Traduzido por Manuel B. Baptista
Durante vários
anos, desde o avanço global para desenvolver Veículos Eléctricos numa escala massiva,
o elemento Lítio tem sido considerado um metal estratégico. A procura é enorme
na China, nos EUA, na UE, no presente; a garantia de controlo no fornecimento
de lítio desenvolve-se numa luta geopolítica própria, que não deixa de evocar a
do controlo do petróleo.
A China Joga
para Assegurar Fornecimento
Para a China,
que estabeleceu entre os principais objectivos tornar-se o principal produtor
mundial de VEs, desenvolver os materiais das baterias a lítio é uma prioridade
para o 13º Plano Quinquenal (2016-20). Embora a China possua as suas próprias
reservas de lítio, a capacidade de recuperação é limitada, levando-a a
assegurar direitos de mineração de lítio no estrangeiro.
Na Austrália,
a companhia Chinesa Talison Lithium, controlada por Tianqi, faz mineração e
possui as reservas maiores do mundo e de maior teor em Greenbushes, na
Austrália Oeste, perto de Perth.
O maior
produtor primário de lítio mundial é a Talison Lithium Inc. A mina de
Greenbushes na Austrália, produz hoje cerca de 75% do consumo chinês em lítio e
cerca de 40% do consumo
mundial. Isto, assim como outras matérias-primas australianas, fez com que
as relações com a Austrália, um aliado firme dos EUA, assumissem importância
estratégia para Pequim. Igualmente, a China tornou-se o maior parceiro
comercial da Austrália.
No entanto, a
influência crescente da China na economia do Pacífico, em torno da Austrália,
levou o primeiro-ministro Scott Morrison a enviar uma mensagem de aviso no
sentido da China não se imiscuir nesta região estratégica para a Austrália. Em
finais de 2017, a Austrália, crescentemente preocupada com a expansão chinesa
na região, retomou a cooperação com aquilo que se designa informalmente o
«Quad», com os EUA, a Índia e o Japão, ressuscitando uma tentativa anterior de
pôr em cheque a influência da China no Pacífico Sul. A Austrália, também
recentemente, avançou com empréstimos a nações insulares do Pacífico para
contrabalançar os empréstimos da
China. Tudo isto torna claro o imperativo da China em ir à procura globalmente
doutras fontes para assegurar abastecimento em lítio, de modo a se tornar o
agente principal da economia emergente dos VE, na próxima década.
Assim que o
desenvolvimento dos veículos eléctricos se tornou uma prioridade na
planificação económica chinesa, a procura de fonte segura de lítio levou-a a
virar-se para o Chile, outra das principais fontes de lítio. Aqui, a empresa
chinesa Tianqi é detentora duma participação importante da Sociedad Quimica Y
Minera (SQM) chilena, um dos maiores produtores mundiais de lítio. Se a empresa
chinesa Tianqi conseguir ganhar o controlo da SQM, isso irá mudar a geopolítica
do controlo do lítio, segundo as notícias da indústria
mineira.
O fornecimento
global de metais de lítio, uma componente estratégica das baterias a iões lítio
utilizadas para os veículos eléctricos (VEs) está concentrada em muito poucos
países.
Para se ter
uma ideia da procura potencial de lítio, a bateria para o Modelo S da Tesla,
requer 63 quilogramas de carbonato de lítio, o suficiente para cerca de 10 000
baterias de telefones celulares. Numa notícia recente, o banco Goldman Sachs
designou o carbonato de lítio como a nova gasolina. Apenas 1 por cento de
aumento na produção de veículos eléctricos, poderia aumentar a procura de lítio
em mais de 40% da produção global actual, de acordo com Goldman Sachs. Com
tantos governos a exigir menores emissões de CO2, a indústria automóvel global
está a expandir os seus planos para produção em massa de VEs na próxima década,
o que torna o lítio potencialmente tão estratégico como hoje o petróleo.
Qual é a
«Arábia Saudita» do Lítio?
A Bolívia,
cujo lítio é de longe mais complicado de se extrair, também tem sido alvo de
interesse de Pequim, nos anos mais recentes. Algumas estimativas geológicas
consideram a Bolívia como a detentora das maiores reservas mundiais. Apenas nos
depósitos salinos de Salar de Uyuni, estima-se que haja nove milhões de
toneladas de lítio.
Desde 2015, a
companhia mineira chinesa CAMC Engineering Company, tem vindo a operar uma
grande fábrica na Bolívia, para produzir Cloreto de Potássio como fertilizante.
A CAMC é discreta quanto ao facto de que, sob o cloreto de potássio, se
encontram as maiores reservas de lítio conhecidas no mundo, nos depósitos
salinos de Salar de Uyuni, um dos 22 depósitos salinos da Bolívia. A empresa
chinesa Linyi Dake Trade em 2014 construiu uma fábrica piloto de baterias de
lítio, nesta mesma localização.
Depois disso,
em Fevereiro de 2019, o governo de Morales assinou outro acordo de exploração
do lítio, desta vez com o grupo chinês do Xinjiang, TBEA Group Co Ltd, que terá
uma posição de 49% de participação na companhia estatal boliviana YLB. Este
acordo destina-se a produzir lítio e outros materiais, a partir das salinas de
Coipasa e de Pastos Grandes, com um custo estimado
em 2,3 biliões de dólares.
Em termos de
lítio, a China está actualmente a dominar o Novo Grande Jogo global pelo
controlo de recursos. As entidades chinesas controlam agora quase metade da
produção de lítio mundial e 60% da capacidade de produção de baterias
eléctricas a lítio. Dentro duma década, prediz a Goldman Sachs, a China poderia
fornecer 60% das baterias para os VEs no mundo inteiro. Em resumo, o lítio é
uma prioridade
estratégica para Pequim.
EUA/China
Rivalidade pelo Lítio?
O outro actor
principal no mundo da mineração do lítio, hoje, é os EUA. A companhia
Albemarle, de Charlotte, Carolina do Norte, com um impressionante conselho de
directores, tem participações mineiras principais na Austrália e no Chile,
nomeadamente, tal como tem a China. Em 2015 a Albemarle tornou-se um factor
dominante no mundo da mineração do lítio, quando comprou a companhia dos EUA,
Rockwood Holdings. Significativamente, a Rockwood Lithium estava operando no
Chile, no Salar de Atacama e na acima citada mina de Greenbushes da Austrália,
onde o grupo industrial chinês Tianqi possui 51%. Isto dava a Albemarle 49% de
participação no vasto projecto de lítio australiano, em parceria com
a China.
O que começa a
tornar-se claro é que as tensões sino-americanas no plano económico, também
incluem provavelmente a contenção da influência chinesa no controlo das
reservas estratégicas de lítio. O recente golpe militar que forçou Evo Morales
a ir para o exílio no México mostrou, desde logo, as impressões digitais
de Washington. A entrada da presidente interina Jeanine Áñez, uma cristã
direitista e do milionário direitista, Luis Fernando Camacho, assinalam um
nefasto virar à direita, no futuro político deste país, com um claro apoio de
Washington. Será crucial, entre outras questões, verificar se um futuro governo
irá anular os acordos de mineração de lítio com as companhias chinesas.
Igualmente, a
anulação do encontro da APEC de 16 de Novembro no Chile, que iria ser palco
duma cimeira sobre comércio, entre Trump e Xi Jinping, adquire outro
significado. O encontro também seria ocasião para concluir acordos de comércio
entre a China e o Chile, de acordo com o «South China Morning Post». A
delegação prevista do lado de Xi, incluía 150 chefes de empresa e tinha planos
para assinar acordos económicos importantes, aumentando ainda mais os laços
económicos China-Chile, algo que os EUA recentemente desaconselharam.
A erupção de
protestos de massas em todo o Chile, opondo-se ao aumento dos bilhetes de
transportes públicos, mostra sinais semelhantes a outras causas económicas
desencadeando distúrbios, no início de Revoluções Coloridas. Os protestos
tiveram o efeito de cancelar a cimeira da APEC no Chile. O papel activo de ONGs
financiadas pelos EUA nos protestos do Chile, não foi confirmado, mas as
relações económicas crescentes entre o Chile e a China, realmente não podem ser
vistas como positivas por Washington. A exploração de lítio no Chile pela China
é, neste ponto, um factor estratégico e geopolítico pouco discutido, e que
poderia ser alvo das intervenções de Washington, apesar do presente governo
chileno ter uma orientação económica de mercado livre.
Nesta
confluência, torna-se clara a existência de uma batalha global pela dominação
do mercado de baterias de VEs, onde o controlo do lítio tem um lugar central.
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F. William
Engdahl é um consultor de risco estratégico e conferencista, possui um diploma
em política da universidade de Princeton; é um autor de «best-sellers» sobre
petróleo e geopolítica; o artigo acima foi primeiro publicado em inglês no
magazine online “New Eastern Outlook.”
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