5 DE MARÇO DE 2020
Origem da foto: CDC/Dr. Fred Murphy – Public Domain
Um vírus microscópico tem estado, como sempre, a perturbar os negócios globais: a matar pessoas em todo o mundo, a hospitalizar inúmeras outras e a espalhar uma pandemia de medo. O Los Angeles Times noticiou, em 1 de Março de 2020, o novo corona vírus “propaga arrepios, diariamente, através do planeta”.
Numa área do tamanho de um quarto dos Estados Unidos, a China bloqueou mais de 100 milhões de cidadãos. As restrições de viagem estão a afectar 780 milhões de chineses.
A máquina humana
Esta intrusão imprevisível de um ser invisível na vasta máquina humana, está a destruir lentamente o mundo no seu rasto mortal.
A máquina humana é extremamente complexa. É formada por exércitos, bombas nucleares, comércio internacional, construção, compra, venda, viagens, guerra, exploração florestal, queimadas na Amazónia, roubando-se uns aos outros entre si - o mundo natural, o êxodo rural em direcção às cidades superlotadas, os obesos e as pessoas famintas a dormir uns ao lado dos outros: alguns dormindo no luxo e outros nas ruas. Entretanto, no meio destas calamidades sociais e ecológicas, os privilégios chovem sobre os bilionários ricos e super ricos.
As autoridades governamentais e a Organização Mundial da Saúde não vêem a interligação entre esse inferno na Terra, a falha da ordem internacional e o vírus. Limitam-se a emitir instruções sobre a magnitude e os sintomas da doença corona. Nem uma palavra que talvez esse tipo de coisa - ataque antropogénico na Terra, parecido com uma guerra biológica - seja provavelmente a explicação para o vírus corona.
Demasiada população
Esse pensamento é estranho às sociedades e aos países absorvidos na sua luta diária pela sobrevivência. Têm populações a crescer em demasia. Em 1800, o planeta tinha 1 bilião de pessoas. Em 2019, a população mundial era de 7,7 biliões. O número de pessoas continua a aumentar, duplicando mesmo em poucas décadas. Este facto assegura tensões de classes, a exploração dos fracos pelos poderosos, o empobrecimento do mundo natural e ondas perpétuas de migrantes e refugiados à procura de uma vida melhor.
As populações dos países tropicais no sul, estão a crescer mais rapidamente do que as do norte. Algumas delas estão a explodir internamente e a transbordar fronteiras. A guerra, como na Síria, e temperaturas mais altas tornam esse movimento populacional inevitável, trágico e perigoso.
O caos do clima
Ao mesmo tempo, a máquina mundial está a ser ameaçada por um clima diferente e muito mais perigoso. É o resultado de uma apatia de décadas, especialmente por parte dos países do hemisfério norte, responsáveis pela maior parte da poluição da Terra há mais de um século. No entanto, eles continuam a ignorar a destruição corporativa e estatal de florestas, terras e mares. Os principais combustíveis por trás de tais ataques incluem o petróleo, o gás natural e o carvão.
Os cientistas do clima têm dito aos “formuladores da política” em todo o mundo que a queima de combustíveis fósseis é nociva. Está a desencadear o potencial fim da vida. É moralmente abominável e monstruoso. Está a arruinar a civilização.
Os cientistas explicam que o aumento da temperatura mundial está a derreter o gelo nas montanhas e nos mares, com o resultado da subida e do aquecimento das águas do mar e os oceanos estão a destruir as costas e as ilhas.
As mudanças climáticas estão a mudar a agricultura para pior. A agricultura industrializada está a tornar-se menos produtiva e mais doentia. Os gerentes empresariais e os cientistas continuam a brincar com a engenharia genética das culturas. Também continuam a aumentar as quantidades de pesticidas tóxicos e cancerígenos que pulverizam nos alimentos que as pessoas comem.
As quintas de criação de animais são as principais fontes de gases de efeito estufa. No entanto, tornaram símbolos de riqueza. O abate incalculável e o consumo de animais estão na moda e estão a aumentar. As fábricas de animais estão agora na China a produzir carne para centenas de milhões de pessoas urbanas. Este mergulho na agricultura industrial é um mau presságio para os esforços da China, em se familiarizar com a sua antiga cultura agrária, uma civilização muito menos ecológica.
Os mares e os oceanos mais quentes estão a tornar-se cada vez menos acolhedores para a vida, incluindo para os peixes. Acrescente-se a pesca maciça comercial e o futuro do fornecimento alimentar de peixes torna-se problemático e sombrio.
A mudança climática parece abstracta. Mas não é. É uma força cósmica originada pelas actividades humanas de destruição intencional de ecossistemas, especialmente a agricultura industrializada, o corte e queima de florestas e a queima de combustíveis fósseis. Esse clima despertado é um monstro gigantesco que transforma a Terra num lugar hostil para seres humanos e animais selvagens.
A fragilidade da vida
Isto é importante porque a Terra foi sempre a Mãe Terra: fonte de toda a vida, animal e humana, e da civilização. Os seres humanos atingiram um estado de recursos tecnológicos que ameaça a sua própria existência (com qualquer instalação de armas nucleares) ou com o enfraquecimento mais lento da sua civilização (com a queima de combustíveis fósseis e com políticas ecocidas agressivas).
O que devemos dizer sobre estes factos? Ousamos ligá-los à ciência e ao progresso?
Tenho criticado estes desenvolvimentos abismais e imorais há décadas. Não é que não tenhamos recebido avisos sobre a fragilidade da vida ou sobre os efeitos tóxicos das políticas públicas para fins de lucro privado e não para o bem das populações.
Eurípides, o génio de um poeta que viveu no séc. V AC, em Atenas, fala como se estivesse vivo hoje. Ele exorta-nos a viver com responsabilidade todos os dias, como se esse fosse o último. Ele diz: ‘A morte é uma obrigação’. É o preço que todos pagamos. Hoje, nenhuma pessoa viva pode falar com autoridade sobre estar viva ou morta amanhã. Não importa os estudos científicos que vocês façam, não há como prever o futuro. Ninguém pode determinar a sorte negra. Somos apenas humanos, então pensem de acordo com pensamentos humanos. Prestem atenção em Afrodite e nos prazeres que ela oferece. Bebam um pouco de vinho e vão-se divertir. A vida para as pessoas solenes e irresponsáveis não é vida, mas é uma catástrofe (Alcestis 780-802).
Poder desumano
Essa catástrofe foi codificada no DNA daqueles que construíram bombas nucleares e ainda as mantêm como balas potenciais contra os seus inimigos. Manter a posse dessas armas destrutivas e genocidas torna possível todas as outras atrocidades contra o mundo natural e contra os seres humanos. Nada é pior que a explosão da energia nuclear. Congela os seres humanos no campo desumano dos exterminadores.
A energia nuclear é uma energia desumana. Está a uniformizar todos os outros males do mundo: queima e desmatamento de florestas, mineração de terras públicas à procura de petróleo, pilhagem do mundo natural, industrialização da agricultura para minerar a terra em busca de comida e queima de combustíveis fósseis e ignorar as consequências das mudanças climáticas .
Não pretendo conhecer as origens do vírus corona: a fonte da actual emergência mundial da saúde. Em 28 de Fevereiro de 2020, o congressista Ami Bera, presidente do Subcomissão das Relações Exteriores da Ásia, do Pacífico e da Não-Proliferação, descreveu o coronavírus como uma “ameaça à saúde pública em rápida evolução”.
Não seria exagero adivinhar, como já fiz, as origens do vírus pandémico nos efeitos nocivos do ser humano sobre o mundo natural, sobre a nossa Mãe Terra. Os biólogos devem fazer a pergunta científica e filosófica se a vida selvagem não perturbada é uma fonte de doenças mortais. Duvido que seja. As doenças provêm de distúrbios ecológicos, muito frio, muito calor, má alimentação, falta de comida, poluição e guerras. No entanto, os relatórios convencionais sugerem que o vírus corona surgiu em Dezembro de 2019 nos mercados de animais selvagens da grande cidade de Wuhan, na China.
Tornar a imaginar o mundo
Se estiver correcto na minha especulação, uma solução real e não cosmética da pandemia exigiria refazer o mundo: proibir as armas nucleares e instalações nucleares; impor um rigoroso controlo da população mundial como o da China; acabar com os combustíveis fósseis, substituindo-os por energia solar, eólica e outras formas de energias renováveis; regressar à agricultura democrática e ecológica em pequena escala sem fertilizantes sintéticos e pesticidas. E, é claro, uma proibição mundial da pilhagem dos recursos do mundo natural.
Eu sei que é um sonho, com a probabilidade de não ir muito longe. Mas sou um sonhador, apaixonado pelo bem e pelo belo. O mínimo que posso fazer, e estou a fazê-lo, é falar a verdade aos que estão no poder.
A ONU e outros cientistas do clima deram aos que formulam a política, cerca de dez anos para a eliminação de combustíveis fósseis.
O desafio de reinventar e concretizar o mundo é imenso. O fogo de Prometeu ainda está aceso entre nós. Vamos usá-lo para benefício de toda a Humanidade. Concentrem-se na restauração da saúde ambiental e pública. Sem saúde, não se faz nada. Herophilos, um médico grego do séc. III AC, escreveu no seu “Regimen” que, quando a saúde está ausente, a sabedoria desaparece, a ciência torna-se obscura, a força dissipa-se, a riqueza é inútil e o raciocínio impossível (Sextus Empiricus, Against the Matemmaticians 9.50).
No nosso caso, a riqueza dos bilionários em todo o mundo poderia ser bem utilizada nessa luta épica de reconstruir a nossa civilização e o nosso ambiente destruídos.
Evaggelos Vallianatos, historiador e estratéga ambiental, trabalhou na Agência de Proteção Ambiental dos EUA durante 25 anos. É autor de 6 livros, incluindo Poison Spring com Mckay Jenkings.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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