Thursday, May 9, 2019

Os termos do plano de Trump para o “Acordo do Século” segundo um jornal israelita


Trump's Deal - Cartoon [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]
Os pontos principais do muito desprezado plano do presidente dos EUA, Donald Trump para o Médio-Oriente, o chamado «acordo do século», foram revelados ontem por um jornal de Israel publicado em hebreu. O «Israel Hayom» publicou os pontos principais da proposta de acordo do documento interno do ministério israelita dos negócios estrangeiros.
Os EUA tinham dito que iriam revelar o seu conteúdo após o mês do Ramadão, o jejum muçulmano ter terminado no início de Junho.
Os pontos principais da proposta de acordo, construída com a colaboração do genro de Trump, Jared Kushner – que tem muitos investimentos em Israel e inclusive nos colonatos – foi proposta pela administração Trump nos seguintes termos:
Será assinado um acordo tripartido entre Israel, a OLP e o Hamas e um Estado Palestiniano será estabelecido, que se chamará «Nova Palestina», cuja área ocupará a Margem Ocidental e Gaza, com excepção dos colonatos. Israel iria gradualmente libertar os prisioneiros palestinianos no decurso de três anos, segundo o acordo.
Os colonatos na Margem Ocidental ocupada, que são ilegais segundo a lei internacional, iriam tornar-se parte de Israel.
Jerusalém não seria dividida, mas seria partilhada entre Israel e a «Nova Palestina», com Israel mantendo o controlo geral.

Os palestinianos vivendo em Jerusalém seriam cidadãos do Estado da Palestina mas Israel continuaria como responsável do município e portanto da terra. O recém-formado Estado palestiniano pagaria taxas à municipalidade israelita por forma a ser o responsável pela educação, na cidade, dos palestinianos.
O status quo dos locais sacros irá permanecer e os judeus israelitas não serão autorizados a comprar casas palestinianas e vice-versa.
Partition of Jerusalem? Let my people in! - Cartoon [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]
Divisão de Jerusalém? Deixem o meu povo entrar! – Cartoon [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]
  • O Egipto irá oferecer terras ao novo Estado palestiniano, para construção de um aeroporto, de fábricas e terrenos para agricultura, que servirão a faixa de Gaza. Os palestinianos não serão autorizados a residir nestas terras.
  • Uma auto-estrada seria construída para ligar Gaza à Margem Ocidental, a 30 metros acima de Israel.  O financiamento do projecto seria sobretudo da China, que pagaria 50 por cento do custo, com a Coreia do Sul, a Austrália, o Canadá os EUA e a UE, cada um pagando 10 por cento.
Os garantes do acordo
Os EUA, os Estados do Golfo e a UE iriam financiar e ser os garantes do acordo durante cinco anos para instalar o Estado da «Nova Palestina», segundo o documento revelado.
Isto iria custar milhares de milhões de dólares por ano; a maior parte dos quais – 70 por cento – seriam pagos pelos Estados do Golfo, com os EUA contribuindo em 20 por cento e a UE em 10 por cento.
When the Arab World sells the Holy City - Cartoon [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]
Quando o Mundo Árabe vende a Cidade Santa – Cartoon [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]
  • A «Nova Palestina» não seria autorizada a criar um exército mas poderia manter uma força de polícia.  Em compensação, um acordo de defesa será assinado entre Israel e a «Nova Palestina», no qual Israel iria defender o novo Estado de qualquer ataque estrangeiro.
  • Ao assinar este acordo, o Hamas irá entregar todas as suas armas ao Egipto. Os líderes do movimento iriam ser compensados e salários iriam ser pagos pelos Estados Árabes, enquanto o governo estivesse em instalação.
  • Haveria eleições no prazo de um ano, após a criação do Estado da «Nova Palestina».
  • Todos os postos de fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egipto iriam permanecer abertos a pessoas e mercadorias e os palestinianos poderiam usar portos aéreos e marítimos de Israel.
  • A “Nova Palestina” terá dois postos de fronteira com a Jordânia, que estarão sob controlo das autoridades da «Nova Palestina».
  • O Vale do Jordão permanecerá em mãos de Israel e uma via de quatro faixas com portagens seria construída ao seu longo.
Que «senões»?
  • Se o Hamas ou qualquer entidade palestiniana recusa este acordo, os EUA irão cancelar todo o apoio financeiro aos palestinianos e pressionarão os outros países a fazer o mesmo.
  • Se, por outro lado, o Presidente da Autoridade Palestiniana Mahmoud Abbas assinar o acordo mas o Hamas e a Jihad Islâmica não concordarem com ele, uma guerra seria lançada na Faixa de Gaza com pleno apoio dos EUA.
  • No entanto, se Israel recusar o acordo, os EUA iriam cessar o seu apoio financeiro. Os EUA pagam, actualmente, 3,8 mil milhões de dólares por ano, para apoiar Israel.
(Traduzido por Manuel Banet Baptista*, para o Observatório da Guerra e Militarismo)
[*Nota do tradutor: Parece-me que neste plano é demasiado evidente a preocupação de forçar o lado fraco a ceder e aceitar um pseudo-Estado, um «bantustão», sem autonomia real. Além disso, numerosas cláusulas anulam direitos do povo palestiniano, reconhecidos pela ONU. Pode ser que esta «fuga» seja uma espécie de operação psicológica, condicionando a opinião pública e futuros interlocutores, admitindo que venham a abrir-se negociações.]

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