Tuesday, October 18, 2016

Thierry Meyssan -- O Preço da Despromoção


JORNAL DA MUDANÇA DA ORDEM MUNDIAL #11
 Thierry Meyssan
Washington tenta manter a sua posição  sem ter de desencadear a Terceira Guerra Mundial. No entanto, parece ser impossível manter essa aposta. Moscovo oferece-lhe uma porta de saída na Síria e no Iémen. Mas, se os Estados Unidos escolhessem essa via, teriam de abandonar alguns dos seus aliados.
RÉSEAU VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 18 DE OUTUBRO DE 2016
ITALIANO  FRANÇAIS

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Uma águia de cabeça branca, símbolo dos Estados Unidos    

Depois da ruptura da cessação de hostilidades de Aïd, cava-se um fosso entre o ambiente despreocupado das sociedades ocidentais e a gravidade da sociedade russa e da chinesa.

Em Moscovo a televisão transmite reportagens sobre abrigos anti-atómicos  e equipas de jogos do * “percurso do combatente.”

Entretanto, em Washington, divertem-se com a paranóia dos russos que acreditam na possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. No entanto, estes países enviam mensagens, um ao outro, de pôr os cabelos em pé. Depois da ameaça dos Estados Unidos de atacar a Síria, Moscovo suspendeu o acordo sobre a limitação das reservas de plutónio e acertou o seu sistema de lançamento de bombas nucleares, lançando 3 mísseis intercontinentais. O porta-voz do Exército Russo avisou os seus homólogos e anunciou que o seu armamento estava preparado para destruir todas as aeronaves dos Estados Unidos, quer se tratasse de mísseis de cruzeiro ou de aviões furtivos. O Chefe do Estado Maior do Exército dos Estados Unidos retorquiu orgulhosamente que, em caso de guerra frontal,  a Aviação e a Marinha desses dois países seriam rapidamente neutralizadas e que Washington iria derrubá-las. O seu discurso bélico não impressionou os russos, mas inquietou os membros do Congresso americano, ao ponto de 22 congressistas escreverem ao Presidente Obama a pedir-lhe para se comprometer a não ser o primeiro a iniciar a guerra nuclear. Moscovo deu instruções aos seus diplomatas colocados nos países da NATO, para repatriarem as famílias e estarem preparados para regressar.

Outrora, os romanos asseguravam que “Se quiseres a paz, prepara a guerra!” (Si vis pacem, para bellum). A ideia é que, se houver um desentendimento internacional, a vitória será alcançada sem guerra, pelo país que pareça ser capaz de prevalecer pela força.


O facto é que a população russa está a preparar-se para a guerra (por exemplo, esta semana 40 milhões de russos participam em exercícios de evacuação de edifícios e luta contra incêndios), enquanto os ocidentais se divertem com ninharias nos centros comerciais.

Evidentemente, podemos esperar que a razão prevaleça e que evitemos uma Guerra Mundial. De qualquer forma, estas fanfarronadas asseguram que o que está em jogo, aqui na Síria, durante cinco anos, não é aquilo em que acreditamos. Se no início, para o Departamento de Estado, era a execução do plano da "Primavera Árabe", isto é, a derrubada dos regimes laicos na região e a substituição dos mesmos pela Irmandade Muçulmana, a Rússia e a China concluíram rapidamente que o mundo já não podia ser governado pelos Estados Unidos e que eles não poderiam decidir a vida e a morte dos povos.

Ao cortar a histórica estrada da seda, na Síria e depois, a nova rota da seda, na Ucrânia, Washington bloqueou o desenvolvimento da China e da Rússia. Empurrou-os para os braços um do outro. A resistência imprevisível do povo sírio forçou os EUA a pôr em jogo o seu domínio do mundo. O mundo, que se tornara unipolar em 1991, com a “Tempestade do Deserto”,  está a ponto de mudar e converter-se num mundo bipolar e talvez, a seguir, num mundo multipolar.

Em 1990-91, a mudança da ordem mundial ocorreu sem guerra (a invasão do Iraque não foi a causa, mas a consequência), mas à custa do colapso interno da União Soviética. O padrão de vida da ex-União Soviética caiu drasticamente; as sociedades tornaram-se profundamente desorganizadas; a riqueza nacional foi saqueada sob o pretexto de ser privatizada; a esperança de vida regrediu mais de 20 anos. Depois de termos acreditado que esta derrota era originada pela ruína do sistema soviético, sabemos hoje, que a queda da União Soviética também foi – e talvez,  acima de tudo - o resultado da sabotagem da economia russa levada a cabo pela CIA.

Não é impossível conseguir alcançar um novo equilíbrio global, sem haver uma confrontação generalizada. E, para evitar a Guerra Mundial, a querela entre John Kerry e Sergey Lavrov transferiu-se da batalha de Aleppo para um cessar-fogo geral, destinado a abranger a Síria e o Iémen. Por conseguinte, acaba de ser anunciado um cessar-fogo de 8 horas  em Aleppo e de 72 horas no Iémen.

A questão é que os Estados Unidos não podem recuar da posição inquestionável de primeira potência – da qual eles se apossaram e tão mal utilizaram -  para uma posição de igualdade com a Rússia, sem pagar um preço – eles (EUA) ou os seus aliados.

Por mais estranho que pareça, os cinco países árabes, a Turquia e o Irão, que foram convidados no sábado, em Lausana, por Kerry e Lavrov, saíram satisfeitos com a reunião. No entanto, tratava-se do seu futuro. Nenhum deles parece pensar que deverão cair chefias, como aconteceu com os líderes do Pacto de Varsóvia. Na situação actual, é possível evitar destruir uma parte da Humanidade, mas a importância do declínio dos Estados Unidos irá ser medida pelo número e pela importância dos aliados que eles irão sacrificar.



*Objectivos do jogo: Desenvolver a agilidade, a combatividade e a rapidez dos jovens. Favorecer o espírito de equipa e de adaptação.

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