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Quem e como nos conduzem à catástrofe
Nota da Redacção
Em 12 de Junho de 1901, o físico francês,
Henri Becquerel, identificou e quantificou pela primeira vez, a radiação
proveniente de uma amostra de urânio. O fenómeno será classificado,
sucessivamente, por outra cientista francesa, Marie Curie, como radioactividade.
Esta descoberta,no principio da década de
1900, abre a estrada para um futuro inimaginável, ao progresso nos campos
médico e energético, a descobertas que anunciavam riqueza e felicidade para
toda a Humanidade. Mas abria, também, o caminho para o desenvolvimento da radioactividade
no campo militar e, em seguida, ao uso da ameaça nuclear como supremacia política.
A um século de distância, a maravilha científica é substituída pelo temor
difuso de um perigo furtivo e permanente.
A Associação dos Cientistas Atómicos
Americanos, responsável pelo desenvolvimento extraordinário do nuclear e,
consciente da sua responsabilidade, mudou o ponteiro do Relógio do Apocalipse,
o assinalador do tempo simbólico do risco nuclear, de 3 minutos para a meia
noite em 2015, para 2,5 minutos para a meia noite em 2017.
Manlio Dinucci, com o seu livro ‘Guerra
Nuclear – O Dia Anterior’, explica com precisão documentada, a História dos
últimos setenta anos de convivência com o nuclear e denuncia quem são os que,
desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a
usam sem receio no que respeita à
segurança dos seres vivos e como eles querem nos levar à catástrofe, ao deserto
nuclear.
Tudo começou em Agosto de 1945. O Presidente
dos Estados Unidos, Henry Truman, tomou uma decisão terrível: a de lançar uma
bomba atómica sobre o Japão, para pôr um fim à guerra, já terminada na Europa.
Ordenou ao Comandante da Força Aérea Americana no Pacífico, Carl Spaaz, de
lançar um engenho sobre uma cidade de tamanho médio. Foram escolhidas quatro
cidades mediante a importância e a localização. No fim o destino recai sobre
duas delas, Hiroshima e Nagasaki, em parte, por razões metereológicas. Uma imensa
bola de fogo envolveu a cidade, transformando-se numa enorme núvem de fumo em
forma de cogumelo. Esta forma característica tornar-se-á a imagem clássica da catástrofe
nuclear tão temida. O bombardeamento causará a morte imediata de, pelo menos,
de cem mil pessoas no perímetro de 1,5 km do epicentro da explosão. As
radiações atingiram dezenas de milhares de pessoas que continuaram a morrer ao
longo dos anos. Tinha sido libertado um monstro que não se podia conter,
invísivel e altamente mortal.
Será que o Presidente Truman tinha escolhido,
realmente, lançar o engenho, unicamente, para pôr fim à guerra no Pacífico? Talvez
as coisas não sejam assim. É sabido agora, que o Japão tinha oferecido, através
de diversos canais diplomáticos, a sua rendição, mas impunha a condição não
renunciável da intocabilidade da figura do Imperador. A minoria da esquerda nos
USA, era contrária a exonerar o maior responsável pelo militarismo japonês da
sua responsabilidade e Truman, de repente, sensível ao pedido da esquerda,
fortaleceu-se com esta recusa para, deste modo, rejeitar as diligências da
diplomacia japonesa. Será possível que o
Presidente americano, ao atingir o Japão, quisesse na realidade, ameaçar e
redimensionar o papel dos Soviéticos, os verdadeiros vencedores do nazismo na
Europa? (Gian Luigi Nespoli e Giuseppe Zambon, Hiroshima-Nagasaki, Zambon Editore,
Verona 1997).
As primeiras reportagens da cidade
bombardeada deixaram as pessoas petrificadas perante esta enorme força
desconhecida. A monstruosa quantidade de mortos e feridos de patologias
desconhecidas e não curáveis causadas pelas radiações, impressionou o mundo
inteiro, entregando aos Estados Unidos o
troféu de nação invencível.
Em seguida, o Pentágono continuará a
financiar os estudos sobre o nuclear e, no final da presidência de Eisenhower,
o Complexo militar/industrial começará a influenciar a política americana,
exarcebando o perigo do comunismo e de uma possível invasão soviética da
Europa. Este estado de guerra não declarada encorajava uma corrida ao armamento
que fazia andar a toda a velocidade as fábricas, enquanto os aliados europeus, a
Grã-Bretanha e a França, por sua vez, se esforçavam para dotar-se da bomba atómica e poder, assim,
aceder à mesa dos poderosos. A URSS, obviamente tentou recuperar o tempo do
atraso tecnológico que a afastava dos USA. Assim, o nuclear entrava na cena
política internacional como dissuasão entre as forças em oposição durante a Guerra Fria.
Durante muitos anos, temeu-se que um erro
furtuito na sala dos botões pudesse terminar a existência da Humanidade. Só
depois da dissolução da União Soviética e com os diversos tratados para o
controlo do rearmamento nuclear, nos
anos seguintes, é que se acreditou que não se devia temer o nuclear. Mas como
demonstra o livro de Dinucci, tratava-se de um falso sentido de segurança,
porque, em silêncio, continuou a pesquisa e a produção de novas armas muito
sofisticadas.
Hoje estamos novamente perante os Estados
Unidos que desafiam a Rússia, com um olhar para a China, uma situação semelhante
à da Guerra Fria, mas muito mais temível,
porque ao contrário da década de 1970, quando os antagonistas tinham concordado
com um último telefonema através do famoso
telefone vermelho antes de qualquer acção definitiva, actualmente todos os
adversários sabem que só obtém a vitória, quem lançar o primeiro míssil.
Revela o Washington Post que se autorizam ataques preventivos contra
os Estados que estejam quase a comprar armas de destruição em massa.Em
plena sintonia com a teoria do PNAC (Project
for a new American Century, Projecto para um novo século americano)formulado
pelos neo-conservadores e cada vez mais aplicada à política americana: A História do Sec. XX deveria ter ensinado
que é importante plasmar as circunstâncias antes que as crises surjam e
enfrentar a ameaça nuclear e enfrentar as ameaças antes que se tornem trágicas.
A História deste século deveria ter
ensinado a abraçar a causa de uma liderança americana... estabelecer uma
presença estatégica militar em todo o mundo através de uma revolução tecnológica
no contexto militar, desencorajar o aparecimento de qualquer super potência
competitiva, lançar ataques preventivos contra quaisquer poderes que ameacem os
interesses americanos.
Da narrativa do nascimento da bomba e da
aniquilição das duas cidades japoneasas até há corrida renovada aos armamentos,
com um percurso de nove capítulos densos de informação e pormenores
documentados, Manlio Dinucci introduz o leitor no mundo do nuclear e da
política que o acompanhou sobre o fundo de um cenário internacional em mudança.
O autor revela acidentes nucleares desconhecidos, o risco das centrais atómicas
obsoletas e os atentados às mesmas, o uso do urânio empobrecido nos
bombeardeamentos na Jugoslávia e no Iraque, as guerras escondiddas, as guerras
comissionadas, as guerras no Médio Oriente, o nascimento do ISIS, a inquietante
cumplicidade americana no armamento dos terroristas islâmicos, a NATO e a CIA a
trabalhar na Ucrânia, a perigosa expansão da NATO nos países de Leste em
direcção à Rússia.
A política estrangeira americana parece
dividir a Europa em duas entidades: de um lado a nova Europa, constituída pelos antigos países satélites da União
Soviética – Repúblicas dos Balcãs, Polónia, República Checa, Eslováquia,
Hungria, Bulgária, Roménia e, do outro lado, a parte fundadora da União
Europeia. A primeira é considerada a aliada mais firme, onde fazer fluir
financiamentos, armas, soldados e bases de mísseis para instalar contra a
Rússia; a segunda é mantida sob controlo,para que não ouse conspirar economica
e financeiramente com a Rússia ou outras nações inscritas no livro negro dos
EUA, penalidades pesadas, ameaças de sanções e crises bancárias. Quase toda a
Europa é membro da NATO e alberga grande número de bases militares que
armazenam armas e bombas nucleares em Itália, Bélgica, Holanda e Alemanha. É
evidente que a Europa está numa posição de sujeição aos Estados Unidos e é
considerada a parte fraca das forças em campo.
Um capítulo do livro descreve as novas
armas e abre uma antevisão da guerra estelar: a mudança das armas cinéticas em
armas de energia dirigida.Não usam mais balas, mas impulsos electromagnéticos,
ondas de calor, armas cibernéticas e outras diabruras de ficção científica que
só tinhamos visto em filmes e como tal, pensávamos ser pura fantasia. Hoje são
uma realidade terrível, como os drones miniaturizados com as mais diversas
utilizações, como matar por comando remoto ou transportar mini-nukes, que
espalham epidemias ou mais simplesmente, mosquitos espias. Igualmente incrível
é o desenvolvimento dos sistemas espaciais e dos aviões robotizados para
destruir os satélites das comunicações dos adversários e para enviar armas para
o espaço.
No final desta extraordinária cavalgada ao
longo da história dos nossos anos mais recentes, o livro explica a posição
actual do poder americano, reivindicando a defesa do amargo fim dos seus
privilégios antes do aparecimento de outros poderes. Para este fim a pressão
militar americana aumenta em todos os continentes. O Pentágono controla
directamente, 4.800 bases e outras instalações militares. O mundo está dividido
em seis áreas, cada uma das quais está submetida ao controlo de outros tantos
Comandos Combatentes Unificados dos Estados Unidos. A estes Comandos juntam-se
três operacionais à escala global que presidem as forças nucleares terrestres,
navais e as operações no espaço e ciber espaço, a guerra electrónica e
missilística; as operações especiais e as operações psicológicas; o transporte,
a mobilidade e o abastecimento dos exércitos.
Dinucci conta com precisão as funções de
cada uma e o panorama descrito é impressionante, porque se desenvolve
paralelamente ao nosso quotidiano, na quase total ignorância do público, que é
tido deliberadamente na ignorância do facto de que as bases constituem o
primeiro objectivo destinado a receber o contra ataque.
A seguir:
Nota sobre o Autor
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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