os EUA têm uma população de 323,1 milhões e uma massa terrestre de 9,834 milhões de km² (quilómetros quadrados). Mais ainda, desde 1945, acredita-se que os EUA produziram cerca de 70.000 armas nucleares - embora agora tenha descido para um “escasso” número de 7.000 - mas será que a Coreia do Norte é uma ameaça?
A América tem quinze bases militares na Coreia do Sul – que fazem parte de um escalonamento de cinquenta e quatro bases - eriçadas com todo tipo de armamento de destruição em massa. Duas bases estão na fronteira norte-coreana e outras estão muito próximas. Vejam os detalhes completos de cada uma, neste mapa (1.)
A Coréia do Norte tem, também, a memória colectiva do horror produzido pelos EUA no conflito de três anos, num país com uma população de apenas 9,6 milhões de almas. No rescaldo, o General Curtis Lemay , afirmou:
“Depois de destruir setenta e oito cidades da Coreia do Norte, milhares de aldeias e de matar inúmeros civis ... durante um período de três anos ou mais, matámos quantos? Vinte por cento da população”
“Acredita-se agora que a população a norte do paralelo 38º, imposto pelos EUA, perdeu cerca de um terço de sua população de 8 a 9 milhões de pessoas durante a guerra “quente” de 37 meses, de 1950 a 1953, uma percentagem de mortalidade sem precedentes, sofrida por uma Nação, devido à beligerância de outra. “(2)
Neste contexto:
“Durante a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido perdeu 0,94% da sua população, a França perdeu 1,35%, a China perdeu 1,89% e os EUA perderam 0,32%. Durante a guerra da Coreia, a Coreia do Norte perdeu cerca de 30% da população.”(Ênfase adicionada).
"Fomos lá e travamos uma guerra, ou seja, no fim, queimamos todas as cidades da Coreia do Norte de qualquer maneira...", vangloriou-se Lemay.
O General Douglas MacArthur disse, durante uma audiência no Congresso em 1951, que nunca viu tanta devastação em parte nenhuma.
"Fico horrorizado com o que não posso exprimir por palavras ... com esta matança contínua de homens na Coreia", disse MacArthur. "Já vi sangue derramado e desastres, mais do que qualquer homem vivo e, na última vez que estive lá, o meu estômago revoltou-se.” (CNN, 28 de Julho de 2017.)
Horrorizado como estava, não mencionou as mulheres, as crianças e os bebés que foram queimados vivos, na mesma ocasião.
Além do mais, como Robert M. Neer escreveu em “Napalm, uma biografia americana”:
"Praticamente todo avião de combate dos EUA que voou nos céus coreanos levava pelo menos duas bombas de napalm", escreveu o Director de Química, Townsend, em Janeiro de 1951. Cerca de 21 mil litros de napalm atingiram a Coreia todos os dias em 1950. À medida que o combate se intensificava após a intervenção da China, esse número aumentou mais do triplo (...), um total de 32.357 toneladas de napalm caíram na Coreia, cerca do dobro do que caiu no Japão, em 1945. Não só os aliados lançaram mais bombas na Coreia do que no teatro de guerra do Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial - 635.000 toneladas, contra 503,000 toneladas – a maior parte do que caiu foi napalm ... '
Na capital norte-coreana, Pyongyang, foram referenciados apenas dois edifícios que ainda estavam de pé.
Na interminável História da Guerra dos EUA, a Coreia do Norte é seguramente a população mais diminuta que já atacaram até ao assalto à minúscula Grenada, em Outubro de 1983, com uma população de apenas 91 mil habitantes (designada pelo nome obrigatório e estúpido: “Operação Fúria Urgente “).
A Coreia do Norte tem sido constantemente provocada pelos EUA desde que ficou em ruínas após o armistício, há sessenta e cinco anos, mas, como sempre, a Administração dos EUA retrata o vasto e autodenominado "líder do mundo livre" como sendo a vítima.
Como Fort-Russ apontou sucintamente (em 7 de Agosto de 2017):
“A península coreana está em crise não só devido às ameaças permanentes dos EUA contra a Coreia do Norte, mas também devido a várias acções provocativas de Washington, por realizar exercícios militares conjuntos com Seul entre tensões e que Pyongyang considerou como sendo uma ameaça à sua segurança nacional.”
Este mês, os “exercícios militares de fogos reais das forças terrestres, marítimas e aéreas" envolvendo "dezenas de milhares de tropas” dos EUA e da Coreia do Sul começaram no dia 21 de Agosto e continuam até ao dia 31 do corrente mês.
‘No passado, acredita-se que as operações incluíram “ataques de decapitação” - operações de teste para uma tentativa de matar Kim Jong-un e os generais mais importantes ... “, de acordo com o The Guardian (11 de Agosto de 2017).
O nome obrigatório e estúpido escolhido para esses exercícios sem sentido, perigosos, beligerantes e ameaçadores, que queimam dinheiro, é Ulchi-Freedom Guardian. Ocorrem anualmente, desde 1976.
Os bombardeiros americanos B-1B, que voam de Guam realizaram recentemente exercícios na Coréia do Sul e “praticaram a sua capacidade de ataque ao lançar armas inertes em Pilsung Range”. Num movimento ainda mais agressivo (e ilegal), foi relatado que, bombardeiros dos EUA sobrevoaram, de novo, supostamente onze vezes, a Coreia do Norte, apenas desde Maio deste ano.
No entanto, apesar de tudo, a Coreia do Norte é a "agressora".
"As ogivas nucleares dos Estados Unidos da América estão armazenadas em cerca de vinte e um locais, que incluem treze estados dos EUA e cinco países europeus ... algumas estão a bordo de submarinos americanos. Há também algumas ogivas nucleares “zombies”, isto é, de deflagração retardada e elas são mantidas em reserva e cerca de 3.000 delas ainda estão a aguardar o seu desmantelamento. (Os EUA) também estendem o seu “guarda-chuva nuclear” a outros países como Coreia do Sul, Japão e Austrália. "(Worldatlas.com)
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, que também participou na reunião da ASEAN, em Manila, fez, obviamente, o que os diplomatas conceituados fazem, e falou com o seu homólogo norte-coreano Ri Yong-ho. A opinião do Ministro Lavrov foi resumida por um observador da Fort Russ News assim:
“A península coreana está em crise não só devido às constantes ameaças dos EUA contra a Coreia do Norte, mas também devido a várias acções agressivas, tais como Washington realizar exercícios militares conjuntos com Seul entre tensões, que Pyongyang considera ser uma ameaça à sua segurança nacional.”
Essas “acções provocativas” também incluem a ameaça de vôos excessivos de aviões militares americanos que voam da base de Guam. No entanto, quando a Coreia do Norte disse que se isso continuasse, eles considerariam disparar mísseis no oceano perto de Guam – e não ameaçar bombardear Guam como foi relatado por alguns histéricos – o Agente Laranja, que ocasionalmente aparece na Casa Branca entre partidas de golfe e merendas de bolos de chocolate, enquanto se confunde sobre qual foi o país onde lançou cinquenta e nove mísseis Tomahawk Cruise, respondeu que a pequena Coreia do Norte voltará a ser: “...fustigada com fogo e fúria e poder, como jamais o mundo viu”.
Pouco se notou como a Coreia do Norte qualificava a ameaça de um tiro através dos cumprimentos, afirmando muito razoavelmente:
(Os EUA) “devem parar imediatamente a sua provocação militar imprudente contra o a República Democrática Popular da Coreia, para que ela não seja forçada a fazer uma escolha militar inevitável". (3)
Como Cheryl Rofer (ver 3)referiu, em vez de ameaças infinitas, a diplomacia dos EUA poderia ter muitas rotas:
“Poderíamos ter enviado uma mensagem à Coreia do Norte através da visita canadiana recente para libertar um de seus cidadãos. Poderíamos enviar uma mensagem através da Embaixada da Suécia na Coreia do Norte, que muitas vezes representa os interesses dos EUA. Poderíamos organizar uma acção diplomática na qual a China poderia assumir a liderança. Existem muitas possibilidades, qualquer uma das quais pode mostrar à Coreia do Norte que estamos dispostos a deixar de efectuar práticas que os assustam, se considerarem que podem desistir de algumas das suas acções. Isso não incluiria o seu programa nuclear explicitamente neste momento, mas deixaria o caminho aberto para fazê-lo mais tarde ".
De facto, há nove missões diplomáticas no total, na Coreia do Norte, através das quais os EUA poderiam solicitar a comunicação - ou Trump poderia até comportar-se como um adulto e pegar no telefone.
Siegfried Hecker, foi o último oficial americano conhecido que inspecionou as instalações nucleares da Coreia do Norte. Ele diz que tratar Kim Jong-un como se ele estivesse prestes a atacar os EUA é impreciso e perigoso.
“Alguns gostam de descrever Kim como sendo louco - um louco - e isso faz com que o público acredite que não é possível convencê-lo. Ele não está louco e não é suicida. E nem sequer é imprevisível. A ameaça real é que vamos tropeçar numa guerra nuclear na Península da Coreia ". (5)
Trump fez a grave ameaça de “fogo e fúria” na véspera da sexagésima segunda comemoração do ataque nuclear dos EUA em Nagasaki, a ironia asquerosa é que, aparentemente, nem sequer notou esse facto.
Será que alguns adultos irão falar em Capitol Hill antes que seja tarde demais?
Notas
A fonte original deste artigo é Global Research
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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