04.06.2016
Guerra
de palavras (I): A retórica do pós-modernismo e a distorção da linguagem.
Haven’t you heard it’s a battle of
words? The poster bearer cried.
Listen son, said the man with the gun, There’s room for you inside.
Pink Floyd, ‘Us and them’ (do album ‘The Dark Side of the Moon’)
Para
a estratégia de reprodução do pós-modernismo, assinalada sobretudo pela
ausência de qualquer permanência e qualquer limite, o domínio da linguagem e a
sua consequente manipulação – possui uma importância relevante. É claro que a
aceitação da actual (des-)ordem social e individual e o grau de obediência à
mesma, será muito mais integro e perfeito, harmonioso e sem frestas por parte
dos cidadãos se estes assumirem e adoptarem para si a forma de pensar do
sistema, como se esta fosse uma segunda natureza. Terão de interiorizá-la,
senti-la como própria e não como algo imposto, para que desta forma a
introduzam no seu próprio modo de pensar e sentir, mais ainda que de viver.
Assim, por exemplo, o capitalismo, por meio de vários subterfúgios psicológicos
– como o complexo de atraso ou a ambição mefistofélica – cria o desejo terrível
que move inexoravelmente os cidadãos modernos – inconformes com tudo, sempre
infelizes – no vendaval infinito do consumo.
Para
esta ordem que anima e explora as debilidades humanas e que não permite que o
Homem se aceite como é, mantendo-o sempre inconformado e a desejar ser outro, a
dissidência mais perigosa é a que se dá nas ordens do pensamento e do
sentimento, pois o ser humano dono de si próprio, que conhece as suas emoções e
limites será infinitamente mais difícil de submeter e dirigir. De facto, um
homem idealmente feliz seria por completo alheio à febre consumista. Então, a
ordem moderna requer, para se manter, de homens débeis, receosos, complexados,
atormentados no seu interior, de obediência fácil, porque carecem de metas e
ilusões, que sempre se curvam perante a voz de mando da televisão. A
dissidência interior – que se situa no nível anímico – é a fundamental, a única
que pode conduzir a uma resistência firme, apoiada no convencimento profundo de
que é possível um outro mundo y não o do desejo passageiro, que sempre pode ser
desviado pela sociedade-espectáculo para algum sucedâneo anestesiante. Pensem
no uso do sexo ou da droga como “evasivos”, exemplos extremos do mesmo na nossa
sociedade. Pelo contrário, se pensamentos e emoções seguem o curso actual
teledirigidos desde o poder, qualquer alternativa a esta ordem será impossível,
inclusivamente, de imaginar na prática.
A
“guerra de palavras”.
Portanto,
estamos perante uma autêntica guerra no campo das ideias, cujo objectivo,
agora, é mais contagiar os seus valores através das emoções do que convencer
por meio de “razões”. E já que a fala é o veículo natural das ideias, a
linguagem converte-se assim no campo de batalha onde se trata de submeter as
escassas resistências que ainda existem, ao discurso do modernismo. Por isso é
exactamente na ordem da linguagem, a única ferramenta que torna possível o
pensar e imaginar, onde se trava a grande batalha, psicológica e ideológica (I)
e onde se pode romper por parte do poder a última e mais profunda resistência,
apresentada por parte de indivíduos e comunidades. Sim, por meio desta
minuciosa operação de adulteração, a linguagem é definitivamente redesenhada e
qualquer alternativa á ordem actual será completamente impossível, tanto de
pensar como de comunicar.
Isto
é algo que as ciências sociais modernas – a economia, a psicologia e a sociologia
– que trataram de justificar de forma pretensamente científica, de naturalizar
e de dar legitimidade moral ao liberalismo e ao cientificismo desde a sua
origem, compreenderam perfeitamente. E por isso aplicaram-se para a criação de
uma verdadeira nova-língua que correspondesse plenamente a esta sociedade nova
que eles redesenharam, novo-idioma em que inúmeras palavras são de criação
nova, enquanto muitas outras, já existentes têm sido afastadas do seu contexto
e profundamente adulteradas nos seus significados verdadeiros e originais. (2)
Para começar deveria citar o conceito de psicologia, ao qual a disciplina
académica que se apropriou dele, não honra.
Nesta
“guerra de palavras”, alguns termos vêem-se especialmente prejudicados, muito
mais do que se fossem simplesmente esquecidos ou proibidos; são aqueles que
tendo-se situado perto do centro do paradigma anterior – o paradigma
tradicional - ou sendo referências óbvias ao mesmo, são reutilizadas agora,
como armas de publicidade pela nova retórica do pós-modernismo, para o qual
tiveram de ser redefinidos. Para consegui-lo, esses termos tiveram de ser privados
dos seus significados originais e receber outros novos, por meio de raciocínios
particularmente insidiosos e artificiosos.
Novamente,
encontramos aqui esse carácter do modernismo que já descrevemos anteriormente
como “cultura do palimpsesto”, aqui aplicado à linguagem: trata-se de um
vaziado sistemático de certos significados. Um procedimento de vaziamento e
distorção que torna possível os “novos usos” dessas palavras. O apagado – ou
esquecido – do significado original de uma palavra tem um efeito duplo:
Por
um lado deixa a palavra “oca”, pronta para ser “inoculada”, e adoptar um
significado novo estrategicamente relevante, o qual deve ir associado
preferivelmente a emoções básicas (como esperança, medo, etc.).
Priva
o significado anterior do seu veículo de transmissão próprio, que também é o
vínculo que o une com a realidade, por meio do qual podia ser expresso e
comunicado no mundo dos Homens. Quer dizer, ao ser privado da palavra que lhe
servia de suporte, o antigo significado emudece, passa a ser invisível e pouco
a pouco deixa de existir.
Foi
assim que o modernismo criou um novo discurso, o seu particular novo-idioma,
que se pode qualificar sem dúvida alguma de revolucionário – pois revolucionou
a linguagem, em primeiro lugar, alterando muitos dos seus termos e significados
– apoiado na ressignificação e adulteração constantes de muitos conceitos por
parte das disciplinas universitárias. Esta nova língua faz uso de uma nova
retórica que possui um amplo leque de lugares-comuns, de referências habituais,
de raciocínios próprios – baseados em vulgaridades lógicas – e que conta
inclusivamente com os seus próprios dogmas e axiomas irrebatíveis que não se
pode ousar questionar.
O
objectivo de tudo isto é limitar a capacidade de imaginar dos indivíduos, fechar
os seus horizontes e dirigir indirectamente o seu pensamento, pois a linguagem
é a ferramenta privilegiada que não só torna possível o falar e se comunicar,
mas também sonhar e imaginar.
Assim
vai-se produzindo um escurecimento progressivo da linguagem que parece cada vez
mais incapacitada para alcançar – e remitir
– as realidades subtis. Ao ver-se empurrada para o prosaico, a linguagem
vai perdendo a sua capacidade referencial e simbólica com respeito aos planos
superiores e com ela o seu valor de encantamento. Contra o que se costuma
pensar desde o ponto de vista profano, farta de um progressismo e evolucionismo
infantis, a linguagem, agora é muito mais materialista que nas suas origens,
pois como dizemos viu profundamente dizimada a sua qualidade simbólica e
alegórica, que é precisamente o que lhe faz ser portadora de verdades de ordem
subtil mais que material.
Sem
dúvida esta qualidade é intrínseca, por natureza, à própria linguagem e é
impossível extirpá-la por completo – o espírito sopra onde quer – mas claro,
sim é possível impedir que se manifeste na prática quotidiana do falar, pensar
e imaginar. Trata-se de um processo de ocultação da verdade – algo ao que já se
refere e com esta mesma expressão, Heidegger – de escurecimento, de afastamento
da origem, de penetração nas trevas: o materialismo como horizonte vital único.
Aqui dilui-se a possibilidade de encantamento do mundo tão próprio da poesia (3),
irremediavelmente danificado pela vulneração da própria linguagem que já só serve
para o prosaico. O emprego de um discurso público cada vez mais vulgar, apegado
ao terrenal e menos belo, é uma boa prova da mediocridade em que o modernismo
quer sepultar a linguagem e com ela toda a realidade…e é que ao capitalismo não
lhe agrada a poesia – que sempre foi o veículo privilegiado do luminoso – e
sendo a poesia a linguagem própria dos anjos e dos profetas, existe neste
fenómeno algo muito mais sério do que poderia parecer a simples vista.
É
importante não esquecer que a linguagem é o instrumento mais subtil e
persuasivo de ideologização e implantação de ideias e portanto de dominação.
Nas últimas décadas, este processo tomou uma relevância enorme, particularmente
perceptível na formação de uma nova classe política no mundo ocidental; classe
essa que já não tem nem líderes populistas nem tecnocratas-gestores senão e
acima de tudo, actores, leitores e porta-vozes cuja função é dar cara e voz a
um discurso que não criam, em absoluto, mas que sem dúvida partilham e ao qual
servem, discurso que é aquele que deve ser ouvido. Aqui fazemos ênfase nesta
categoria social dos políticos, pela simples razão de que o seu objectivo é, junto
com os meios de comunicação maciços, transmitir e comunicar o que se deve
pensar.
Digamo-lo
claramente: estamos perante uma estratégia de aculturação maciça e premeditada,
desenhada subtilmente, para a qual são necessárias grandes equipas de técnicos
e especialistas, sobretudo das categorias sociais – sociólogos, psicólogos,
etc. – O papel que a intelectualidade progressista - os marxistas dos anos 60,
por exemplo – tiveram na criação e implantação desta nova-língua, como mono discurso
a nível mundial, nunca será suficientemente denunciado. Uma estratégia de
implantação que nas últimas décadas tem sido conscientemente estudada, desenhada
e posta em prática pela anti elite neoliberal, que tem recolhido o testemunho
dos marxistas intelectuais da academia universitária que, actualmente goza de
grande prestígio e ocupa todos os núcleos de poder da sociedade ocidental e
marca o seu rumo. Anti elite que outorga um peso muito notável à “imagem”, mais
como aparência e simulacro, mas menos como símbolo, ao “como” mais que ao
“quê”, ao exterior mais que ao interior e ao discurso e à retórica como
ferramenta de aculturação e dominação direccionadas à submissão do Homem.
No
fundo, tendo em conta que se trata de um projecto de grande magnitude de
engenharia social, tudo isto não difere muito das trabalhosas campanhas de
propaganda que os comunistas colocavam em prática a fim de ideologizar no
marxismo, as suas massas de trabalhadores que eram o seu “objectivo público”,
em termos da nova língua moderna, para o que tinham de conseguir renovar todo o
seu vocabulário – e com ele o seu modo de pensar – até que passavam de simples
trabalhadores a proletários com consciência de classe e homens e mulheres
explorados por camaradas da revolução. Só que agora a ideologização é muito
mais subtil. Agora a doutrinação é certamente, muito mais passiva, graças à
grande indústria audiovisual, pilar fundamental da educação pós-moderna, de tal
modo que já não se requer de nenhum esforço consciente por parte do sujeito a
(re-)educar: já não é necessário ler todos esses manuais indigestos sobre a
luta de classes e a revolução, com todas essas teorias absurdas sobre o Homem.
Basta ver uma sessão de notícias ou um filme de ficção…
A
guerra de privação que dirige o modernismo contra a herança social e cultural
de milhares de anos trava-se em todas as frentes. No material, roubando, com
certeza, desde legalidades impostas, os recursos de todos os povos e
obrigando-os a sobreviver sob uma nova ordem material e social, capitalista e
colonizadora, com horários e modos de vida antinaturais dos que é impossível
“se libertarem”. Mas também trava-se uma batalha no campo mental impondo
através de uma propaganda muito severa e monolítica as ideias e gostos, mais
convenientes para que os indivíduos se conformem e se enquadrem na realidade da
nova ordem e a sintam, senão como absolutamente boa e desejável, pelo menos
como algo inevitável – aqui, diga-se de passagem, a naturalização de noções
como história e progresso, têm um rol central.
Por
tudo isso, como já o propusemos em outras ocasiões a luta contra o paradigma
moderno e liberal deve ser estabelecida em primeiro lugar, no plano das ideias.
Qualquer alternativa real à ordem imposta pelo modernismo, deve começar a ser
construído não desde a acção mas desde o âmbito do pensamento. Âmbito cujo
estado, é verdadeiramente desolador, actualmente, pois até os que se pretendem
opor a muitas das realidades particulares e específicas com que o capitalismo
nos horroriza, partilham as suas suposições ideológicas e morais mais profundas
– competitividade, progressismo, individualismo, etc. - formam parte do seu
próprio paradigma moderno.
Então,
deve-se tratar de estruturar um discurso verdadeiramente alternativo, o que se
pode descrever graficamente como transversal ou ortogonal ao discurso e à
retórica normativos de agora. Buscar tais alternativas passa em primeiro lugar,
por resistir à ocupação e colonização da alma do Homem, que o modernismo
pretende, último baluarte da sua liberdade e para isso é imprescindível
resgatar a linguagem e a imaginação de onde estão, agora. Recuperar o valor das
palavras, reivindicar o seu valor de verdade e o seu papel como chaves
privilegiadas com as que construir o mundo.
Esta
necessidade de mudar, dentro do possível, o campo de batalha, desde o qual
combater o modernismo, obedece também a razões que poderíamos denominar estratégicas.
Em primeiro lugar, a reapropriação por parte das associações ou comunidades que
pretendem construir uma nova ordem, dos recursos comuns expropriados e
concentrados por parte das forças capitalistas durante os últimos quase três
séculos, revertendo o processo de concentração de capital, é inevitável a curto
prazo, pelo menos. Em segundo lugar porque, ainda que a tal reapropriação dos
recursos fosse factível não conduziria a nenhuma realidade diferente se
continuássemos a manter – e a partilhar – os mesmos princípios ideológicos –
uma vez mais usamos a palavra no seu sentido profundo – que são os ordenadores
de toda a sociedade e que deram lugar á anormalidade moderna, pois com matéria-
prima igual, seria impossível construir um edifício com bases distintas.
Guerra
de palavras (II): Razão e Intelecto
Podemos
citar muitos exemplos de termos que foram alterados ou distorcidos no seu significado
original, mas iremos referir-nos a uns poucos que consideramos mais
determinantes por estarem vinculados na sua origem a concepções tradicionais
das quais foram completamente afastados pela “retórica moderna”, até ao ponto
de que se nos limitamos ao uso habitual que se faz deles na actualidade,
passariam por termos completamente profanos.
Na
realidade este é o último objectivo de toda aquela imensa operação de lavado da
linguagem que temos descrito e que passa sobretudo por redefinir as palavras
com o fim de profaná-las, quer dizer, privá-las do seu sentido sagrado – que
lhes é extirpado com o objectivo de impedir que se possa fazer referência ao
mesmo – e rebaixá-las a um marco exclusivamente profano, mundano, onde sejam
susceptíveis de ser utilizadas como armas de propaganda, segundo os objectivos
estratégicos ou interesses particulares do momento.
É
o mesmo que sucede com termos, como ideologia ou filosofia, por exemplo, que
estão realmente afastados do que significam, etimologicamente, pelo que ficam
profundamente reduzidos na sua capacidade de capturar e modificar a realidade.
A
palavra ideologia – da qual tentaremos ocupar-nos nalguma próxima oportunidade
– que literalmente deveria referir-se à ciência das ideias, foi manipulada tão
vulgarmente pelos movimentos mais diversos, de engenharia social e tão
ridiculamente reduzida à infame realidade política, que acompanha todo o
modernismo como uma remora inseparável, que carece de qualquer valor
epistemológico, apesar de que bem entendida deveria ser uma pedra angular em
qualquer estudo profundo de uma sociedade.
Por
outro lado o termo filosofia foi desvirtuado ao longo dos últimos séculos até
significar para o ocidental moderno, algo radicalmente diferente do que significava
para os gregos, que o criaram na antiguidade. Para os mestres da Grécia Antiga,
a filosofia não era um simples jogo da razão, senão um caminho para a sabedoria
– a Sophia Perennis – e como esse caminho até uma meta superior envolvia um
alto grau de esforço e sacrifício.
E
como “caminho” envolve movimento, desenvolvimento, esta ideia de movimento está
contida no qualificativo de peripatéticos (aquele que ensina caminhando) com
que foram conhecidos os seguidores de Aristóteles e que se podia referir tanto
a que estavam a passear enquanto conversavam ou meditavam – prática de meditar
caminhando que, curiosamente, os monges medievais, recuperariam mais tarde, nos
seus mosteiros – como ao facto de que os verdadeiros filósofos eram itinerantes
e não tinham residência fixa.
Esta
referência ao movimento pode ser entendida, também, no seu sentido mais físico
e literal, pois o pensamento associa-se de maneira natural ao movimento do
corpo (4) e ao futuro da existência, do mesmo modo que a quietude – a “apatheia”
– se associa com a contemplação, a estabilidade e a imperturbabilidade próprias
do Ser. De modo que não é aventurado sustentar que os dois métodos de trabalho
– quietude e movimento, ao modo das duas fases da respiração – eram empregados
convenientemente por parte dos verdadeiros filósofos que eram aqueles que
colocavam em prática tal disciplina e ordenavam toda a sua vida segundo a
mesma. Só assim, entendendo que a filosofia antiga envolvia um modo de vida –
modo de vida que, geralmente afastava o filósofo do mundo e da vida pública e
que muitas vezes o obrigava a uma série de renúncias – é compreensível que essa
vida não fosse compatível com as frivolidades do “saeculum”, pois certamente a
divagação racionalista pura, não é em absoluto, compatível com a imoralidade
política ou a falta de carácter pessoal.
De
outro modo resulta difícil explicar que os mestres da antiguidade insistissem
tão frequentemente em que a filosofia era um caminho árduo, que exigia
sacrifícios constantes e que não estava ao alcance de todos…como poderiam dizer
tal coisa, se tivesse consistido no entretenimento de cadeira e biblioteca
próprios de um diletante que chegou a ser com o modernismo, uma actividade
completamente mental e afastada por igual, tanto da realidade vital das
pessoas, como de qualquer atitude contemplativa?
Abandonada
a um racionalismo e um subjectivismo radicais, a filosofia do modernismo é
certamente um solipsismo grotesco nos seus pessoalismos exagerados, o seu
desprezo pelas tradições ancestrais e a sua carência de raízes verdadeiramente
profundas. É evidente que não era a essa filosofia a que se referiam os mestres
antigos. Portanto a filosofia moderna não passa de ser mais que uma vítima do
híper racionalismo moderno, que idolatrou até ao ridículo a faculdade racional
do Homem.
A
razão e o intelecto (5).
Por
outro lado, essa atitude contemplativa que indicámos algumas linhas atrás,
faz-nos reflectir acerca de outro termo que tem sido profundamente alterado no
seu significado pelo modernismo: referimo-nos à noção de “intelecto” e ao
adjectivo que se deriva da mesma, “intelectual”.
Precisamente
por causa da mistificação da razão, o intelecto – considerado, antigamente, a
mais alta das capacidades humanas – passou a ser, na prática sinónimo de razão,
da mesma forma que a palavra intelectual se transformou, no melhor dos casos,
em sinónimo de racional, ainda que toma muitos outros usos, todos eles
impróprios (6) e alguns claramente depreciativos. O mesmo comentário poderia
ser feito com respeito ao conceito de “inteligência”, constructo
particularmente maltratado por parte da psicologia moderna, que o esvaziou por
completo da sua dimensão verdadeira para ir-lhe outorgando novos significados
que se encaixem nos seus preconceitos, segundo as modas científicas do momento.
Já
explicamos noutros momentos, a distância que existe entre ambas faculdades,
“intelecto e razão”: a capacidade intelectual é directa e não discursiva e
associa-se ao modo de saber sintético e intuitivo próprio da “gnosis”
(conhecimento) das tradições gregas e helenísticas (7). A razão é indirecta,
não capta o noúmeno (o pensado) de forma intuitiva senão que avança às escuras,
a fazer conjecturas, a analisar, a dar hipóteses, quer dizer, reflectindo. Enquanto
o procedimento do intelecto é idêntico, a razão é analítica e requer de um
certo desenvolvimento para se comunicar (8).
Para
além do indicado anteriormente a faculdade intelectual do Homem, associa-se
directamente com o intelecto puro e superior que se corresponde com a noção de
Buddhi oriental – do qual procede. Por sua vez a razão – que procede da
capacidade intelectual, por reflexo, como a luz da lua procede do sol – é uma
virtude exclusivamente humana no seu proceder e não poderia ir mais além do
humano, de nenhum modo.
Então
diremos – e aqui passamos a explicar o porquê da atitude contemplativa a que
nos referíamos e da que a filosofia ocidental moderna carece por completo – que
a razão está ligada ao movimento e à sensação tal e como (9) a intelecção está
ligada à quietude e à contemplação. E não é por casualidade que interligando a
intelectualidade pura com o conhecimento metafísico, a filosofia se assente
precisamente sobre um “giro anti metafísico” consciente.
Portanto
trata-se de duas faculdades bem diferentes que não podem ser, de forma alguma,
confundidas e que bem entendidas, são perfeitamente complementárias, não
opostas nem incompatíveis – sempre que se reconheça a superioridade ontológica
do intelecto sobre a razão, que lhe é naturalmente inferior já que provém de
aquele, assim como em virtude da ordem da manifestação à qual pertence.
O
intelecto pode ser então, imaginado como um caminho de conhecimento vertical,
pois ocupa-se das realidades superiores – ou pelo menos transcende a realidade
manifestada, vai mais além dela – e a razão como estendendo-se – no seu
movimento reflexo – em horizontal, pois ocupa-se do nível da manifestação, seja
esta material ou mental, o que no fundo é indiferente, mais ainda desde o ponto
de vista do intelecto. Assim, se a razão se refere ao que é temporário e
portanto efémero, passageiro e contingente, o intelecto liga-se sempre com o
permanente e eterno. Portanto podemos dizer que o intelectual é sempre algo
mais do que o racional.
Guerra
de palavras (III): O tradicional e o convencional
Mas
se falamos de termos profanados e adulterados no seu significado, nenhum tem
sido mais maltratado pela retórica do pós-modernismo, que o conceito de
Tradição e os seus derivados.
Poderia,
possuir certa lógica que, desde o ponto de vista profano, que caracteriza o
modernismo e dado o seu projecto explícito de refundação da sociedade – com
independência e até em contra do seu passado – tudo o que remita de algum modo,
à Tradição, fique associado com o reaccionário, em geral tudo aquilo
considerado anti revolucionário e contrário à fábula do progresso. Em definitiva,
trata-se de associar a tradição com a “idade das trevas” , com que se gosta de
imaginar todas as realidades humanas anteriores ao modernismo; o discurso é
conhecido por todos: o modernismo trouxe a luz e a razão a um mundo, em que
reinavam a superstição e a barbárie.
De
certa forma este ataque do modernismo ao tradicional é compreensível, pois o
ponto de vista tradicional é em essência anti moderno, da mesma forma que o
ponto de vista moderno é anti tradicional. Sendo essencialmente opostos e incompatíveis
entre si, podemos entender que o modernismo tente, de todas as formas
possíveis, desprestigiar o seu oponente. Até aqui tudo resulta de algum modo
previsível dentro da estratégia revolucionária de imposição e de aniquilação do
adversário que empurra o modernismo.
Menos
compreensível e mais desolador resulta ver como se utiliza, inapropriadamente,
o termo “tradicional”, por aqueles que pretendem questionar ou criticar o
modernismo e buscar alternativas ao mesmo e que na sua confusão, aplicam o termo
a conhecimentos, ideias e procedimentos indubitavelmente modernos.
Aqui,
“tradicional” já não se opõe a “moderno” como se poderia entender, mas numa
nova adulteração do termo, passa a ser aplicado sem mais, a todos aqueles
costumes que estão “maioritariamente expandidos”, quer dizer, toma o sentido de
habitual, comum ou simplesmente convencional. Deste modo chegam a produzir-se
confusões linguísticas realmente diabólicas e escurecedoras, algumas das quais
pode ser aconselhável aclarar. Analisaremos um caso que consideramos
especialmente significativo deste uso impróprio da palavra “tradicional”,
aquele que provém, sem dúvida por desconhecimento, do mundo da ecologia, mas
poderíamos dar muitos mais exemplos.
“Agricultura
tradicional” e “agricultura convencional”.
O exemplo chega-nos de parte das novas correntes de
pensamento ecologista (10) que, questionando os procedimentos habituais do
modernismo, por exemplo no que se refere à produção e consumo de alimentos ou à
grande revolução agrícola industrial do século XX, tratam de buscar
alternativas mais saudáveis, morais e justas aos mesmos. Sem necessidade de os
condenar – consideramos os movimentos ecologistas e “alternativos” como parte
integrante do pós-modernismo ocidental, já que supõem uma revisão crítica do
próprio modernismo, por isso cremos ainda mais necessário aclarar os termos
deste debate, pois com demasiada frequência a revisão crítica do modernismo não
se assenta sobre princípios e fundamentos sólidos.
No discurso que emana destes movimentos, podemos
encontrar que no momento de apresentar novas teorias agrícolas alternativas –
as diferentes “agriculturas ecológicas – que tentam superar a indubitável
abominação da agricultura intensiva e industrial, chama-se “agricultura
tradicional” precisamente ao que é a expressão mais consumada do modernismo
aplicado à produção de alimentos: um modelo de agricultura baseado numa lógica
tão anti tradicional como o é a baseada exclusivamente no produtivismo e a
rentabilidade económica a curto prazo, como resulta evidente para qualquer
pessoa que reflicta sobre isso.
Encontramo-nos, então, com o paradoxo de que a
agricultura maciça, industrial, bastante destrutiva, contaminadora e de uma
tecnologia superior dos últimos 60 anos é qualificada como “tradicional”. Semelhante
uso da palavra “tradicional”, é absurdo e demonstra a ignorância por parte de
quem a usa, do que tem sido, historicamente e do que significa uma perspectiva
“tradicional” como tal, seja aplicada à agricultura ou a qualquer outro âmbito
– como teremos a oportunidade de explicar brevemente, a continuação – pois a
agricultura moderna industrial não tem nada de tradicional, nem no seu
procedimento nem na sua lógica, pois não se baseia, tanto na transmissão de
conhecimentos locais e particulares, inseparáveis do contexto em que se
produziram, transmitidos oralmente de geração em geração, como na imposição de
uns modos de produção e de trabalho segundo umas “regras de mercado”
pretensamente universais, que são – pelo menos em teoria – iguais para todos e em
todos os lados sem distinção; e nem sequer num sentido histórico pois: como
podem chamar tradicional a algo que não tem mais de 60 anos de história?
Comecemos
por explicar o que deve ser entendido por “agricultura tradicional”.
Em
primeiro lugar, significa conhecimento desenvolvido e transmitido durante
inúmeras gerações, pelo qual conta com uma experiência acumulada imensa e há
que dizer que a sua sobrevivência no tempo, cumpre um papel fundamental. Esse
conhecimento é, a partir de uns princípios gerais básicos, elaborado
localmente, de forma que está muito unido ao contexto climático, natural,
cultural…etc. em que se desenvolve e é inseparável do mesmo, é, por dizer de
alguma forma, um conhecimento que não se exporta. Por este motivo, aparece como
muito aferrado à terra. Portanto não se pode falar com propriedade de uma
“agricultura tradicional”, senão de agriculturas tradicionais, todas elas, isso
sim, inspiradas nos mesmos princípios básicos.
A
agricultura moderna, pelo contrário, é basicamente globalizada, faz tábula rasa
de todos os lugares, contextos e circunstâncias, à força de se impor a todo o
custo a tecnologia sobre o ecossistema. A imposição tecnológica sobre a
natureza é um dos caracteres mais definitórios do modernismo e reconhecemos neste
facto dois princípios que já temos tratado nestas páginas.
A
ânsia universalista – o carácter colonizador e global.
A
ânsia homogeneizadora, o igualitarismo.
O
princípio básico geral em que se fundamenta a agricultura tradicional é
primeiro que tudo a sua sustentabilidade no tempo e alcançar a maior autonomia
que se possa do ciclo produtivo, tudo isso, combinado, com um gasto mínimo de
energia – o que garante a rentabilidade do mesmo.
Para
conseguir estes objectivos – sustentabilidade, autonomia e poupança – o mundo
tradicional dá forma a um ciclo de produção o mais fechado e próximo ao lugar
possível, o menos dependente que se possa de aportes de energia alheios ao
sistema. O ideal, tanto de autonomia como de rentabilidade, seria um sistema
que energeticamente fosse “de soma zero” em que se aproveitasse a energia toda.
Deste modo, enquanto a lógica moderna consiste em aumentar a rentabilidade pelo
aumento da produção, a lógica tradicional opta por reduzir o gasto energético
ao mínimo imprescindível, um gasto energético maior seria considerado um
malgasto imperdoável.
Esta
diferença nas respectivas estratégias no momento de enfrentar a produção é
devida sobretudo ao objectivo diferente que afasta uma da outra, objectivo que
indica a distância enorme entre ambos paradigmas: entretanto na lógica moderna
produz-se para vender, na lógica tradicional produz-se para viver. Enquanto a
importância de uma está na produção e o mercado do que possui valor, sempre
desde a perspectiva do modernismo; a importância da outra está na vida, de modo
que produzir não tem valor “per se”, não é um fim em si próprio, mas sim um
meio. Assim, para o pensamento mercantilista o facto de que o produzido seja
alimento é algo secundário, pois o principal é que se trate de uma mercadoria
com valor de mercado.
Por
outro lado, se reparamos no procedimento da indústria agro-pecuária moderna
observamos que o ciclo produtivo que constitui a essência da agricultura
tradicional já não é tal, pois está roto em diversos pontos de modo que é necessário
um aporte constante de energia exterior para repor a energia que sai do ciclo
produtivo e não regressa a ele, e assim aquele sistema não se recupera.
Efectivamente, a agricultura moderna requer de constantes produtos externos de
energia, aplicados por meio de procedimentos que são, por sua vez, mais
técnicos e caros.
O
ciclo converte-se assim numa linha de produção industrial difusa em que se
desperdiça e malgasta mais energia e informação quanto mais distantes estejam
entre si os elementos da cadeia. Uma vez mais a lógica moderna ao enfrentar
este problema, não é reduzir a cadeia de produção, senão injectar-lhe mais
energia, provocando com isso que a produção fique cada vez mais cara.
Finalmente, ao estar mercantilizada a produção industrial, faz-se necessária a
intervenção do dinheiro em cada um dos passos de dita cadeia – já que o produto
de cada um deles se converteu em mercadoria.
Mas
além de tudo o indicado a agricultura moderna teve outra consequência altamente
perniciosa: devido à sua extrema tecnologia produziu uma grande dependência por
parte do produtor-agricultor, de poderes e entidades externas, alheios aos seus
interesses e impossíveis de controlar por ele, mas dos que no entanto depende –
por exemplo la industria química pesada que desenvolve a maquinaria agrícola. É
como dizer que lhe rouba toda a autonomia ao produtor, que passa a ser um
elemento mais da cadeia industrial, com a única particularidade de trabalhar
fora da fábrica.
As
consequências, sobretudo sociais, deste fenómeno, são decisivas dado que a
massa social de agricultores tradicionais de todos os tempos e culturas,
destacava por ser uma associação muito independente das diferentes súper
estruturas sociais e com um grande grau de autonomia e autarquia no seu
proceder, por exemplo, no desenvolvimento de estratégias e na toma de decisões.
O que significa que usando a retorica moderna, os agricultores constituem uma
associação muito “livre”, contrariamente ao que nos faz acreditar o discurso
progressista em vigor.
Devido
a este elevado grau de autarquia e independência dos agricultores e o mundo
rural em geral, estas associações sempre foram vistas como um estrato social
particularmente renuente a qualquer intromissão estatal assim como impermeável
a toda inovação sócio-política e efectivamente o universo rural sempre foi
descrito por parte do liberalismo como reaccionário e contrário à mudança. É
conhecida, por exemplo, a resistência do mundo rural na idade média às tentativas
de centralização. O mesmo se pode dizer da sua oposição consciente à corrente
transformadora e liberal que se estendeu por Europa entre os séculos XVIII e
XIX.
E
certamente não lhes faltava razão ao desconfiar do liberalismo burguês e
urbano, pois o processo modernizador não pretendia outra coisa que
arrebatar-lhes o controlo do seu sistema de produção. Recordemos que eram donos
exclusivos do seu saber e da aplicação do mesmo campo, copado pelos técnicos e
engenheiros, como a história o tem demonstrado. Na verdade o modernismo teve o
seu ponto de partida nas cidades e na burguesia e este bem pode ser um dos
motivos principais da rivalidade secular entre campo e cidade, assim como do
ódio ao rural por parte do modernismo ocidental (11). E pode-se dizer que ter
polarizado e industrializado deste modo o sector agro-pecuário, que mudou por
completo o modo em que percebemos o alimento, tem sido um facto verdadeiramente
revolucionário, no sentido exacto do termo.
Voltando
à “agricultura tradicional” há que dizer que esta se integra no ecossistema
dando lugar a um diálogo criativo entre Homem e natureza em que ambos se vêem
transformados, superando-se a clássica oposição entre natureza e cultura. A
cultura tradicional desenvolve-se precisamente num diálogo permanente com o
meio, adaptando-se a ele. Por sua parte, perante esta dialéctica Homem-natureza
o objectivo inconfessável da visão moderna é “libertar-se” da natureza e
impor-se à mesma, tarefa que facilitou enormemente o desenvolvimento técnico.
Foi
a partir deste diálogo, entre natureza e cultura que a tradição deu lugar a
toda a riqueza e diversidade cultural prévia ao modernismo e à sua corrente
homogeneizadora, saberes humanos particulares e únicos associados geralmente a
uma região geográfica e cultural concreta. Mas, além disso a cultura
tradicional era uma fonte incalculável de biodiversidade, manifestada em
aspectos tais como, a riqueza de variedades agrícolas e criação de gado que
existiam antes que chegasse a nova agricultura moderna ou na diversidade de
paisagens a que deu lugar e de micro sistemas que se regulavam mutuamente, como
agora a ciência da ecologia começa a reconhecer.
Por
outro lado a agricultura moderna é anti tradicional por definição e cabe
qualificá-la ademais de “revolucionária”, pois tem sido dirigida a destruir a
ordem social, algo especialmente óbvio no ênfase que põe na ruptura com toda a
herança cultural anterior – à que se desqualifica sem excepção, impondo assim o
seu novo e particular (des)ordem em função dos seus critérios e objectivos.
Portanto
é totalmente impróprio o qualificativo de “tradicional” aplicado à agricultura
moderna e cremos que é mais apropriado denomina-la simplesmente moderna ou
convencional. É convencional por várias razões. Primeiro, porque de facto
obedece a uma convenção social, a lógica do mercado e a mercadoria, que de não
ser partilhada maioritariamente fá-la-ia completamente inviável. Em segundo
lugar, porque dita convenção está baseada numa superstição, ou melhor em duas:
a superstição do progresso e a superstição da técnica, as quais convidam a
acreditar que os novos “métodos modernos” são mais eficazes e produtivos, o
qual é rotundamente falso. Se lemos a definição de convencional que a RAE
proporciona vemos que tem o sentido de “pouco original e acomodatício”, o que
realmente a agricultura moderna, é.
Se
colocámos a ênfase neste uso impróprio da palavra tradicional, é porque
consideramos que este tipo de imprecisões da linguagem não fazem senão espalhar
a confusão dos termos, impossibilitando muitas vezes que as críticas ao
modernismo sejam realmente profundas e vão à raiz do problema. Como dissemos no
começo deste artigo a distorção das palavras que está a ter lugar impede que
certos discursos possam ser elaborados e comunicados, o que reduz a “realidade
mental” exclusivamente ao discurso dominante.
E
se bem advertimos que existem abundantes críticas ao modernismo, tais críticas
parecem-nos demasiado parciais e pontuais, carentes de vínculo profundo entre
si, assim como da perspectiva global necessária para encontrar novos caminhos.
Se já parece imprescindível transcender o modernismo como proposta social, é
necessário alargar a perspectiva e ver um pouco mais além. Não se trata
simplesmente de questionar o modernismo, trata-se também de poupar esforços,
pois nem tudo há-de ser reinventado desde zero, apesar da confusão ideológica aplicada
pelo que denominamos a “cultura do palimpsesto” que tratou de apagar todo o
nosso passado cultural, nos conhecimentos dos nossos antepassados ainda há
muitas coisas valiosas e dignas de recuperar que devem ser tidas em conta. De
outro modo, qualquer crítica dirigida ao modernismo não é mais do que outra
demonstração de auto- suficiência e soberba prometeica.
Notas
(1)
No sentido exacto do termo, que se refere à ordem das ideias.
(2)
Desde o ponto de vista moderno, radicalmente relativista, poderiam objectar-nos
que qualquer linguagem é uma convenção, e é certo em parte, mas que a linguagem
suponha na prática um certo grau de convenção não significa que este seja
arbitrário. Ademais tal critério relativista supõe um desprezo absoluto pela
verdade, noção de verdade que se expressa, como já Heidegger advertiu, na busca
da origem de uma palavra através da sua etimologia.
(3)
Recordemos que segundo algumas tradições, Adão, o primeiro homem, falava em
verso.
(4)
Encontramos um bom exemplo desta associação pensamento-movimento no Hatha Yoga
hindu. No mesmo, a detenção, disciplina e domínio do corpo tentam-se fazer extensivos
à mente, quer dizer, o princípio básico supõe que ao se deter e disciplinar o
corpo – conscientemente – também se força a mente a parar e disciplinar, devido
à interligação profunda existente entre ambos
(5)
Seguimos a René Guénon na nossa exposição, a grandes rasgos.
(6)
Como quando se refere ao versado que está um sujeito em matérias exclusivamente
profanas, quer dizer, que possui um saber mundano e irrelevante, absolutamente
alheio à noção de intelecto e às realidades superiores às quais serve de intermediário.
(7)
Precisamente o termo gnosis sofreu uma degradação semelhante e agora dizem-se
gnósticas às exposições pseudo- tradicionais mais variadas, ligadas
frequentemente com o ocultismo e a new-age; estamos aqui perante um caso de
esquecimento do verdadeiro significado – que está na sua origem – e da
consequente perversão do termo.
(8)
De facto é realmente casual que se impusesse o conceito de desenvolvimento na
música clássica, precisamente com a vitória definitiva do modernismo, no final
do século das Luzes.
(9)
De forma idêntica.
(10)
O ecologismo é outro termo fetiche do pós-modernismo e converteu-se em “totum
revolutum” que apenas se sabe o que significa. O mesmo serve para defender
propostas anticapitalistas e como selo de qualidade de empresas
multinacionais…um novo exemplo de como o pós-modernismo é um “Behemot” cujas
fauces deglutam tudo.
(11)
O mundo rural, onde o vínculo comunitário é identitário – baseado na terra – era
particularmente forte, tem sido, junto à tradição e à família outro dos
clássicos cavalos de batalha do modernismo, que tem tratado de desprestigiar de
todos os modos e conseguiu-o finalmente, graças a reeducar as pessoas do campo
no “complexo de atraso” e doutriná-las na vergonha e no ódio pelos seus
conhecimentos e tradições.
Agnosis
Tradução: Lúcia
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