MANLIO
DINUCCI
GUERRA
NUCLEAR
O DIA
ANTERIOR
De
Hiroshima até hoje:
Quem e
como nos conduzem à catástrofe
O DIA
ANTERIOR, ENQUANTO ESTAMOS A TEMPO
9.1 A
estratégia do Império Americano do Ocidente
Um vasto
arco de tensões e conflitos estende-se da Ásia Oriental à Ásia Central, do
Médio Oriente à Europa, da África à America Latina. Os «pontos quentes» ao
longo deste arco intercontinental – Península Coreana, Mar da China Meridional,
Afeganistão, Síria, Iraque, Irão, Ucrânia, Líbia, Venezuela e outros – têm
histórias e características geopolíticas diferentes, com factores específicos
sócio-económicos internos, mas, ao mesmo tempo, estão ligados por um único
factor: a estratégia com a qual os Estados Unidos da América procuram manter a
sua posição de superpotência dominante.
Os
Estados Unidos ainda são a primeira potência económica do mundo, sobretudo
graças aos capitais e aos mecanismos com que dominam o mercado
financeiros global,às multinacionais com que exploram os recursos
humanos e materiais de cada continente, à alta tecnologia e às patentes
relacionadas na sua posse, ao papel penetrante dos seus grupos de multimedia
que influenciam as opiniões e os gostos de biliões de utentes à escala
planetária.
Basta
pensar que a NYSE, a principal Bolsa de Valores do mundo (conhecida como Wall
Street), com sede em Nova York, incorporou a Euronext, em 2007, criando a
NYSE-Euronext e esta, por sua vez, é comprada em 2013 pela Intercontinental
Exchange, um grupo americano que gere outras 10 Bolsas prestigiosas, com um
valor de acções que totaliza o dobro do produto interno bruto mundial.
Basta pensar que a Apple, a multinacional americana número um do mundo no
sector dos produtos informáticos, tem uma rede de mais de 800 fábricas em
trinta países, com mais de um milhão e meio de operários e técnicos que
produzem os componentes simples, os quais são enviados a 18 instalações de
montagem final, de onde saem os produtos finais para serem distribuídos pela
rede de vendas a escala global. Basta pensar que, entre os 10 grupos mediáticos
mais destacados do mundo, nove são americanos. O grupo Time Warner é composto
por mais de 300 sociedades, entre as quais a Warner Bros que produz filmes e
telefilmes difundidos em todo o mundo, a CNN, cujo noticiário é transmitido
vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, em todo o mundo, a Time Inc. e
outras casas editoras que publicam mais de cem revistas internacionais. A compra
da Time Warner pela AT&T, a gigantesca empresa americana dos telefones
móveis/celulares e da Internet, cria um grupo multimédia de dimensões ainda
mais colossais.
Com
estes e outros instrumentos, os Estados Unidos permanecem a principal potência
económica do mundo. A sua supremacia é posta em perigo ao emergir novos
elementos/personagens estatais e sociais. Salienta-se a Cimeira do
BRICS (Brasil, Rússia,Índa, China, África do Sul), ocorrida em 2017, em Xiamen,
na China. Os BRICS exigem a revisão das quotas e, portanto, dos votos
atribuídos a cada país, no interior do Fundo Monetário Internacional: os USA,
por si, detêm mais do dobro dos votos totais dos 24 países da
América Latina (México incluído) e o G7 (EUA, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha,
França, Itália e Canadá) detêm o triplo dos votos do grupo dos BRICS. Dando voz
às «preocupações do BRICS sobre a injusta arquitectura económica e financeira
global, que não tem em consideração o peso crescente das economias emergentes,
o Presidente russo Putin sublinha a necessidade de «superar o domínio
excessivodo número limitado das moedas de reserva». A referência ao dólar
USA é clara, pois que constitui a moeda dominante nas moedas de reserva e no
comércio mundial, em particular aquela com que se faz a avaliação do preço
internacional do petróleo.
Porém,
em 2016, o yuan chinês entra para fazer parte do cabaz de moedas de reserva do
Fundo Monetário Internacional juntamente com o dólar, o euro, o yen e a libra
esterlina. Um ano depois, a Venezuela começa a indicar o preço do petróleo, não
em dólares mas em yuan chineses. É a resposta de Caracas às sanções emanadas em
2017, pela Administração Trump, mais duras do que as impostas em 2014, pela
Administração Obama: elas impedem a Venezuela de sacar os dólares da venda do
petróleo aos Estados Unidos, dólares utilizados para importar para a Venezuela
bens de consumo como produtos alimentares e medicamentos. As sanções também
impedem a compra e venda de títulos emitidos pela PDVSA, a companhia
petrolífera estatal venezuelana. Washington tem em vista, desta maneira, um
duplo objectivo: aumentar a penúria de bens de primeira necessidade na
Venezuela e assim, o descontentamento popular, para fomentar a oposição
interna, espalhada e sustentada pelos USA) para derrubar o governo bolivariano;
manter o Estado venezuelano em default, impedindo-o de pagar as parcelas da
dívida externa, ou seja, para levar à falência o Estado com as maiores reservas
petrolíferas do mundo, quase dez vezes mais do que os Estados Unidos.
A ser
submetido em discussão pela Russia, China e outros países não só o poder
excessivo do petrodólar (moeda de reserva obtida pela venda do petróleo), mas a
própria hegemonia do dólar. O seu valor é determinado, não pela capacidade real
económica dos Estados Unidos, mas pelo facto de que ele constitui quase dois
terços das reservas das moedas mundiais e a moeda com que se estabelece sobre o
mercado mundial o preço do petróleo, do ouro, de outras matérias primas e, em
geral, das mercadorias. Isso permite à Reserva Federal, ao Banco Central ( que
é um Banco privado), imprimir milhares de biliões de dólares com o qual é
financiado o colossal débito público USA – cerca de 23 triliões de dólares –
através da aquisição de obrigações e de outros títulos emitidos pelo Tesouro.
Nesse âmbito, a decisão venezuelana de retirar o preço do petróleo do dólar
provoca um choque que, do epicentro sul americano, faz tremer todo o palácio
imperial alicerçado no dólar. So o exemplo da Venezuela se espalhasse, se o
dólar cessasse de ser a moeda dominante do comércio e das moedas das reservas
internacionais, uma quantidade enorme de dólares entraria no mercado fazendo
cair o valor da moeda americana.
Washington
observa, sobretudo a parceria russo-chinesa com preocupação crescente: o
intercâmbio entre os dois países está em forte crescimento: ao mesmo tempo,
aumentam os acordos de cooperação russo-chineses no campo energético, agrícola,
aeronáutico, espacial e no das infraestruturas. O fornecimento de gás russo à
China , cerca de 38 biliões de metros cúbicos por ano, através do gasoduto Sila
Sibiri, a partir de 2019, abre a exportação energética russa para Oriente,
enquanto os Estados Unidos procuram bloqueá-la para Ocidente, para a Europa.
Na
«guerra dos gasodutos» os Estados Unidos conseguiram bloquear o South Stream em
2014, o gasoduto que, segundo um acordo entre os governos, deveria
ter ligado a Rússia à Itália através do Mar Negro (em águas territoriais
russas, búlgaras e turcas)e via terra, através da Bulgária, Sérvia, Hungria,
Eslovénia e Itália até Tarvisio (Udine). Fazendo pressão, sobretudo, sobre a
Bulgária, a Administração Obama, com a colaboração da União Europeia, conseguiu
enterrar um projecto já começado de grande importância para a mesma União
Europeia. Para contornar a Ucrânia, corredor sempre mais inseguro para os
gasodutos russos, Moscovo procura vias alternativas com a duplicação do North
Stream, através do Mar Báltico, a realização do TurkStream através
do Mar Negro, até à Turquia e com o seu prolongamento, o Poseidon, através da
Grécia até Itália.
No
Médio Oriente, a «guerra dos gasodutos» ainda é mais explosiva enquanto se
transpõe para a realidade. A intervenção militar russa na Síria, em 2015, em
apoio às forças governamentais, derruba o destino do conflito. Os
caça-bombardeiros russos destroem, uma após outra, as fortalezas do ISIS,
abrindo caminho para as forças de Damasco. Os Estados Unidos, deslocados, jogam
a carta da fragmentação da Síria, apoiando os independentistas curdos e outros.
Moscovo usa ao mesmo tempo instrumentos económicos, estipulando em 2017,
acordos com o Irão para a realização de infraestruturas ferroviárias e
energéticas, entre as quais um gasoduto através do Irão e da Índia, fortemente
oposto pelos EUA. Washington responde com um movimento previamente concordado
com Israel: o Presidente Trump ataca violentamente o Irão, acusando-o de violar
o espírito do «acordo» sobre a questão nuclear estipulado em Teerão, em 2015,
com o Grupo 5 + 1 (USA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, China e Rússia). Não
obstante a própria Agência Internacional para a Energia Atómica garantir que o
Irão está a cumprir o acordo e que não está a tentar fabricar armas nucleares,
ao contrário do que o Presidente Trump afirma, a questão é reaberta
artificialmente, originando um processo perigoso cujos resultados são
imprevisíveis. O ataque de Washington é dirigido não só ao Irão, mas contra a
Rússia, que está a reafirmar a sua presença no Médio Oriente.
«Moscovo
– escreve o The
New York Times - tenta, através da gigantesca companhia
petrolífera estatal, Rosneft, ganhar influência em lugares onde os Estados
Unidos tropeçaram. Os seus esforços são devidos também, à necessidade, pois que
as sanções americanas e europeias forçaram a Rosneft a encontrar novos
parceiros e investimentos noutros lugares, em áreas turbulentas onde os
interesses americanos estão em risco. A aposta maior para a Rosneft é a
Venezuela. Em três anos, a Rússia e a Venezuela forneceram a Caracas,
assistência financeira num total de 10 biliões de dólares, ajudando a Venezuela
a evitar o default, sob um peso de um débito de 150 biliões de dólares. A
Rússia está a usar cada vez mais o petróleo como instrumento, a espalhar a sua
influência no mundo e a desafiar os interesses dos EUA».
Um
desafio crescente aos interesses dos Estados Unidos chega, em simultâneo, da
China. Como renda nacional bruta, a China subiu ao segundo lugar mundial,
depois dos Estados Unidos e regista taxas de crescimento económico superiores
às dos Estados Unidos. A sua agricultura que assegura os requisitos internos,
está no primeiro lugar do mundo em muitas produções (entre as quais, o arroz, o
trigo e o algodão. A sua indústria, que constitui o sector económico condutor,
é muito desenvolvida e diversificada: desde as actividades extractivas
(cobalto, alumínio, ouro, carvão fóssil, do qual o país é o primeiro produtor
mundial) às manufacturas de todos os tipos. Os seus serviços vão desde o sector
financeiro às telecomunicações e transportes (a China tem mais de 20.000 km de
linhas férreas de alta velocidade, mais do que todos os outros países do mundo
juntos). O seu nível tecnológico aumenta em todos os campos, compreendendo o
sector espacial. De mais de 2.800 universidades chinesas, em que são graduados
7 milhões de estudantes por ano, saem todos os anos, 600 mil engenheiros.
A China
- «a fábrica do mundo» na qual investem e produzem também muitos grupos
americanos gigantescos (como a Apple) – é o primeiro exportador mundial
de mercadorias, seguida pelos Estados Unidos, Alemanha e Japão. Símbolo
eloquente desse crescimento é o porto de Ningpo, no primeiro lugar do mundo com
cerca de um bilião de toneladas de mercadorias. À sua volta, a China efectua
investimentos crescentes no estrangeiro. Os seus grupos económicos mais
importantes (em geral, estatais, com participação estatal ou ainda orientados
por políticas estatais) efectuam investimentos crescentes, quer nos Estados Unidos
e na União Europeia, quer em África, Ásia e América Latina. Aí, as sociedades
chinesas estão particularmente empenhadas na realização de infraestruturas
(caminhos de ferro, estradas, pontes,túneis, canais, oleodutos e gasodutos): em
África construiram, através de contratos com os governos locais, cerca de 6.000
km de linhas férreas e estradas pavimentadas.
O
projecto mais ambicioso, lançado pela China, em 2013 e partilhado com a Rússia,
é o da nova Rota da Seda: uma rede de estradas e caminhos de ferro que liguem a
China à Europa, através da Ásia Central e Ocidental, e através da Rússia,
grosso modo, ao longo da antiga Rota da Seda. O projecto, já em fase de
realização, prevê, unida à terrestre, uma via marítima através do Oceano
Índico, do Mar Vermelho e do Mediterrâneo. Para a infraestrutura rodoviária e
ferroviária, que deverá atravessar e ligar 60 países, prevêem-se investimentos
superiores a 1 trilião de dólares.O projecto, que não inclui componentes
militares, não é simplesmente económico. Se fosse realizado segundo a ideia
original, remodelaria a arquitectura geopolítica de toda a Eurásia, criando
sobre a base de conveniências recíprocas, uma nova rede de relações económicas
e políticas entre os Estados do continente.
«O
Presidente da China, Xi Jinping – escreve o The
New York Times tenciona usar a riqueza e o know-how
industrial da China para criar um novo tipo de globalização que abandone as
regras das instituições envelhecidas dominadas pelo Ocidente. O objectivo é
remodelar a ordem económica mundial».
Tal
sistema cria no mundo uma polarização crescente entre a riqueza e a pobreza.
Um estudo indica
que 86% da riqueza global (em termos de dinheiro e propriedade) está
concentrado nas mãos de 8% da população adulta mundial. Os restantes 92%
possuem, apenas, 14% da riqueza global. Excluído o extracto intermédio, a
situação pior é a do extracto inferior, composta por 3 biliões e meio de
pessoas, que representam quase 3/4 (três quartos) da população adulta mundial:
globalmente menos de 2,5% da riqueza global. A faixa mais pobre não possui nada
ou quase nada. Mais de dois biliões de pessoas em África, Ásia e América
Latina, sobretudo nas zonas rurais, vivem na pobreza ou em condições de
gravíssimas restrições económicas. Entre estas, cerca de um bilião encontram-se
em pobreza extrema, ou seja, numa condição social caracterizada pela
desnutrição crónica, situação de habitação e de higiene desastrosa, alta
incidência de doenças infecciosas e parasitárias, grande mortalidade, sobretudo
infantil, duração média de vida reduzida, analfabetismo, falta de poder de
decisão, dependência, marginalização, vulnerabilidade e insegurança constante.
Das aldeias da África sub-shariana até aos ‘bidonville’ asiáticos e
latino-americanos, os pobres vivem o mesmo drama, provocado pelas mesmas causas
de fundo.
Basta
pensar no facto de que, enquanto é produzida no mundo uma quantidade de
alimentos que seria suficiente para assegurar um bom nível nutritivo a cada
habitante da Terra, sofrem de fome (ou seja, são afectadas de subalimentação
crónica) cerca de 800 milhões de pessoas – um número equivalente à população de
13 países da dimensão da Itália – e cerca de 2 biliões de pessoas são afectadas
pela má nutrição, devido à carência de ferro e vitaminas na alimentação. Como
consequência da subalimentação e da má nutrição, morrem todos os anos milhões
de pessoas entre as quais três milhões de crianças de idade inferior a cinco
anos. A causa fundamental da fome é a pobreza originada pelos mecanismos
económicos que prejudicam os pequenos agricultores. Nos países em que grande
parte da população é subalimentada, vastas extensões de terra fértil são
reservadas, não ao cultivo destinado à alimentação interna, mas ao cultivo para
exportação, produzido em grande parte por pequenos agricultores, que obtêm uma
renda muito baixa, visto que as redes comerciais são controladas por um
oligopólio de multinacionais. O problema da fome é agravado pelo aumento dos
preços dos géneros alimentares, devido em grande parte ao facto de que na Bolsa
de mercadorias os operadores financeiros compram e vendem através de
contratos futuros quantidades enormes de produtos alimentares,
ganhando se o preço aumenta em relação ao concordado aquando a estipulação do
contrato.
Esta é a
ordem económica mundial que os Estados Unidos procuram por todos os meios
conservar e controlar. Não tendo a força económica para fazê-lo, lançam sobre o
prato da balança a espada da sua força militar e pressão política. O objectivo
político perseguido por Washington é claro: afastar do caminho qualquer Estado
ou movimento político/social que possa prejudicar os interesses fundamentais
políticos, económicos e militares dos Estados Unidos da América, colocando em
risco a sua supremacia. Nesta estratégia, são acompanhados pelas potências
europeias da NATO e outras,como Israel e Japão, as quais, apesar de ter
contrastes de interesses com os USA, alinham-se sob a liderança dos Estados
Unidos, quando se trata de defender a ordem económica e política dominada pelo
Ocidente.
Confirma-o
a ‘psyop’ lançada pelos dispositivos político-mediáticos de todo o
Ocidente contra a Síria. Depois de, durante cinco anos ter procurado derrubar o
Estado Sírio, esmagando-o a partir do interior, com grupos terroristas armados
e infiltrados do exterior e provocando mais de 250.000 mortos, no momento em
que as operações estão a fracassar devido à intervenção russa de ajuda às
forças sírias que apoiam o governo, lança-se a operação psicológica para fazer
parecer como agressor, o Governo e todos os sírios que resistem à agressão. O
objectivo da psyop é a demonização do Presidente Assad (como
foi feito a Milosevic e Gadddafi), apresentado-o como um ditador sádico que
goza a bombardear hospitais e a exterminar crianças, com a ajuda do amigo
Putin, retratado como o novo Czar do império russo renascido.
A
pressão militar USA no Mar da China Meridional e na Península Coreana, dirigida
contra a China, a guerra USA/NATO no Afeganistão, Médio Oriente e África, o
empurrão USA/NATO na Ucrânia e o consequente confronto com a Rússia, caem na
mesma estratégia de contraste à parceria russo-chinesa e à sua tentativa de
remodelar a ordem económica e política global. Na mesma estratégia está o plano
de minar os BRICS a partir de dentro, elevando a direita ao poder em Brasília e
em toda a América Latina. É confirmado pelo comandante do US Southern Command,
cuja área de operações compreende a América do Centro e Sul: numa audiência
no Senado acusa a Rússia e a China de exercer uma «influência maligna»
na América Latina, para também fazer avançar aí «a sua visão de uma ordem
internacional alternativa».
Num memorando transmitido
em Outubro de 2017 às Forças Armadas dos Estados Unidos, o Secretário da
Defesa, Jim Mattis, faz uma verdadeira declaração de guerra: «Somos um
Departamento em guerra. Devemos estar preparados para enfrentar uma situação de
segurança global cada vez mais complexa, caracterizada por um declínio
acelerado da gestão da ordem internacional baseada em regras. A Rússia violou
as fronteiras das nações vizinhas e quer ter poder de veto sobre as decisões
económicas, diplomáticas e de segurança dos seus vizinhos. A China é um
adversário estratégico a longo prazo, que atemoriza os seus vizinhos enquanto
aumenta as tensões no mar da China Meridional. Para a segurança e a
estabilidade global, é necessário que as nossas Forças Armadas permaneçam a
força de combate mais potente do mundo. Devemos dar prioridade a um dissuasor
nuclear seguro e fiável, colocar em campo uma força convencional decisiva e
manter uma capacidade fundamental de conduzir uma guerra não-convencional». No
final da proclamação, antes da assinatura, o Chefe do Pentágono escreve à mão,
em letras maiúsculas, «CHARGE!» («CARREGAR!»).
9.2 O sistema bélico planetário dos Estados Unidos da
América
Na
«geografia do Pentágono», o mundo está dividido em «áreas de responsabilidade»,
cada uma confiada a um dos seis Comandos Combatentes Unificados dos Estados
Unidos: O Comando Norte, cobre a América do Norte; o Comando Sul, o Centro e a
América do Sul; o Comando Europeu, a região que compreende a Europa e toda a
Rússia; o Comando África, o continente africano (salvo o Egipto, que se agrupa
no Comando Central); o Comando Central, o Mediterrâneo e a Ásia Central; o
Comando Pacífico, a região da Ásia/Pacífico.
Cada um
dos Comandos Combatentes Unificados é composto por comandos de diversos
componentes das Forças Armadas USA, naquela área. Por exemplo, o Comando
Europeu dos Estados Unidos é formado por: Exército USA na Europa, Forças Aéreas
USA na Europa, Forças Navais USA na Europa, Forças Marines USA na Europa,
Comando de Operações Especiais USA na Europa. O comando de cada força está
articulado, por sua vez, numa série de sub-comandos e unidades. Por exemplo, o
Exército USA, na Europa, tem 22.
Aos seis
comandos geográficos juntam-se-lhes comandos três operativos à
escala global: o Comando Estratégico, responsável pelas forças nucleares
terrestres, aéreas e navais, das operações militares no espaço e espaço
cibernético, do ataque global, da guerra electrónica e da defesa dos mísseis; o
Comando para as Operações Especiais, com um comando específico em cada uma das
seis áreas mais um na Coreia, responsável pela guerra não-convencional, pelas
operações contra revoluções, pela operações psicológicas e por quaisquer outras
missões ordenadas pelo Presidente ou pelo Secretário da Defesa; o Comando para
o Transporte, responsável pela mobilidade dos soldados e armamentos por terra,
ar e mar, a nível mundial.
Os Estados Unidos da América são o único país a ter uma presença militar à
escala global, em cada continente e região do mundo. O Pentágono é directamente
proprietário de 4.800 bases e outras instalações militares, quer nos USA, quer
no estrangeiro, compreendendo 560.000 edifícios e estruturas (tipo
estruturas ferroviárias, oleodutos e pistas de aeroportos). Segundo os
dados oficiais do Pentágono, os Estados Unidos têm cerca de 800 bases e outras
instalações militares em mais de 70 países, sobretudo em volta da Rússia e da
China, muitas mais em uso ou secretas. Essas bases servem para uma rotação
contínua de forças, que são aumentadas rapidamente com as transferidas das
bases dos Estados Unidos, para concentrá-las em determinados teatros bélicos.
Os países em que são distribuídas tropas americanas, compreendendo aqueles que
não têm bases militares, são mais de 170. Entremilitares,
empregados civis e familiares, o Pentágono mantém permanentemente no
estrangeiro cerca de meio milhão de cidadãos americanos.
Como
termos de comparação, a Rússia tem apenas 9 bases militares no estrangeiro, nas
suas antigas repúblicas soviéticas; a China tem uma em Djibouti,
onde fazem escala os seus navios militares e
civis. Compreendendo 13 bases britânicas e francesas e algumas mais, todos
os outros países do mundo têm na totalidade 30 bases no estrangeiro em
comparação com as 800
bases americanas
Como
número de militares em serviços activo (1,3 milhões, sempre a aumentar) os
Estados Unidos são o terceiro lugar mundial depois da China (2,2 milhões) e da
Índia (1,4 milhões). Mas, tendo os USA uma população equivalente a cerca de um
quarto da China ou da Índia, o número dos seus militares em relação ao dos
habitantes é superior. Comparado com a Rússia, que tem pouco mais de 800 mil
militares em serviço activo, os Estados Unidos têm uma nítida superioridade
numérica.
Comparado
com outras grandes potências, os
Estados Unidos são superiores não só como forças nucleares, mas, em
geral, como tipo de armamentos e forças de deslocação e ataque rápido. Têm
cerca de 2.200 caça-bombardeiros, entre os quais 1.400 da U.S. Air Force, todos
da quarta e quinta geração. Em relação aos 850 da Rússia e 500 da China (quase
todos da quarta geração). Têm também cerca de 160 bombardeiros pesados, 700
drones e 800 helicópteros de ataque.
Os USA
têm em 2017, 275 navios de superfície e submarinos - mais do que qualquer outro
país e que a Administração Trump quer aumentar para 350. Sobretudo, têm
unidades navais adaptadas para projecções de forças militares em teatros
bélicos distantes, para ataque de objectivos terrestres e para desembarque em
território inimigo. Mais de 68 submarinos armados de mísseis, têm 10
porta-aviões enormes, que a Administração Trump quer aumentar para 12. Para ter
uma ideia da relação de forças, basta pensar que, no mundo, em 2017,
há 18 porta-aviões, dos quais 10 pertencem aos Estados Unidos, 2 à Itália e 1
respectivamente à China, Rússia, França, Índia, Espanha e Tailândia. Cada um
dos porta-aviões americanos de propulsão nuclear, com 330 metros de
comprimento, têm a bordo 75 caça-bombardeiros e uma equipagem de 5.000 homens.
Os
Estados Unidos têm também 31 navios anfíbios de assalto poderosos, num total de
45 existentes à escala mundial, dos quais 6 pertencem à Grã-Bretanha, 4 à
China, 1 à Índia. Os navios americanos de assalto anfíbio têm uma ponte de voo,
com 250 metros de comprimento e 30 de largura, do qual partem 30 helicópteros
de ataque e caças de descolagem vertical; têm embarcações de desembarque
enormes sobre almofadas de ar, cada um capaz de transportar à velocidade
superior a 30 nós, acima da costa, tropas e cargas de 60 toneladas. Uma única nave
de assalto anfíbio pode desembarcar 2 mil marines, dotados de helicóptero e
aviões de descolagem vertical, artilharia de grande calibre e tanques.
Esta
máquina bélica, a mais potente jamais vista na História, requer uma despesa
militar de longe superior ao gasto de todos os outros países. O orçamento do
Pentágono para o ano fiscal de 2018 sobe a 700 biliões de dólares, mais de
quanto gastam os outros nove países que figuram na lista dos dez com as maiores
despesas militares do mundo: China, Arábia Saudita, Rússia, Grã-Bretanha,
Índia, França, Japão, Alemanha e Coreia do Sul.
Para a
aprovação do orçamento do Pentágono é decisivo o voto por unanimidade, da
Comissão dos Serviços Armados, formada por 14 senadores republicanos e 13
democratas. A Comissão sublinha que «os Estados Unidos devem reforçar a
dissuasão da agressão russa: a Rússia continua a ocupar a Crimeia, a criar
instabilidade na Ucrânia, a minar os nossos aliados NATO, a violar o Tratado
INF de 1987 sobre as forças nucleares de raio intermédio e a apoiar o regime de
Assad na Síria». Acusa, também a Rússia de conduzir «um ataque sem precedentes
aos nossos interesses e valores fundamentais», em particular, através de «uma
campanha decidida a minar a democracia americana». Com tais motivações a coligação
dos dois partidos justifica o reforço de
toda a máquina bélica americana.
Para o
orçamento do Pentágono referente a 2018, o Congresso autoriza 60 biliões a mais
do que o que foi pedido pela Administração Trump. Adicionando outros orçamentos
de carácter militar, entre os quais o do Departamento para os Assuntos dos
Veteranos (que se ocupa dos militares na reserva) e o das armas nucleares,
inscrito no Departamento da Energia – as despesas militares totais dos Estados
Unidos montam a cerca de 1 trilião de dólares, ou seja, um quarto do orçamento
federal.
Estes
são alguns dos elementos das despesas abrangidas pelo orçamento do Pentágono no
ano fiscal de 2018: 10.6 biliões de dólares para comprar 94 caças F-35, 24 mais
do que a quantidade requisitada pela Administração Trump; 17 biliões de dólares
para o «escudo anti-míssil» e para as actividades militares espaciais, 1,5 a
mais do que a verba requerida pela mesma Administração; 25 biliões para
construir 13 navios de guerra, mais 5 do que os propostos pela Administração
Trump.
Dos 700
biliões do orçamento de 2018, 640 são destinados, principalmente, à
manutenção e às actividades das Forças Armadas, à compra de novos armamentos e
aos salários do pessoal militar, que são aumentados, elevando o custo anual a
mais de 145 biliões; 60 biliões são designados para as operações bélicas na
Síria, Iraque, Afeganistão e noutras regiões. Também são disponibilizados 1,8
biliões de dólares para treino e equipamento de formações armadas sob comando
USA, na Síria e no Iraque, e 4,9 biliões de dólares para o «Fundo das Forças de
Segurança Afegãs». Para a «Iniciativa de Segurança da Europa», lançada em 2014,
pela Administração Obama depois da «agressão de vingança russa na Ucrânia», são
concedidos em 2018, 4,6 biliões: eles servem para aumentar a presença das
forças couraçadas americanas e o «pré-posicionamento estratégico» de armamentos
USA na Europa.Também são fornecidos 500 milhões de dólares para fornecer
«assistência letal» (ou seja, armamentos) à Ucrânia.
O
orçamento do Pentágono, dispondo de 125 biliões de dólares por ano (a verba de
2018 em aumento contínuo)para a compra de armamentos e 85 biliões (esta quantia
também sempre em aumento continuado) para a pesquisa e desenvolvimento de novos
armamentos, alimenta a indústria bélica mais poderosa do mundo. Entre os dez maiores produtores
mundiais de armamentos (com base na facturação de 2016), seis são
americanos: Lockheed Martin, Boeing, Raytheon Company, Northrop Grumman,
General Dynamics, L3 Tecnologies. Os outros são a firma britânica BAE Systems,
a franco-holandesa Airbus, a francesa Thales e a italiana Leonardo (antes
Finmeccanica), na nona posição.
Em
primeiro lugar no mundo, está a firma americana Lockheed Martin, produtora de
armamentos aeroespaciais e missilísticos, robótica militar e armas de energia
dirigida: tem um quadro de pessoal de 97.000 indivíduos, entre eles 49.000
engenheiros, cientistas e profissionais de tecnologias de informação; uma rede
de mais de 16.000 fornecedores nos USA e 1.500 em 65 países; uma facturação em
aumento contínuo (em 2016 mais de 47 biliões de dólares, dos quais 73% de
vendas nos USA e 27% de vendas ao estrangeiro; uma cotação na bolsa em forte
crescimento, com um rendimento que aumentou 84% no período 2014-2016).
Um dos
programas de ponta da Lockheed Martin é o do F-35 Lightening II, definido como
«o caça mais avançado multifunções do mundo, que fornece às forças armadas
capacidades incomparáveis». Produzem-se três modelos: de descolagem e aterragem
convencional (A), de descolagem e aterragem vertical (B) e uma variante para
porta-aviões (C). Para a sua produção e aquisição participam oito ‘partner =
parceiros’ estrangeiros: Austrália, Canadá, Dinamarca, Grã-Bretanha, Itália,
Noruega, Holanda e Turquia. Outros compradores, em 2017, são: Israel, Japão e
Coreia do Sul. Nos Estados Unidos a rede produtora compreende mais de 1.400
empresas em 46 estados e em Puerto Rico, que produzem milhares de componentes
dos caças. O
custo doprograma está em crescimento contínuo: em 2017 estima-se que
para produzir 2.456 caças F-35 nas três versões, são precisos 400 biliões de
dólares, a que se adicionam 1.100 biliões de custos operacionais em 20 anos,
elevando o total a 1,5 triliões de dólares. Haverá também compras, ainda não
quantificáveis, para as actualizações contínuas a realizar no decorrer dos
anos, aos caças e aos seus armamentos. Isso torna o F-35 no mais custoso
sistema de armas da História.
A
Lockheed Martin e outras indústria bélicas de vanguarda, em competição azeda
umas com as outras para agarrar os contratos chorudos do Pentágono (em 2016
mais de 2.400, abrangendo 230 biliões de dólares), não são apenas empresas
produtoras de armamentos. Elas estão intimamente integradas no Pentágono, e com
diversos sectores das Forças Armadas e nos Serviços Secretos, na classe
política republicana e democrática, quer em Washington, quer em cada um dos 50
Estados. O Pentágono tem, em geral, um departamento com pessoal próprio, no
interior das indústrias bélicas mais importantes. Estes, por sua vez, fornecem
executivos para o Pentágono, para posições de responsabilidade no sector de
Defesa. Ao mesmo tempo, muitas altas patentes das Forças Armadas, logo que vão
para a reserva, entram nos conselhos das administrações das indústrias bélicas.
As indústrias bélicas mais importantes, tendo instalações próprias e milhares
de empresas subcontratadas em todo o território nacional, também podem
influenciar a escolha dos parlamentares e dos governadores em qualquer Estado e
a escolha dos representantes no Congresso e no Senado. Também é fortíssima a
influência das indústria bélicas nos sectores da ciência e da
tecnologia: estima-se que cerca de 30 % dos pesquisadores e dos engenheiros
estejam, de várias maneiras, ligados ao sector militar.
Esta
trama extensa e profunda de interesses forma o complexo militar-industrial
americano, cujos lucros e poderes aumentam na medida em que aumentam as tensões
e as guerras. Confirma-o o facto de que, enquanto os seus lucros eram
diminutos, depois do fim da Guerra Fria, cresceram fortemente após o 11 de
Setembro. O complexo militar-industrial influi em todos os níveis, desde a Casa
Branca aos simples Estados, sobre as escolhas políticas que conduzem à guerra,
escolhas que, na realidade, são feitas por grupos restritos representativos dos
poderes máximos (económico-financeiros, políticos, militares), verdadeiras
cúpulas acima das instituições, que se reúnem informal e secretamente para
discutir e decidir a estratégia. Através das suas ligações estreitas com a
Comunidade dos Serviços Secretos (Inteligência), o complexo militar-industrial
tem na mão todos os instrumentos para provocar tensões internacionais e
consequentes intervenções militares, com o apoio das grandes cadeias de
comunicação social mediática e da consequente maioria da opinião pública
interna e internacional. Em poucas palavras, o complexo militar-industrial é um
organismo tentacular que, para viver e desenvolver-se, tem necessidade de usar
como oxigénio, a guerra. E visto que a força militar é necessária aos grandes
grupos financeiros e às multinacionais para manter a sua supremacia no mundo,
não é só o complexo militar-industrial, mas todo o sistema económico e
financeiro dominante, no qual se baseiam os Estados Unidos da América, a ter
necessidade da guerra e, em última análise, também da guerra nuclear.
Os
Cientistas Atómicos Americanos confirmam qual é o resultado: O ponteiro do
«Relógio do Apocalipse», o relógio simbólico que, no seu Boletim, indica a
quantos minutos estamos da Meia Noite da Guerra nuclear, avançou um pouco mais:
de 3 minutos para a meia noite, em 2015 foi para 2,5 minutos da meia noite em
2017: Um nível de alarme mais alto do que o da metade dos anos Oitenta, no
cúmulo da tensão entre os USA e a URSS.
9.3
A atracagem da Itália à máquina de guerra USA/NATO
Para
empreender qualquer iniciativa real, em Itália, contra a ameaça crescente da
guerra nuclear, é necessário, em primeiro lugar, ser conhecedor do que o
Primeiro Ministro Gentiloni define (quando, em 2017 é recebido pelo Presidente
Trump) como «o atracamento histórico» da Itália aos Estados Unidos, «pilar da
nossa política extena». A atracagem da Itália aos Estados Unidos,
fundamentalmente através da NATO, sob comando USA, implica não só a a
concessão do nosso território nacional como base avançada das armas nucleares
americanas e da projecção de forças americanas para o Sul e para Leste, mas
também uma remodelação contínua da política militar e das Forças Armadas
Italianas, de acordo com as exigências da estratégia americana.
Desde o
«Novo Modelo de Defesa», adoptado em 1991, de acordo com a nova orientação
estratégica USA depois da primeira Guerra do Golfo, chega-se ao «Livro
Branco para a Segurança Internacional e Defesa» elaborado pela
Ministra da Defesa, Roberta Pinotti e institucionalizado em 2017, com um
desenho especial da lei, que adequa mais a política militar e a estrutura das
Forças Armadas Italianas à estratégia atavés da qual os Estados Unidos procuram
manter o seu predomínio num mundo em mudança.
O Livro
Branco atribui às Forças Armadas Italianas, quatro missões, que deturpam
completamente a Constituição. A defesa da Pátria, estabelecida no Artº 52, é reformulada,
na primeira missão, como defesa dos «interesses vitais do País». Daí a segunda
missão: baseando-se no «contributo para a defesa colectiva da Aliança Atlântica
e para a manutenção da estabilidade nas áreas incidentes no mar Mediterrâneo, a
fim de proteger os interesses vitais ou estratégicos do país». O repúdio da
guerra como instrumento de ofensa à liberdade dos outros povos e como meio de
resolução das controvérsias internacionais, estabelecido no Artigo 11, é
substituído na terceira missão pela «gestão das crises fora das áreas de
intervenção prioritária», com o fim proclamado de «garantir a paz e a
legalidade internacionais».
Deste
modo, o Livro Branco vem demolir os pilares constitucionais da República
Italiana, que é reconfigurada como uma potência que se arroga o direito de
intervir militarmente nas áreas que contornam o Mediterrâneo – Norte da África,
Médio Oriente e Balcãs – para apoio dos seus interesses económicos e
estratégicos, e em qualquer parte do mundo onde estejam em jogo os interesses
do Ocidente, representados pela NATO sob comando USA. Prático e cómodo para
tudo isto, é a Lei do Enquadramento, que entrou em vigor em 2016, que
institucionaliza as missões militares no estrangeiro (em 2017, foram realizadas
30 missões em 20 países), constituindo, para o seu funcionamento, um fundo
específico no Ministério da Economia e das Finanças.
Finalmente,
como quarta missão, confiam-se às Forças Armadas, a «salvaguarda das
instituições livres», com «deveres específicos em casos de necessidade e
urgência extraordinárias». As mesmas são compostas por profissionais da guerra,
capazes de usar as novas tecnologias e de combater em países longínquos nas
condições ambientais mais diversas. «Temos necessidade de soldados jovens –
explica a Ministra Pinotti – a chave está em alistar indivíduos de 19-20 anos,
oferecer-lhes um pacote informativo importante para sete anos das suas vidas,
ensinando-lhes línguas e profissionalidade. Se se encontrarem no mercado de
trabalho aos 26-27 anos não será difícil encontrar outra ocupação, porque
também nos empenhamos em construir novas oportunidades de trabalho nas actividades
legislativas». Numa situação de desocupação e precariedade, oferece-se assim
aos jovens, o modo de ganhar e ter uma colocação segura: a guerra. E aos
profissionais da guerra, às ordens do Pentágono italiano,também é assegurada a
«salvaguarda das instituições livres» com «tarefas específicas em caso de
necessidade e urgência extraordinária», fórmula vaga que se presta a medidas
autoritárias e a estratégias subversivas.
No
âmbito da «revisão do modelo operacional das Forças Armadas», institucionalizada
pelo Livro Branco, está inserida a decisão de reunir as cúpulas de todas a
Forças Armadas numa única estrutura, segundo o modelo operacional do Pentágono
americano. O «Pentágono italiano», anuncia a Ministra Pinotti, em 2017, irá
surgir na zona do aeroporto de Centocelle, em Roma, onde há espaço para
construir outros edifícios e infraestruturas (sem se preocupar com o
impaco ambiental no parque arqueológico e na sua área verde). Para a sua
construção foi efectuada uma primeira atribuição de 2,6 biliões de euro,
desviados da Lei da Estabilidade, sob o título "Habitação pública,
incluindo educação". Em Centocelle, donde foi transferida a Direcção Geral
dos Armamentos com o pessoal, totalizando 1.500 pessoas, onde já está o comando
operacional das cúpulas de todas as forças, em 2017, através do qual o Chefe do
Estado Maior da Defesa, comanda todas as operações das Forças Armadas.
O Livro
Branco aumenta imenso os poderes do Chefe do Estado Maior da Defesa, também do
ponto de vista técnico-administrativo e, ao mesmo tempo, abre as portas das
Forças Armadas aos «dirigentes provenientes do sector privado» que possam
exercer as funções de Secretário Geral, responsável pela área
tecnico-administrativa da Defesa, e do Director nacional dos armamentos.
Tarefas-chave que permitem aos grupos poderosos da indústria bélica de
entrar com funções dirigentes no Ministério da Defesa e de conduzir as escolhas
segundo os seus interesses ligados à guerra. A centralização da Direcção Geral
dos armamentos e das cúpulas das Forças Armadas numa única citadela, o
«Pentágono Italiano» facilita, por trás dos altos muros do sigilo militar, o
entrelaçamento subterrâneo de interesses e poderes segundo o modelo do complexo
militar-industrial dos EUA.
A
indústria militar é definida no Livro Branco como sendo o «pilar do
Sistema do País», visto que «contribui, através da exportação, para o
equilíbrio da balança comercial e para a promoção dos produtos da indústria
nacional nos sectores de alta remuneração». Não faltam resultados: a Leonardo (antes
Finmeccanica) – a maior indústria militar italiana, de quem o Ministério da
Economia e Finanças é o principal accionista com uma quota de 30% - coloca-se
no nono lugar do ranking mundial, na classificação de 2017 das cem maiores
indústrias bélicas, com vendas anuais de cerca de 9 biliões de dólares de
armamentos, em 2016. Sobretudo, graças à venda ao Kuwait, em 2016, de 28 caças
Eurofighter Typhoon de nova geração, construídos pelo consórcio de quem faz
parte a Leonardo, juntamente com indústrias da Grã-Bretanha, Alemanha e
Espanha. Um contrato de 8 biliões de euros, o maior jamais assinado pela
Finmeccanica, em cujos cofres entra cerca de metade dessa quantia. Os
Eurofighter Typhoon, que o Kuwait usa para matar civis no Yemen, na guerra
conduzida pela coligação com orientação saudita, também podem ser armados com
bombas nucleares que, provavelmente, já estão na posse da Arábia Saudita. O
treino da equipagem é fornecido pela Aeronáutica Italiana.
Prosperam
assim, os negócios da Leonardo que, em 2016, obtêm 84% da sua facturação
através da venda de armas. Para apoiar cada vez mais a produção militar, foram
vendidas por cerca de 900 milhões de euro aos japoneses da Hitachi duas
fábricas da Finmeccanica, a Ansaldo Sts e a Ansaldo Breda, empresas lideres mundiais
na produção ferroviária.
A
Leonardo – que se autodefine «empresa global de alta tecnologia nos sectores
Aeroespacial, Defesa e Segurança, com mais de 45.600 funcionários, presente com
escritórios e instalações industriais em 180 locais em todo o mundo» - tem uma
presença industrial particularmente relevante, além da Itália, nos Estados
Unidos, na Grã Bretanmha e na Polónia. Deste modo, está integrada estreitamente
no complexo militar-industrial americano e com as suas principais fortalezas na
Europa. Nos Estados Unidos, a Leonardo fornece produtos e serviços não só às
Forças Armadas e às empresas da Defesa, mas também às agências de
serviços secretos.
Ao mesmo
tempo, en Itália, a Leonardo gere as instaslaçõs FACO di Cameri (Novara), na
qual são montados os caças F-35 da empresa americana Lockheed Martin destinados
à Força Aérea e à Marinha Italiana e partes dos mesmos encomendadas pela
Holanda. As empresas em Foggia e Nola, fabricam as partes complexas e metálicas
da caixa da asa, da qual a Leonardo é a segunda produtora também para as Forças
Armadas americanas. Numa segunda fase, Cameri tornar-se-á o centro de apoio
para os F-35, instalados em toda a área europeia e mediterrânica.
A adesão
da Itália ao programa F-35, como um parceiro de segunda categoria, fortalece a
atracagem aos Estados Unidos, integrando ainda mais o complexo industrial
militar italiano no gigantesco complexo militar industrial americano. Portanto,
a decisão de participar no programa F-35 é uma escolha política, feita
com base no bipartidarismo. Depois da assinatura do primeiro memorando do
acordo, por parte do Governo D’Alema, em 1998, é o Governo Berlusconi a
assinar, em 2002, o acordo que faz entrar a Itália no programa, como parceira
de segunda categoria. Em 2007, o Governo Prodi aperfeiçoa o acordo e sugere a
compra de 131 caças. Em 2009, o Governo Berlusconi delibera sobre a aquisição.
Em 2012, o Governo Monti «reajusta» o número de caças, de 131 para 90, para
demonstar que, perante uma crise, todos devem ‘apertar o cinto’. Em 2013, o
Governo Letta e, em 2014, o Governo Renzi confirmam o empenho da Itália no
programa F-35.
O custo
real dos 90 caças F-35 é, em 2017, ainda mais inquantificável. É certo que,
pelo menos, supera os 10 biliões de euro, a que se juntam os custos (também
inquantificáves) das actualizações contínuas, acrescidas das operacionais. Como
termo de comparação, cada um dos 96 caças Eurofighter Typhoon das Forças Aéreas
Italianas custa mais de 100 milhões de euro e, cada hora de voo custa cerca de
40.000 euro, o equivalente ao salário anual de um trabalhador. Custos que saem
dos cofres públicos, aumentando uma despesa militar que, no ano de 2017, sob
para cerca de 70 milhões de euro por dia, destinadas a chegar aos 100 milhões
de euro/dia, como foi requerido pela NATO.
Como
reconhecimento da sua função, a Itália é o primeiro país a receber, depois dos
USA, o novo caça da quinta geração: o primeiro F-35 chega à base de Amendola
(Foggia), em 12 de Dezembro de 2016. Dá início à instalação em Itália, dos
novos caças americanos projectados para usar a nova bomba nuclear americana
B61-12. Os pilotos italianos e europeus são treinados para pilotar os caças
F-35 em três centros nos EUA:na base da U.S. Air Force de Eglin, na Florida e
Luke no Arizona, e na dos Marines em Beaufort, na Carolina do Sul. O orçamento
do Pentágono para 2018, traz rumores de despesas menores, mas não menos
importantes; estabelece 27 milhões de dólares para a base de Aviano, para obras
de ampliação, devido à instalação dos F-35 e das bombas nucleares B61-12.
No
orçamento do Pentágono para 2018, estão também atribuídos 65 milhões de dólares
para o programa de pesquisa e desenvolvimento de um «novo míssil com base em
terra, de raio intermédio, para começar a reduzir a lacuna de capacidade
provocada pela violação russa do Tratado INF». Por outras palavras, os Estados
Unidos têm um programa para instalar na Europa, mísseis nucleares análogos aos
Pershing II e aos mísseis de cruzeiro dos anos oitenta, estes últimos também
instalados em Itália, em Comiso.
9.4
A desatracagem da Itália da máquina de guerra USA/NATO, para uma Itália
soberana e neutra, liberta de armas nucleares
A Itália
assinou, em 1969 e ratificou, em 1975, o Tratado de Não-Proliferação de
Armas Nucleares que, no Artigo 2 estabelece: «Cada um dos Estados militarmente
não nucleares, que seja Parte do Tratado, compromete-se a não receber de quem
quer que seja, armas nucleares ou outros dispositivos, nem o controlo sobre
essas armas e engenhos explosivos nucleares, directa ou indirectamente».
Esse
compromisso é iludido pelo facto da Itália fazer parte da NATO, a qual,
no Conceito
Estratégico de 2010 , adoptado pela Cimeira de Lisboa,
estabelece: « A garantia suprema da segurança dos Aliados é fornecida pelas
forças nucleares estratégicas da Aliança, particularmente, as dos Estados
Unidos; as forças nucleares estratégicas independentes, do Reino Unido e da
França, que têm a sua própria função de dissuasão, contribuem para a dissuasão
e para a segurança total dos Aliados».
Dentro
da NATO, a Itália faz parte do Grupo de planificação nuclear, formado pelos
Ministros da Defesa de todos os países membros, excepto o da França, que se
encontram regularmente para discutir e decidir (sempre à porta fechada) sobre
as questões específicas da política nuclear da Aliança.
Ao mesmo
tempo, a Itália faz parte, no interior da NATO, do grupo de países que
«fornecem à Aliança, aviões de dupla capacidade, disponíveis para as funções
nucleares». A NATO especifíca que «na sua função nuclear, estes aviões estão
equipados para transportar bombas nucleares e o pessoal está instruído para
esse fim», mas que «os Estados
Unidosmantém o controlo absoluto e a guarda das armas nucleares associadas».
Deste modo, a NATO admite, oficialmente, que os Estados Unidos fornecem armas
nucleares aos paises membros da Aliança não nucleares, violando o Tratado de
Não-Proliferação das Armas Nucleares, assinado pelos Estados Unidos em 1968 e
ratificado em 1970, cujo Artigo 1 estabelece:«Cada um dos Estados militarmente
nucleares, que seja Parte do Tratado, compromete-se a não transferir a quem
quer que seja, armas nucleares ou outros dispositivos nucleares explosivos ou o
controlo dessas armas e engenhos explosivos, directa ou indirectamente».
O facto
de que os pilotos italianos são treinados para o ataque nuclear sob comando USA
– segundo confirma a FAS – é demonstrado pela presença em Ghedi do 704th
Munitions Support Squadron, uma das quatro unidades da U.S. Air Force
deslocada nas bases europeias (além disso, em Itália, na Alemanha, Bélgica e
Holanda) «onde as armas nucleares USA estão destinadas a ser lançadas pelos
aviões dos países hospedeiros». Os pilotos dos quatro países europeus e os
pilotos turcos, já peritos no uso da bomba B-61, são agora preparados nos
centros de treino, nos EUA, para usar a B61-12. A sua preparação é completada
com a Steadfast Noon, o exercício anual de guerra nuclear da NATO,
ocorrido em 2013, em Aviano e em 2014, em Ghedi.
A Itália
– que não só faz parte do Grupo de planificação Nuclear, mas é um dos países
que fornecem à NATO, aviões e pilotos para o ataque nuclear – não pode tomar
decisões autónomas, em contraste com o Conceito Estratégico 2010, que ela
própria aprovou na Cimeira de Lisboa. O Conceito Estratégico estabelece que «as
armas nucleares constituem uma componente fundamental da capacidade de
dissuasão e defesa da NATO, juntamente com as forças convencionais e de defesa
missilística». O mesmo «compromete a NATO a lutar pelo objectivo de criar as
condições para um mundo sem armas nucleares, mas confirma que, enquanto houver
no mundo armas nucleares, a NATO permanecerá
uma aliança nuclear».
Isto
explica a posição assumida pela Itália a respeito do Tratado
sobre a Proibição de Armas Nucleares, votado pela maioria, nas Nações
Unidas, em 7 de Julho de 2017. Exprimindo profunda preocupação pelas consequênciqs
humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e reconhecendo a
necessidade consequente de eliminar completamente essas armas, o Tratado
compromete os Estados aderentes a não produzir nem possuir armas nucleares, a
não usá-las, nem ameaçar usá-las, a não transferí-las nem a recebê-las, directa
ou indirectamente. Este é o ponto fundamental de força do Tratado, que visa
crear «um instrumento juridicamente vincolativo para a proibição das armas
nucleares, que conduza à sua eliminação total».
O
Tratado é votado em 2017 por uma maioria de 122 Estados, entre os quais a
Austria, Bangladesh, Bolívia, Brasil, Cuba, Indonésia, Irão, Iraque, México,
Myanmar, Nigéria, Nova Zelandia, Peru, Africa do Sul, Suécia, Suiça e
Venezuela. O Tratado - que para entrar em vigor tem de ser assinado e
ratificado por 50 Estados – é apenas vinculativo para os Estados que aderem ao
mesmo e não os proíbe de fazer parte de alianças militares com Estados que
possuem armas nucleares. Além do mais, cada um dos Estados aderentes «tem o
direito de retirar-se do Tratado, se decidir que acontecimentos extraordinários
relativos à matéria do Tratado possam colocar em perigo os supremos interesses
do próprio país». Formula vaga que permite em qualquer momento a qualquer Estado
Aderente romper o acordo, dotando-se de armas nucleares.
O maior
limite consiste no facto de que não adere ao Tratado nenhum dos Estados que
possuem armas nucleares: os Estados Unidos e as duas outras potências nucleares
da NATO, França e Grã-Bretanha, que possuem globalmente 7.000 ogivas nucleares;
a Rússia que possui outro tanto; a China, Israel, Índia, Paquistão e Coreia do
Norte, com arsenais menores mas nem por isso, desprezíveis. Não aderem ao
Tratado os outros membros da NATO, em particular a Itália, a Alemanha, a
Bélgica, a Holanda e a Turquia, que albergam bombas nucleares dos Estados
Unidos da América. A Holanda, depois de ter participado nas negociações,
esprime um parecer contrário no momento da votação. Não aderem ao Tratado,
globalmente, 73 Estados membros das Nações Unidas, entre os quais surgem os
principais parceiros dos USA/NATO: Ucrânia, Japão e Austrália.
Não
obstante esses limites, o Tratado das Nações Unidas sobre a Proibição das Armas
Nucleares, constitui um marco sobre a única maneira viável de acabar no baralho
da guerra nuclear. «Pelo seu empenho em chamar a atenção para as
consequências catastróficas humanitárias de qualquer uso de armas
nucleares e pelos seus esforços inovadores para uma proibição dessas armas com
base num tratado», a International Campaign to Abolish Nuclear
Weapons (ICAN), uma coligação de organizações não-governamentais de
uma centena de países, é distinguida com o Prémio Nobel da Paz, em 2017.
O
Tratado é aberto às assinaturas, no Palácio de Vidro, em New York, em 20 de
Setembro de 2017. No dia anterior, na Câmara dos Deputados, em Roma, é
aprovada uma moção que compromete o governo a «continuar a perseguir o
objectivo de um mundo sem armas nucleares através da centralidade do Tratado de
Não-Proliferação, avaliando, de forma compatível com as obrigações assumidas na
Aliança Atlântica, a possibilidade de aderir ao Tratado para vetar as armas
nucleares, aprovado pela Assembleia Geral da ONU». O Governo exprime «parecer
favorável» sobre a moção, mas no dia seguinte, com os outros 28 membros do
Conselho do Atlântico Norte, rejeita na totalidade e ataca o Tratado sobre a
Proibição das Armas Nucleares.
O Conselho do
Atlântico Norte, na Declaração de 20 de Setembro de 2017, sustenta que «um
Tratado que não compromete nenhum dos Estados possuidores de armas nucleares
não será eficaz, não aumentará a segurança nem a paz internacionais, mas
arrisca-se a fazer o oposto, criando divisões e divergências». Também
esclarece, sem meias palavras, que «não aceitaremos nenhum argumento contido no
Tratado». Anuncia, igualmente, que «iremos intimar os nossos parceiros e todos
os países que tencionarem apoiar o Tratado, a reflectirem seriamente nas suas
implicações» (leia: entraremos em contacto para que não o assinem nem o
ratifiquem).
O
Conselho do Atlântico Norte desautoriza, portanto, os parlamentos nacionais dos
países membros, privando-os da soberania de deciderem autonomamente se devem
aderir ou não, ao Tratado das Nações Unidas sobre a Abolição das Armas
Nucleares.
Isto
colaca em termos muito claros a questão essencial: como é possível fazer
qualquer coisa, em Itália, para desactivar a escalada nuclear e contribuir para
a eliminação completa das armas nucleares, permanecendo numa Aliança que vos
priva da soberania de decidir sobre uma questão
de importância fundamental e que confia a nossa
«segurança» à «garantia suprema fornecida pelas forças nucleares estratégicas
da Aliança, particularmente as dos Estados Unidos»?
Em
essência, levanta a questão da Itália pertencer à NATO. Há quem diga que se
pode permanecer na NATO, mantendo a sua autonomia de escolha, ou seja, tendo a
possibilidade de decidir, de vez em quando, no parlamento nacional, se deve
participar ou não, numa determinada iniciativa da Aliança Atlântica. Ilusão ou
pior que isso. No Conselho do Atlântico Norte, as normas da NATO estabelecem:
«Não há voto nem decisão maioritária», mas «as decisões são tomadas por
unanimidade e de comum acordo», ou seja, de acordo com os Estados Unidos da
América, a quem pertence, por direito, o cargo de Comandante Supremo Aliado na
Europa e os outros comandos chave, compreendendo o do Grupo de Planificação
Nuclear da NATO. Entre as muitas variantes de tal ilusão existe a dos F-35
americanos, aviões projectados para o ataque nuclear, sobretudo com bombas B
61-12, para cujo uso já se estão a preparar os pilotos italianos, para que
possam ser usados pela Itália, com uma espécie de segurança que impeça o uso de
armas nucleares.
No
grande espectáculo mediático da política, os ilusionistas e os funâmbulos
exibem-se, participando em marchas pela paz e assinando apelos para um mundo
sem armas nucleares, ou seja, para algo que actualmente é impossível, mas não
fazem nada para realizar o que hoje seria possível: uma batalha decidida para
libertar a Itália de armas nucleares, que não servem a nossa segurança mas que
nos expõem a riscos crescentes. É o único modo, através do qual, em Itália, se
pode realmente contribuir para desarmar a escalada que conduz à guerra nuclear,
concretizando um verdadeiro passo em frente para a eliminação total das armas
nucleares.
Para
fazê-lo, é necessário bater-se em campo aberto, para que a Itália cesse de
violar o Tratado de Não-Proliferação. Impondo aos EUA para que removam
imediatamente as suas armas nucleares do nosso território nacional e, ao mesmo
tempo, para que a Itália, ao libertar-se, adira ao Tratado das Nações Unidas
sobre a proibição das Armas Nucleares. Mesmo que não houvesse tratado
vinculativo, este seria o objectivo pelo qual lutar.
Os
princípios da Constituição italiana e os verdadeiros interesses nacionais tornam
indispensável a remossão do nosso território nacional não só das armas
nucleares, mas das bases USA e das bases NATO sob comando USA, as quais, além
de ter a função de projectar forças convencionais em acções ofensivas para o
Sul e para Leste, têm a função de poder lançar um ataque nuclear das posições
avançadas, situadas no nosso país, tornando-o um alvo prioritário de uma
inevitável retaliação nuclear.
Por
outras palavras, deve quebrar-se o Grande Tabú que domina o mundo político e
institucional, indicando claramente o objectivo a atingir: a saída da
Itália da NATO e a saída da NATO de Itália, para contribuir para a dissolução
da Aliança Atlântica e de qualquer outra aliança militar. Objectivo
considerado louco pelos que acreditam que a Aliança Atlântica é qualquer coisa
sagrada e intocável; considerado perigoso por quem sabe que, colocando-se
contra a NATO, põe em risco a sua carreira política; considerado impossível por
quem pensa que não pode existir uma Itália soberana e neutra.
Os
obstáculos que se interpõem à realização desse objectivo são gigantescos. O
Poder dominante baseia a sua força não só nos instrumentos políticos,
económicos e militares, mas sobre o controlo da mente, propósito possível
através de um aparelho mediático globalmente difundido que, sobretudo através
da televisão, induz a acreditar que existe apenas aquilo que se vê e não existe
o que não se vê.
O
controlo da mente através do aparelho mediático dominante permite, por um lado,
tranquilizar a opinião pública escondendo as ameaças reais, por outro lado,
alarmá-la, fazendo abrir, de vez em quando, hologramas de inimigos perigosos
(hoje novamente o adversário russo, personificado por Putin), para, deste modo,
justificar políticas de rearmamento, operações militares e guerras. E,
sempre em função do controlo da mente, acreditar-se no espectáculo de que,
depois de ter sustentado as guerras que demolindo Estados na totalidade (o
último, o Estado da Líbia), provocaram êxodos de massas, hoje estão na primeira
fila para acolher de braços abertos, as vítimas dessas mesmas guerras.
A grande
maioria não sabe mesmo nada ou quasi nada, dos mecanismos que determinam a
sempre, cada vez mais rápida escalada de guerra, tornando sempre mais
real o
cenário da terceira (e última)guerra mundial: a guerra termonuclear.Fala-se
nos círculos restritos dos «viciados no trabalho», no «sal e pimenta» (em
referência à cor do cabelo) dos quais os jovens estão em grande parte
ausentes. Trata-se de sair do fechado, encontrando formas e idiomas
para fazer compreender que o tempo se está a esgotar, que é necessário
movermo-nos enquanto estamos a tempo. Por outras palavras, levar as
pessoas a reagir, como baseados no institnto de sobrevivência reagiriam os
habitantes de um condomínio se vissem que alguém acumular explosivos no porão
de arrumos comum. Pelo contrário, quase ninguém reage, porque a maioria
desconhece ou não sabe do que se trata, enquanto os Estados Unidos acumulam
explosivos nucleares debaixo dos nossos pés.
O que
devemos fazer, está nas mãos de cada um de nós. É necessário que cada um faça
qualquer coisa, mesmo que seja pequena, mas que seja real, para trazer de volta
o relógio do Apocalipse. É o caminho obrigatório através do
qual passa cada escolha para o futuro. O relógio do Apocalipse está a
assinalar, apenas, as horas de um mundo sem futuro.
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