Monday, November 21, 2016

Thierry Meyssan -- Será que Trump poderá ser bem sucedido ?



Será que Trump poderá ser bem sucedido ?

Se bem que a imprensa atlantista insista em projectar sobre Donald Trump os debates artificiais que Hillary Clinton impôs durante a campanha eleitoral pela presidência dos Estados Unidos e se multipliquem os apelos para assassinar o presidente eleito, este último prepara-se para mudar o paradigma, deitando abaixo a ideologia puritana que domina o seu país, há dois séculos. Mas, poderá consegui-lo?

 | DAMAS (SYRIE)  



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Donald Trump e o generral Michael T. Flynn

A imprensa internacional tenta convencer-nos de que os eleitores de Donald Trump expressaram, com os seus votos, uma revolta dos “Brancos Pobres” contra as elites. Na realidade o que essa imprensa faz é prolongar o discurso de Hillary Clinton que os eleitores dos Estados Unidos acabam de rejeitar. Esses meios de comunicação negam-se a aceitar o facto de que a clivagem actual dos Estados Unidos, não tem nada a ver com os temas que ela privilegiou durante a campanha.

Contudo, todos vimos aparecer uma nova fenda, não entre os dois grandes partidos dos Estados Unidos, mas dentro deles. Inúmeros líderes republicanos apoiaram a senhora Clinton, enquanto alguns líderes democratas apoiaram Trump. De facto, o próprio Bernie Sanders acaba de oferecer os seus serviços ao presidente eleito. Simultaneamente, a análise do resultado da votação por categorias comunitárias (mulheres, hispanos, negros, muçulmanos, homossexuais, etc.) deixou de ter sentido. Apesar de nos repetirem, vezes sem conta, que votar por Donald Trump era votar pelo ódio às minorias, pelo menos uma terceira parte delas votou a favor dele.l

Alguns jornalistas tentam apoiar-se no antecedente do Brexit, quando o resultado do referendo britânico deixou todos surpreendidos e totalmente incapazes de explicá-lo. Se a análise se fizesse com base nos antecedentes estrangeiros, teríamos, pelo menos, que ter em consideração, os resultados eleitorais surpreendentes do actual Presidente da India, Narendra Modi e do actual Presidente Rodrigo Dutertre, nas Filipinas, (uma ex-colónia dos Estados Unidos).

Apesar do que a propaganda continua a afirmar, os britânicos não votaram contra os europeus, os indianos não votaram contra os muçulmanos e os filipinos não votaram contra os chineses. Pelo contrário, cada um desses três povos está a tratar de salvar a sua cultura e de viver em paz. Ainda que o actual Presidente indiano, Narendra Modi, seja responsável pelos motins antimuçulmanos em Gujarat, agora estendeu a mão ao Paquistão, convencido de que os problemas entre a Índia e esse país, foram organizados e alimentados pelas potências coloniais. O mesmo sucede nas Filipinas, onde o presidente Rodrigo Dutertre surpreendeu todos, ao aproximar-se do “inimigo chinês”.

Há varias semanas expliquei, através desta mesma coluna [1], que, aquilo que hoje divide os Estados Unidos não são os antecedentes étnicos, nem sociais, mas sim a ideologia puritana. Se a minha explicação estiver correcta, seremos testemunhas de uma luta existencial dos partidários dessa ideologia contra a administração Trump. Todas as iniciativas do novo presidente serão sabotadas de forma sistemática. Neste momento, as manifestações contra o resultado da eleição e a ampla cobertura que os grandes meios de comunicação lhes reservaram, demonstram que os perdedores não irão respeitar as regras da Democracia.

Em vez de pensarmos em tirar partido da administração Trump, devemos interrogar-nos sobre a maneira como poderemos ajudá-la a libertar o país do seu próprio imperialismo, de pôr fim ao mundo unipolar e à “doutrina Wolfowitz”, de acabar com os conflitos e substituí-los pela cooperação.

Enquanto a imprensa dos Estados Unidos especula sobre a nomeação de personalidades da administração Bush na futura administração Trump, devemos antecipar o papel político que irão desempenhar os quadros comerciais da Trump Organisation (organização Trump), os únicos em que o novo presidente poderá confiar.

E ainda devemos ter em conta o papel que o General Michael T. Flynn pode desempenhar, pois apesar de ser democrata, foi o principal conselheiro do candidato Donald Trump, em matéria de política exterior e de defesa. Na qualidade de Director dos Serviços Secretos das Forças Armadas dos Estados Unidos, desde a Conferência de Genebra 1 e até à conquista do Iraque pelo Emirato Islâmico (Daesh), o general Michael T. Flynn, lutou constantemente contra o Presidente Obama, contra a Secretária de Estado, Hillary Clinton, contra os generais Davis Petraeus e John Allen, assim como, contra o Secretário Geral Adjunto da ONU, Jeffrey Feltman, todos empenhados em continuar a recorrer aos jiadistas e ao terrorismo, para manter a hegemonia do imperialismo de Estados Unidos. Quer seja nomeado Conselheiro Presidencial para a Segurança Nacional, Director da CIA, ou Secretário de Defesa, será o melhor aliado da paz no Levante.

[1] « Les États-Unis vont-ils se réformer ou se déchirer ? », par Thierry Meyssan, Al-Watan (Syrie), Réseau Voltaire, 25 octobre 2016.
[2] « De militaire à militaire », par Seymour M. Hersh, London Review of BooksRéseau Voltaire, 18 janvier 2016.
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