A media corporativa, em Portugal, como nos outros países, toma a atitude
preguiçosa e convencional de «culpar» a pandemia do Covid-19 pelo colapso de
todas as economias, mesmo das que não estão (por enquanto) afectadas por um
número de casos significativo.
Sim, estou de acordo em apontar a crise sanitária desencadeada em Wuhan,
como o «Cisne Negro» que fez ruir o castelo de cartas em que se tornaram a
economia e finança mundiais.
A Itália foi somente o primeiro país
europeu a sofrer gravemente com o vírus
Mas o Corona vírus NADA tem que ver com o facto de que os EUA estão
sobre-endividados a todos os níveis: governo, empresas, famílias.
Nem que a China, o Japão e a União Europeia estejam sobre-endividados ao
nível dos governos e das empresas.
Os bancos dos EUA, como da UE, estão fortemente sobre pressão pelos
activos «tóxicos» que possuem (empréstimos «suprime» principalmente), os quais
estão potenciados pelos derivados associados a estes activos. São estes activos
que se estão a deteriorar em valor rapidamente, que ninguém quer, a não ser os
bancos centrais que se transformaram, de emprestadores de último recurso, nos
únicos e exclusivos compradores de tais activos.
A recessão começou bem antes das notícias sobre o
coronavírus terem começado a aparecer. De facto, podemos datá-la precisamente
com o acontecimento anómalo e alarmante do mercado dos empréstimos no muito curto prazo ter
atingido juros exorbitantes, da ordem dos 10%, no dia 17 de Setembro de 2019.
Foi isso que levou o banco central dos EUA (FED) a intervir neste mercado «repomarket» e com somas
altíssimas, fazendo o papel que antes era o dos bancos comerciais.
O gráfico acima, oriundo do FED, mostra que os bancos começaram a perder
as suas reservas excedentárias logo que parou o «QE», porque tinham de atender
às más apostas nos empréstimos e derivados a estes associados.
O Covid-19 apenas precipitou o inevitável: a economia
mundial já estava a deslizar
para uma recessão bem séria, já se estava deteriorando muito
depressa.
O mercado bolsista é como a espuma acima do Oceano. Algumas vezes, ele
indica um substrato forte, uma economia geral em crescimento, mas outras
vezes não.
Neste caso, estava sendo sistematicamente puxado para cima devido
às auto-compras das grandes empresas cotadas, ao constante despejar de divisas
com a criação monetária dos bancos centrais, devido também à propaganda dos
media e dos governos, apenas interessados em gerir sua imagem, com
vista a serem reeleitos, com prejuízo para a saúde económica de médio e longo
prazo, nos respectivos países.
Por fim, o facto da economia mundial ser incapaz de suportar um impacto
exterior que, tudo somado, não é assim tão estranho, pois epidemias existiram
em toda a História da Humanidade, mostra como tem sido artificial e
desequilibrada a construção dos sistemas económico e
financeiro.
O Covid-19 foi o revelador, que pôs a nu a parasitagem do
mundo globalizado, em que o capital financeiro é predador sobre a generalidade
das pessoas e dos outros capitalismos - agrário, industrial, comercial - que
subsistem, mas sob forma subordinada ao sistema da grande
banca mundial, que conta com o apoio indefectível dos bancos centrais e dos
governos, nos países do «Ocidente».
Não podemos saber durante quanto tempo este estado de coisas vai durar.
No entanto, parece-me claro que o Covid-19 será derrotado muito mais
depressa que esta finança parasita.
Com efeito, não tardará muito que seja construída uma vacina e
distribuída em larga escala, para derrotar a pandemia mundial.
Pelo contrário, não existe nada equivalente para estancar ou curar a
doença que afecta a economia mundial.
O capitalismo globalizado é um parasita interno das sociedades: tornou-se
tão invasivo das suas estruturas, que a destruição do parasita arrisca causar a
ruptura do próprio organismo social.
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