Monday, May 30, 2016

Thierry Meyssan - G7, a Cimeira da hipocrisia ocidental


PARTE 1/2
Thierry Meyssan

As reuniões da cimeira G7, que eram originalmente simples conversas, totalmente informais entre líderes ocidentais, criaram o desejo do Grupo se transformar num governo mundial, antes de se afundarem e de se tornarem num exercício de comunicação. A cimeira de Ise-Shima passou em revista os problemas principais do mundo, definindo para cada um deles, os elementos da linguagem a empregar.

REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 30 DE MAIO DE 2016 http://www.voltairenet.org/squelettes/elements/images/ligne-rouge.gif

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A primeira reunião do G5 em Rambouillet (1975).

O G7 acaba de se reunir em Ise-Shima (Japão). Mas enquanto éramos inundados pelas [notícias] das cimeiras anteriores, esta cimeira actual foi apenas aflorada pela imprensa internacional. É que esta reunião mudou profundamente de objectivo.

Na sequência do primeiro choque petrolífero, em 1974, cinco ministros das Finanças (Alemanha Federal, França, Japão, Reino Unido, EUA) reuniram-se, sem ordem do dia, na biblioteca da Casa Branca, apenas para trocar pontos de vista. Foi o «Library Group».


Baseados neste modelo, os dois únicos sobreviventes deste grupo, Valéry Giscard d’Estaing, que se tornara Presidente da República Francesa e Helmut Schmidt, que se tornou Chanceler da Alemanha Federal, tomaram a iniciativa de convidar, no ano seguinte (1976 ), para o castelo de Rambouillet, os chefes de Estado e de Governo dos mesmos países e também da Itália, afim de trocar pontos de vista sobre as grandes questões do momento. Na altura, as cimeiras internacionais eram raras e extremamente formais. Este Grupo G6 contrastava, pela ausência de protocolo, pelo seu carácter simples, descontraído e amigável, numa atmosfera de clube privado. As discussões eram proferidas directamente em Inglês, sem tradutores. A reunião era anunciada no último momento. Não havia uma ordem do dia, nem jornalistas.

Em 1977, convidaram também o Primeiro Ministro do Canadá (G7), e a partir de 1978 o presidente da Comissão Europeia. Em 1994, o Presidente russo foi convidado e oficialmente integrado em 1997 (G8). Com efeito, os Ocidentais estavam convencidos de que, após o colapso da URSS, a Rússia estava prestes a juntar-se-lhes, de modo que eles iam criar em conjunto, um mundo unipolar e dominá-lo. Foi a época em que se constituiu uma classe dirigente transnacional com uma ambição sem limites. Essa mesma classe imaginava poder colocar de parte o Direito Internacional e substituir o Conselho de Segurança das Nações Unidas para governar o mundo sem qualquer contrôlo.

Em 2000, o G8 apoiou a proposta de Paul Wolfowitz e do Banco Mundial para anular a dívida dos países mais pobres. No entanto, havia uma pequena condição : esses mesmos países tinham de liberalizar totalmente a sua economia, a fim de que os grandes grupos multinacionais os pudessem pilhar sem restrições. Dos 62 países abrangidos, apenas 9 Estados aceitaram este engôdo. A tomada de posição do G8 deu origem a um movimento anti-globalização em todo o mundo. Aquando da cimeira seguinte, em Nápoles (2001), a repressão das manifestações provocou um morto. Então, foi decidido que, desse momento em diante, essas cimeiras se realizassem fora das grandes cidades, ao abrigo de uma protecção policial e militar importante. Poder-se-ia maquinar o que se desejasse, fora de olhares curiosos.

Mas, em 2013, as coisas correram mal : Vladimir Putin estava de regresso ao Kremlin e os ocidentais acabavam de reiniciar a guerra contra a Síria, apesar dos compromissos negociados por Kofi Annan e confirmados pelo Comunicado de Genebra. A Cimeira de Lough Erne transformou-se num confronto de 1 contra 7. Devia aplicar a sua atenção na luta contra os paraísos fiscais, mas a discussão foi açambarcada pela viragem ocidental contra a Síria. No ano seguinte (2014), após o golpe de Estado, em Kiev, a divisão da Ucrânia e a adesão da Crimeia à Federação da Rússia, a Alemanha constatou que a confiança entre os participantes estava dividida e que a reunião não podia realizar-se da forma habitual. Os ocidentais decidiram anular, precipitadamente, a sua participação na Cimeira de Sochi e reuniram-se, sem a Rússia, em Haia (Holanda). O G8 menos 1, voltava a ser o G7.

Há 42 anos, a Cimeira foi concluída por uma breve declaração, indicando os assuntos económicos que haviam sido abordados e sublinhando a coesão do bloco Ocidental. Rapidamente, os comunicados tornaram-se mais longos, afim de tranquilizar os investidores internacionais de que nenhuma decisão importante era considerada nesta reunião secreta. A partir do convite da Rússia e da chegada de inúmeros jornalistas, foi adicionada uma declaração política visando mostrar que o mundo se unia em torno de Washington. Depois, começou-se a publicar longas dissertações sobre o estado do mundo e sobre a boa vontade dos poderosos em melhorá-lo. Mas nunca nenhuma decisão foi tomada pelo G8 de maneira inequívoca. No máximo, anunciaram-se compromissos que se apressaram a esquecer (como erradicar a fome no mundo), ou promulgaram-se Cartas que se apressaram a violar (sobre as Fontes abertas, por exemplo).
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A partir de 2001, o G8, que se proclama como sendo um governo mundial paralelo às Nações Unidas, na realidade, torna-se numa reunião de concertação sem quaisquer desafios. Nesta fotografia, interdita para publicação em vários países, vê-se o presidente Dmitri Medvedev embriagado, na cimeira de 2011.
© Rede Voltaire


No que se tornou o G7

Dos nove membros oficiais do G7, 2 falam a dupla voz : os Estados Unidos podem contar com o Presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês, Jean-Claude Juncker, o qual teve de demitir-se das suas funções de Primeiro Ministro depois de ter sido revelada a sua ligação à Gládio (Serviço Secreto da OTAN). A Alemanha, por sua vez, apoia-se no presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, cuja família está ligada aos Merkel, desde o início da Guerra Fria.

Agora, o G7 é uma simples reunião de formatação. Os Estados Unidos e a Alemanha indicam o discurso que os seus vassalos são instados a proferir. Milhares de jornalistas assistem a esta grande missa. A Cimeira de Ise-Shima publicou, no final, uma longa declaração político-económica e seis documentos anexos que reflectem a linguagem das elites dos EUA. Tudo está perfeito, pelo menos na aparência – pois como iremos constatar - uma leitura aprofundada, mostra, pelo contrário, que essa declaração é escandalosa. Na introdução da declaração conjunta, os membros do G7 sublinham os valores comuns, dos quais os quatro principais são :
  • - a liberdade 
  • - a democracia 
  • - o estado de direito 
  • - o respeito pelos Direitos do Homem. 


Depois, afirmam a sua capacidade de garantir 

  • - a paz 
  • - a segurança 
  • - a prosperidade do mundo. 


Por fim, designam como prioridade : 

  • - o crescimento económico global.


Até uma criança compreende facilmente que, ao afirmar que a sua prioridade é o crescimento económico global, estas «personagens importantes » estão a borrifar-se para os ideais e para os objectivos que proclamam.

(Continua…)
Tradução
Alva

Adaptação para português europeu
Maria Luísa de Vasconcellos

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