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What part will your country play in World War III?

By Larry Romanoff

The true origins of the two World Wars have been deleted from all our history books and replaced with mythology. Neither War was started (or desired) by Germany, but both at the instigation of a group of European Zionist Jews with the stated intent of the total destruction of Germany. The documentation is overwhelming and the evidence undeniable. (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11)

That history is being repeated today in a mass grooming of the Western world’s people (especially Americans) in preparation for World War IIIwhich I believe is now imminent

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Tuesday, January 9, 2018

O FUTURO PRECÁRIO DO ESTADO-NAÇÃO por VÍTOR LIMA (3)

O futuro precário do estado-nação (3)

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                                                                                (partes 1 e 2, aqui e aqui)

As destruições da II Guerra, com particular incidência na Alemanha e na URSS, obrigaram a um enorme esforço de reconstrução e de reconstituição das economias que irmanaram ambos os blocos numa intervenção muito profunda do gasto público, no âmbito do que se veio a chamar políticas keynesianas para aumentar o PIB. 

Tudo parecia correr bem, os trabalhadores pensavam mais no consumo do que na revolução, o desemprego era marginal, os EUA eram o grande padrinho do sistema de Bretton Woods e um grande beneficiário da descolonização que remetera as antigas potências colonizadoras para um quadro regional.

Até que… o modelo implodiu por razões internas e externas, como se verá na continuação deste texto.

C - Os trinta gloriosos anos do capitalismo

13 - A reformulação do pensamento político e o esplendor keynesiano
14             - A reconstrução das infraestruturas e o início da integração europeia
15             - Instituições supra-nacionais configuram a globalização
16             – A descolonização e o declínio das nações colonizadoras
17             - A aceitação pelos trabalhadores da ordem capitalista

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C - Os trinta gloriosos anos do capitalismo

Todos os ciclos de negócios têm uma fase ascendente, que se manifesta em termos de criação de riqueza, de mais emprego e optimismo; e que dura enquanto um conjunto de novas tecnologias, outros modelos de negócio e outros figurinos políticos se desenvolvem. A esse período, sucede um outro, em que surge o esgotamento da conjugação daqueles factores, até aí geradores de optimismo, bem dos seus efeitos benéficos. Nesse período de declínio surgem ou vão-se afirmando outros fatores tecnológicos, financeiros e políticos que tenderão a estabelecer um novo paradigma de acumulação de capital, através de uma outra conjugação, o que relançará a economia para uma nova fase ascendente. 

Assim se construíram as ondas de Kondratiev, mesmo para além da sua morte e que temos vindo a utilizar para caraterizar o capitalismo, desde que se afirmou como estrutura económica dominante no planeta. Não se deve inferir do atrás referido que o capitalismo é o destino final da Humanidade; como qualquer outro modo de produção, apresenta uma duração que vai muito para além do tempo de uma geração, para grande e justa impaciência de quantos, sentindo os seus nefastos efeitos, se não contentam com as suas modificações conjunturais ou superficiais, mesmo quando favoráveis à multidão. Por exemplo, a esmagadora maioria de uma população não desdenhará um aumento salarial; porém, só um idiota irá retirar daí qualquer alteração estrutural do capitalismo.


É um facto que as teses tradicionais, históricas, de abordagem crítica do capitalismo menosprezaram as suas evidentes capacidades de aproveitamento de oportunidades e adaptação às inovações tecnológicas, a sua habilidade quanto à gestão social, política e dos negócios, de expansão para um mercado global, de criação de crédito e estabilidade monetária. Menosprezaram também o facto de os níveis de acumulação de capital terem permitido a afetação de meios financeiros e tecnológicos à  criação e manutenção de meios repressivos dos corpos e das mentes; numa primeira linha, através de um consumismo, tornado lúdico e compulsivo e, numa segunda linha, mediante um genocídio silencioso de povos e camadas sociais ou do método ancestral da guerra. Como diz Zygmunt Bauman “ o Holocausto nasceu e foi executado na nossa moderna sociedade racional, num estádio elevado da nossa civilização, em cima do patamar cultural humano e, por essa razão, é um problema da nossa sociedade, da nossa civilização e da nossa cultura”[1]; tal como o aprisionamento do povo palestiniano pela entidade israelita, aceite sem vergonha pela “comunidade internacional”.

Pouco antes da I Guerra, as divisões entre as potências e a força dos movimentos de trabalhadores admitiam um próximo desmoronamento do capitalismo, concepção que se acentuou com a Revolução Russa de 1917. Esse desmoronamento global não aconteceu mas a teoria dominante manteve-se prevendo um colapso de curto prazo, fruto de uma crise inultrapassável do capitalismo. 

Evgueny Varga, figura destacada do poder na URSS, apercebeu-se das capacidades de adaptação do capitalismo em 1946 mas, foi obrigado a reconhecer que as economias capitalistas só conheceriam o colapso; Varga terá pensado a execução de Kondratiev, uns anos antes, por ter concluído – e acertadamente – que a escolástica era uma mera construção ideológica se a realidade a desmentia. A realidade estaria … errada; Stalin e os trotskistas ocidentais estavam de acordo sobre a eminente derrocada do capitalismo a ocidente, como consequência de uma próxima estagnação que, afinal só surgiria, muito mais tarde, nos anos setenta e que então trouxe a implantação do paradigma neoliberal e não a revolução ou mesmo, um placebo chamado “socialismo”.

O segundo pós-guerra constitui o início da fase ascendente da quarta onda de Kondratiev que irá atingir o ponto de inflexão nos primeiros anos da década de 70. É um período de grandes inovações, como os transístores, o cálculo automático, os materiais sintéticos, a televisão, a pílula, o consumo em massa, a automatização, a exploração espacial, a energia nuclear e uma nova corrida aos armamentos. Trata-se de um período de crescimento dos aparelhos de estado, do alargamento da sua ação e também da criação de grupos de estados-nação com vários graus de articulação e integração.

Adiante abordaremos vários elementos estruturantes de âmbito geopolítico e social e que marcam a cena política e económica do pós-guerra.

13 - A reformulação do pensamento político e o esplendor keynesiano

O rolo compressor do exército soviético sobre os nazis, na fase final da guerra, impulsionou o apoio aos partidos socialistas e comunistas de então, por parte dos povos e, durante alguns anos, atraiu mesmo a intelectualidade; ainda que a destruição do fascismo tenha estacado a norte dos Pirinéus, poupando os regimes de Franco e Salazar.

Essa dinâmica popular de simpatia para com o modelo soviético começou a decair quando se foram divulgando as práticas repressivas de Stalin. Apesar disso, os próprios partidos então socialistas, eram forçados a apresentar ideias sociais avançadas, numa dinâmica progressista que obrigou os conservadores a adaptarem-se aos novos tempos. Os trabalhistas ingleses, que chegaram ao poder isolados em 1945, criaram um serviço nacional de saúde e um estado de bem-estar social universal e por toda a vida, para além de terem iniciado a descolonização; na maior parte dos casos, com a concordância dos conservadores, tradicionalmente pouco dados a grandes envolvimentos do Estado e, ainda convencidos do caráter de grande potência do país… promoveram o armamento nuclear. 

De modo diferente dos pragmáticos ingleses, a França mostrou, com as guerras coloniais na Indochina e na Argélia, dificuldades em se adaptar aos novos tempos. Ainda que com o predomínio da direita no poder, instituiu-se uma segurança social[2], estendeu-se o direito de voto às mulheres, enquanto se procedia à nacionalização dos grandes bancos, das companhias de seguros, das companhias elétricas e das indústrias de ferro e carvão, sem que a posse da bomba atómica tivesse ficado esquecida. 

Na Europa Ocidental vivem-se os tempos de aplicação das políticas keynesianas com forte investimento público, grande intervenção dos governos e incremento do consumo. No Leste europeu, os procedimentos eram idênticos, com uma muito mais elevada intervenção do Estado, na decisão e na execução, um reduzido papel da iniciativa privada e uma grande preocupação investidora, em detrimento do consumo. 

14 - A reconstrução das infraestruturas e o início da integração europeia

Os EUA, com os seus poderes económico e militar não só intactos mas, também reforçados após o final da guerra, face a uma Europa Ocidental fragilizada, financiam parte da reconstrução daquela através do Plano Marshall e do investimento de empresas americanas. Estas, viram na Europa uma oportunidade para a efetivação de grandes ganhos de capital a partir da reconstrução das infraestruturas e da reativação dos circuitos de comércio e de capitais; e, a partir daí, visavam também estancar ou reduzir o interesse pelo modelo soviético. 

Por outro lado, estando fresca a memória do crash bancário de 1929, efetuou-se um forte controlo sobre a capacidade do sistema bancário para a concessão de crédito, com as reservas bancárias obrigatórias a corresponder a 20/25% do total do crédito concedido; por comparação, refira-se que o BCE atualmente apenas exige 1% de reservas de caixa, uma vez que sendo o dinheiro, em geral, um produto de registos contabilísticos informáticos, no âmbito das operações de crédito, não sai do sistema bancário, ficando de fora, com valores comparativamente diminutos, as notas e as moedas. Daí resulta parte importante do poder actual do sistema financeiro, do seu domínio sobre as economias nacionais, empresas, famílias e Estados, através da dívida, delegando nas classes políticas a transferência dos efeitos da insanidade do capitalismo e do sistema financeiro, para as populações. 

Voltando ao pós-guerra, as taxas de juro reais eram então, baixas ou mesmo negativas, facilitavam os devedores, mormente os Estados, que encontravam assim formas de se financiarem sem onerar as sociedades com cargas fiscais elevadas; ao mesmo tempo que permitiam a erosão da dívida pública. Hoje, não é assim; os Estados endividam-se em paralelo com uma tributação fiscal elevadíssima, num contexto de baixa inflação.

Na sequência do Plano Marshall, criava-se, no Leste, o Comecon (janeiro de 1949) entre a URSS e os países que haviam adoptado o seu modelo estatizante e de partido único, um conjunto desconectado do sistema capitalista de mercado, ocidental; e em acerba competição estratégica com este último. 

Essa competição, num contexto de Guerra Fria e de grandes clivagens políticas no eixo esquerda-direita, seria o ponto de partida para a criação de uma sequência de actos de integração económica e política na Europa Ocidental. Referimo-nos ao Conselho da Europa (maio 1949), à declaração de Schuman (maio de 1950) e mais estruturadamente, com a criação da CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (1951), da Comunidade Económica Europeia (1957); neste último caso, a preceder uma longa série de decisões e tratados, sempre na forja, visando a constituição de um super-estado (a União Europeia) que se mostra, hoje, crescente em dimensão, profundidade e em totalitarismo; e cujas instituições se coadunam aliás, em perfeitamente com as oligarquias nacionais, em competição no reacionarismo. Afastado o perigo de confrontação e competição com um adversário a Leste, depois de 1991, a UE vem acentuando o seu pendor economicista e oligárquico, a favor das multinacionais e do sistema financeiro, ao mesmo tempo que acompanha os EUA nas aventuras guerreiras na área do Mediterrâneo.

O forte sentimento nacionalista de de Gaulle colocou a Grã-Bretanha – tomada como sob forte influência dos EUA - fora do processo de integração europeia, retirou as tropas francesas da cadeia de comando da NATO e avançou para um arsenal nuclear. No mesmo sentido, de Gaulle almejava uma suserania da França no espaço europeu ocidental beneficiando da então debilidade da Alemanha Ocidental; mais tarde essa suserania evoluiu para uma paridade (o eixo franco-alemão) o qual se transformou em supremacia alemã, com a pujança da sua economia e a reunificação.

Também no plano militar se estruturam à época, coligações antagónicas que separam a Europa em duas partes, com escassos países neutros de permeio. A NATO[3] (1949) configura-se como expressão da suserania americana que perdura até hoje, de defesa face a uma propagandeada ameaça soviética e hoje, russa; insere-se na supervisão militar que os EUA entendem estender a todos os quadrantes do planeta, com um assumido direito de bombardear, invadir, bloquear, manipular e financiar regimes, grupos militares ou meramente terroristas. No contexto da Guerra Fria, em resposta à criação da NATO surgiu, dominado pela URSS, em 1955, o Pacto de Varsóvia, entretanto extinto na sequência do desmoronamento do Bloco de Leste. No campo militar, como em muitos outros, entre os dois blocos de regimes em oposição na Guerra Fria, vigorava o mimetismo; até mesmo na forma oligárquica como as populações eram (e são) afastadas das decisões sobre as suas vidas.

15 - Instituições supra-nacionais configuram a globalização

Bretton Woods foi o cenário onde se estabeleceu em 1944 a nova ordem monetária e financeira global, com o domínio total dos EUA e do dólar. Foi então, criado o FMI, destinado ao apoio a países com problemas de deficit externo, de crescimento económico, visando o aumento do emprego e a redução da pobreza (!). Depois do fim da convertibilidade do dólar em ouro (1971) e o ocaso do keynesianismo, adoptou os preceitos neoliberais impondo medidas draconianas aos países em dificuldades e que resultam, invariavelmente, em programas de austeridade sobre a população e privatizações em troca dos financiamentos concedidos, com taxas elevadas. Em Portugal, a intervenção do FMI sucedeu em 1977, 1983/85 e, recentemente (2011/14), no âmbito do programa de reajustamento estrutural, com o FMI em parceria com o BCE e a Comissão Europeia. Outra instituição saída de Bretton Woods foi o Banco Mundial, vocacionado para financiar projetos de apoio ao desenvolvimento. 

Ainda em Bretton Woods foi desenhado um modelo estável de relacionamento entre as moedas nacionais, com a fixação de uma paridade para o dólar, em $ 35 por onça de ouro, servindo a moeda americana de referencial, evitando-se assim flutuações com impactos nocivos no comércio internacional; esse papel central do dólar, não ofereceu grande contestação, numa época em que os EUA detinham 80% das reservas mundiais de ouro, uma capacidade produtiva não destruída pela guerra e uma enorme supremacia no comércio global. O sistema funcionou enquanto a economia americana teve grande domínio também nas relações económicas internacionais; quando o dólar começou a decair, em paralelo com uma intensa procura de ouro ou de outras moedas, como o marco alemão ou o yen japonês, países com fortes excedentes comerciais, os EUA acabaram com a convertibilidade, em 1971.  

Em 1947 foi criado o GATT - Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, com o objetivo da liberalização do comércio mundial, restrito antes da guerra, então sob forte protecionismo no seio de cada um dos impérios potências coloniais, bem como entre os estados-nação, na sua generalidade. Entendia-se que o comércio livre, isento de barreiras, era fonte de eficiência económica, que alimentava a democracia e o bem-estar social; e, nessa lógica, além do comércio de mercadorias foi-se incluindo os serviços, os investimentos e as patentes, num processo que foi permitindo o domínio das multinacionais e o alargamento da sua presença pelo mundo processo esse que culminou em 1995 com a criação da OMC - Organização Mundial de Comércio, onde estão presentes a grande maioria dos países, predominando, entre as ausências, numerosos países árabes ou muçulmanos que se reservam na situação de observadores. 

Cabe ainda referir várias das muitas instituições de caráter global ou regional que federam ou substituem os estados-membros e que mostram ser cada vez maior o número e a extensão dos problemas que não podem ou devem ficar cingidos à lógica autárcica do estado-nação e das suas domésticas oligarquias. Entre as globais, podem referir-se a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a OMS - Organização Mundial da Saúde, a OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, a OIT - Organização Internacional do Trabalho, a FAO – Organização para a Agricultura e a Alimentação, a AIEA – Agência Internacional de Energia Atómica, a CNUCED/UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento… 

Porém, as agressões ao ambiente e as alterações climáticas, embora pouco discutidas durante os 30 gloriosos anos de crescimento do famoso PIB, têm hoje uma importância incontornável e tardam em ter órgãos globais de gestão, tudo ficando dependente de conferências episódicas e temporárias, no final das quais, os principais estados-nação responsáveis pelos problemas existentes, agem como entendem, sem serem objeto de sanções ou boicotes, como acontece sempre que estão em jogo clivagens geopolíticas ou ao interesses comerciais das grandes potências.

As instituições internacionais de caráter regional são muitas, sendo incontornável referir a União Europeia como caso único de aprofundamento de integração política e económica, com múltiplos órgãos decisórios que se colocam acima dos estados-membros. Referimos ainda, nas Américas, o NAFTA e o Mercosul, na Ásia, a ASEAN, a APEC e a Liga Árabe ou, em África, a SADC e a CEDEAO/ECOWAS. São ainda de referir as instituições não estatais com uma abrangência global para temas específicos, como a Cruz Vermelha ou a Amnistia Internacional. 

Em termos políticos, foi criada em 1945 a ONU como forum de diálogo e concertação entre as nações… representadas pelas classes políticas nacionais e, para mais, com a constituição de um diretório, com direito de veto, constituído por EUA, URSS, França, Grã-Bretanha e China (o regime de Taipé) e que se mantém até hoje, com a República Popular da China a substituir a ilha de Taiwan ou Formosa e a Rússia a herdar o lugar da extinta URSS, todas potências nucleares. 

16             – A descolonização e o declínio das nações colonizadoras

Para além da crispação latente nas fronteiras dos dois blocos que dividiam a Europa, uma outra ameaça provinha da descolonização que se desenhava e que tornaria os países europeus, no seu conjunto, potências regionais ao abrigo da sombra protetora dos EUA uns, da URSS, outros, com muito poucas neutralidades. 

As neutralidades face ao antagonismo Leste-Oeste viriam a crescer, sobretudo nos novos estados-nação, erigidos nas antigas colónias e, durante algum tempo, na sequência da Conferência de Bandung tiveram algum protagonismo, sob o impulso de Nehru, Tito e Chu-En-Lai. Porém, para muitos dos novos países, sobretudo em África, uma coisa era a independência política, criar hino e bandeira e outra, bem mais complexa, era criar coerência económica e autonomia, tendo como substrato material estruturas vocacionadas para o abastecimento dos países ocidentais em matérias-primas, minerais e produtos agrícolas de plantação, numa situação de dependência quanto a mercado e preços; e, tudo isso, em paralelo com a vida tradicional de populações inseridas em agricultura tradicional de subsistência, ignoradas pelo antigo colonizador e desprezadas pelas novas elites. 

Aí, sucediam-se golpes de estado com o apoio de grupos de militares ou eram as próprias hierarquias militares, que assumiam diretamente a predação em conluio com as multinacionais ou interesses ancorados nas antigas metrópoles europeias, para que se mantivesse a exploração colonial, depois da independência, sob outra bandeira; e há mesmo casos de intervenção de mercenários. Noutras situações, dirigentes corruptos - Mobutu, Houphouet-Boigny, Idi Amin, Mugabe, Bokassa, Nguema, J. E. dos Santos… - montavam regimes repressivos e predatórios, personalizados. Nos poucos casos em que houve a chegada ao poder de grupos com intenções louváveis, estes esbarravam com a falta de capitais e tecnologia e ainda com as manobras de multinacionais que exploravam divergências étnicas ou tribais conducentes ao seu derrube. A continuidade das fronteiras coloniais na sua total artificialidade, a existência de estruturas tribais separadas por essas fronteiras minavam possíveis solidariedades e, pelo contrário, impunham conflitos e guerras, o mais grave deles no Ruanda.

Noutros casos, as partilhas coloniais haviam dividido territórios com estruturas estatais antigas, redesenhando-as ou impondo novas entidades, gerando ou exacerbando antagonismos étnicos e religiosos, como se verificou após o desmantelamento do Império Otomano, com a invenção de novas entidades como o Líbano, a Jordânia ou a entidade sionista; neste caso, sob a forma de ocupação territorial por estranhos à região, com a expulsão dos seus ancestrais habitantes. O mesmo se observou na separação entre hindus e muçulmanos na Índia, geradora de um artificial Paquistão como pretenso unificador de bengalis, pashtuns, baluches e outros, na base da crença religiosa. Bem mais recentemente, afirmou-se o drama sudanês, numa primeira fase e sul-sudanês, na atualidade. No Golfo Pérsico, os Ocidentais têm sustentado a “democracia” gerida por reis e dignitários medievais que garantem o policiamento dos poços de petróleo, à custa da ausência de quaisquer liberdades cívicas. Finalmente, depois do desmoronar em Dien Bien Phu da dominação francesa no Vietnam, foram os EUA que tentaram colocar os vietnamitas nos eixos do neocolonialismo … através da aspersão com napalm e com o agente laranja.

Dois cancros políticos e humanitários sobreviveram no período em apreço, sob formas degeneradas de estados-nação; o apartheid sul- africano que haveria de durar até 1994 e a demência genocida israelita, de fachada religiosa, que perdura. No primeiro caso, a maioria da população não “branca” era confinada em bantustões, como reservas de mão-de-obra, carinhosamente designados por homelands; ou remetida para os subúrbios, para as townshipsonde se amontoavam trabalhadores sem direitos, nem condições decentes de habitabilidade, a quem o regime concedia, magnânimo, diariamente, o acesso precário às áreas dos senhores, comogastarbeiters na sua própria terra. Tratava-se de um regime cuja estrutura social e de captura do trabalho era estudada e montada metodicamente, na base de um cientismo racista e laico. 

Na entidade sionista, devido à exiguidade do território, há uma acrescida e constante ocupação do espaço que continua, no entanto, a ser partilhado, em camadas sobrepostas ou células que se pretendem estanques. Uma, mais rica, de senhores e outra, em constante reconfiguração, com controlos militares em cada esquina, constituída pelos habitantes de sempre, espoliados, humilhados, segregados, perante o passivo incómodo da “comunidade internacional”, por mais etéreo que seja este conceito. A ideologia deste regime racista não inclui tanto a expulsão dos palestinianos, como a sua submissão como fornecedores precários de trabalho barato; sagrado desígnio estatal que preenche os fanáticos religiosos é uma esperança vã, ameaçada por uma demografia desfavorável[4]. A continuidade da entidade sionista estará assegurada enquanto aos EUA[5] e ao Ocidente em geral, for necessária a existência de um quartel para controlo das terras do petróleo; só assim se entende que aos sionistas seja permitida a posse de armas atómicas e dos mísseis Jericó, com um alcance de 11500 Km (que podem atingir o… Rio de Janeiro…).
De modo mais lato, a proliferação de condomínios fechados, bem equipados, protegidos e guardados (na África do Sul de hoje, como nos meios ricos de outros países), faz parte da lógica de segmentação social em que o resto da população vive em townships, sejam os subúrbios das cidades europeias ou a grande parte das enormes conurbações africanas (Lagos, Nairobi…).

17     A aceitação pelos trabalhadores da ordem capitalista

As inovações técnicas, a reconstrução do pós-guerra, a vulgarização da produção em massa, o aumento do emprego, o afluxo de gente do campo para as cidades, as emigrações dos europeus do Sul para Norte, o grande aumento da produtividade, são factores que criaram uma grande massa de gente e de rendimentos, geradores de consumo acelerado. É um período de grande intervenção do Estado, também na análise da conjuntura e do planeamento, exigentes da elaboração de detalhadas estatísticas.

Num renovado papel do Estado, exigia-se dele fórmulas de controlo político do trabalho que não poderiam corresponder à sua militarização, como praticada pelos fascistas; e, muito menos, permitir propensões revolucionárias nos trabalhadores. A acumulação capitalista do pós-guerra fez-se através da inovação tecnológica e na gestão, na organização do trabalho, na produção em massa, com o desenvolvimento de um mercado tendencialmente global, aberto e não maculado com guerras como as havidas nas últimas décadas; fez-se também através dos objetivos introduzidos nas expectativas dos trabalhadores, com o acesso fácil a bens de consumo diversificados, bons salários e pouco desemprego, garantias contra despedimento, segurança social, férias pagas, saúde e educação públicas. Certamente alguns think tanks do capitalismo (Mises, Hayek, Friedman), perante estes “capitais” desperdiçados em medidas de caráter social, terão sorrido e grunhido… “dentro em breve, cá vos apanharemos!”.

Esse enquadramento converteu também os sindicatos a uma atuação complacente e rotineira, sem pretensões revolucionárias, como aconteceu também com os partidos incluídos no espectro da esquerda. Se isso fosse conseguido – e foi, durante os 30 anos gloriosos – não havia que temer a concorrência do modelo soviético, com todos aqueles ingredientes, mas sem conseguir a produção em massa de bens de consumo, nem a liberdade de expressão existente no Ocidente. A contestação a esse modelo de acumulação – conhecido por modelo social europeu – surgiu de movimentações de estudantes e trabalhadores em Itália e França, no período 1967/68, alimentadas por um ensino burocratizado e conservador como também pela massificação fordista do trabalho nas fábricas. A procura de uma saída sistémica, ainda que minoritária, era alimentada pela Revolução Cultural de Mao, pela intervenção militar dos EUA no Vietnam, pelo romantismo do Che, enquanto os tradicionais partidos comunistas se tornavam cordatos, conservadores, tal como a sua concorrência eleitoral e não complacentes com a invasão soviética da Checoslováquia (excepto o PCP). 

A normalização, a uniformização, a pacificação social passaram também pelos sistemas partidários nacionais e pelos modelos de representação. A conjuntura favorável apontava para o conservadorismo e a aceitação de fórmulas de alternância entre dois partidos, uma combinação de rotativismo com bipartidarismo entre duas formações políticas pouco diferenciadas mas que serviam para enquadrar as esperanças populares ora num, ora noutro, nada se alterando de substancial.


O pântano criado, marcava uma diferença face ao período entre as duas guerras, com turbulência política entre múltiplas e instáveis formações partidárias, com a presença de partidos e milícias fascistas e mesmo de regimes fascistas em grande parte da Europa. De facto, a harmonização conseguida evitou a guerra na Europa (mas não as atividades guerrilheiras do IRA, das Brigate Rosse, da RAF ou da ETA); não evitou nesse período mas, por instigação das potências europeias e da tutela norte-americana promoveu, fora de portas, a guerra na Jugoslávia, cerca de vinte anos depois.
(continua)

Este e outros textos em:

http://grazia-tanta.blogspot.com/           





[1] “Modernity and the Holocaust”, citação em Colapso, de Carlos Taibo

[2] Neste campo, em França, cabe sublinhar o papel de Ambroise Croizat que incluiu todos os riscos sociais dos trabalhadores numa só instituição, a criação de um sistema de segurança social que abrange ativos e não ativos, com financiamento das empresas, do nascimento até à morte e com uma gestão confiada aos próprios beneficiários. Um dos aspetos mais avançados socialmente era a atribuição de um salário equivalente a 225 h mensais a uma mãe que ficasse a tomar conta de dois filhos, como reconhecimento de um trabalho efetivo, desligado da órbita do capital (conf “Acabar com as Lutas Defensivas” de Bernard Friot (Le Monde Diplomatique, nov/2017)

[3] O derrube do Muro de Berlim e o desmembramento do bloco de Leste e da URSS conduziram à desaparição do Pacto de Varsóvia mas não a da NATO. Os EUA precisam de manter um pé na Europa, como monitores, agitando uma ameaça russa para garantirem a venda de armas; e, na prática, diretamente, através da NATO ou outras siglas militaristas onde participa, vem intervindo em áreas geográficas que não envolvem, nem sequer confinam com países membros ou ainda, de onde não partem ameaças para aqueles. 

[4] Em Portugal, a pequena e isolada comunidade judaica de Belmonte tem sido objeto de assédio junto de jovens para que vão viver para os territórios ocupados pelos sionistas. Para agradar aos sionistas e… atrair investimento estrangeiro, nos meios governamentais da paróquia lusa pretende-se atribuir passaporte português a sefarditas de origem lusitana emigrados para a Grã-Bretanha quando da sua expulsão há cerca de 500 anos; o que não é extensível aos descendentes de mouros expulsos na mesma ocasião… Dentro da imbecilidade que é apanágio da classe política portuguesa, aguarda-se que sejam atribuídos – num 10 de junho, dia da “raça” - passaportes póstumos a David Ricardo e Benedito Spinoza, que tiveram ancestrais próximos membros de comunidades judaicas de origem portuguesa.

[5]  A posição das grandes potências tem sido comum na sustentação do sionismo em terras palestinianas. A Grã-Bretanha favoreceu a instalação das primeiras levas de judeus para a Palestina, no final da II Guerra; a França forneceu a tecnologia nuclear; os EUA são os grandes financiadores de capitais privados e de armamento; e a URSS, nos anos 80 encaminhou centenas de milhares de judeus soviéticos para reforçar o povoamento da entidade sionista.


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